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    Minha História

    'Reconheci o nome e chorei', diz outra vítima de suspeito de abuso em ônibus

    NATÁLIA PORTINARI
    DE SÃO PAULO

    01/09/2017 02h00

    RESUMO Um dia depois de prestar depoimento sobre o abuso que sofreu em um ônibus, a estudante L.P.L., 24, viu a ofensa de que foi vítima se repetir, pelas mãos do mesmo agressor.

    Ela soube que Diego Ferreira de Novais, 27, foi detido como suspeito de ter ejaculado em uma mulher em um ônibus na avenida Paulista, na tarde desta terça-feira (29).

    Em março, a jovem afirmou à polícia que o mesmo homem esfregou o pênis em seu braço, também no transporte público, na mesma avenida.

    Ela foi a 14ª mulher a fazer uma ocorrência no 78º DP, nos Jardins (zona sul de SP) contra Novais por abuso sexual. Nesta semana, os registros contra ele chegaram a 17. Dez deram origem a processos judiciais.

    Apesar disso, o delegado não pediu a prisão preventiva de Novais.

    Giovanni Bello/Folhapress
    A estudante L.P.L., que sofreu abuso, em março, dentro em ônibus na região da av. Paulista, em SP
    A estudante L.P.L., que sofreu abuso, em março, dentro de ônibus na região da av. Paulista, em SP

    *

    Foi em março, quando estava voltando para casa da USP (Universidade de São Paulo), onde curso ciências sociais. Às 20h30, estava entre o ponto de ônibus do Trianon-Masp e o prédio da Gazeta, na avenida Paulista.

    Percebi que esse cara, sentado do outro lado do corredor [no ônibus], estava me olhando, e tapei meu decote com um livro, porque tive uma sensação ruim.

    Ele levantou, veio na minha direção, abriu o zíper da calça e esfregou o pênis no meu braço. Fiquei nervosa, mas não consegui gritar. Saí de perto, pulei a catraca e pedi para o motorista não deixar ele sair até chamar a polícia.

    O ônibus encostou, mas ele saiu correndo pela rua. Umas cinco pessoas correram atrás dele comigo. Um homem conseguiu segurar [o suspeito] e policiais chegaram para nos levar à delegacia.

    Uma mulher no ônibus me acompanhou, foi muito gentil comigo e me contou que já tinha passado por isso também, quando um homem ejaculou na sua saia no trem.

    Na delegacia, a escrivã me disse que, para ser registrado como estupro, deveria ter penetração [em 2009, no entanto, uma lei ampliou o entendimento de estupro para todo ato sexual mediante violência ou grave ameaça, mesmo sem penetração].

    Para a moça que estava comigo, perguntaram se ela tinha visto o pênis. Ela disse que não, e descartaram que ela pudesse ser testemunha. Os listados foram os policiais, que me encontraram já na rua.

    O caso foi denunciado como importunação ofensiva ao pudor, que é uma contravenção penal, menos que um crime [a pena prevista é apenas uma multa].

    Reprodução/TV Globo
    Suspeito de estupro dentro de ônibus na av. Paulista deixa delegacia após decisão da Justiça
    Suspeito de estupro dentro de ônibus na av. Paulista deixa delegacia após decisão da Justiça

    Na última segunda-feira (28), fui ao Fórum Criminal para prestar depoimento no Jecrim [Juizado Especial Criminal, de "pequenas causas"]. Cheguei com antecedência e sentei no corredor.

    Alguns minutos depois, um homem me reconhece e se aproxima de mim. "Oi, você é a vítima, certo? Sou o policial que te atendeu, fui chamado para depor como testemunha. Você tem a foto do acusado? Posso dar uma olhada?"

    "Claro." Procuro rapidamente no meu celular e mostro ao policial, que diminui o volume da voz. "Você viu que ele está em pé ali no corredor, de camiseta verde?"

    "Não. O promotor me garantiu que ele não viria no mesmo dia e horário para depor. Eu telefonei para o Ministério Público na sexta-feira para me certificar."

    Como achei que ele não estaria lá, até recusei quando minha mãe se ofereceu para me acompanhar, porque pensei que estaria segura.

    Ficamos em silêncio. O homem de camiseta verde senta a duas cadeiras de distância de mim. Depois de alguns minutos, incomodada, fui reclamar e me colocaram em uma sala separada.

    Uma funcionária disse que, por ser um juizado que recebe muitas brigas de torcida, recebem sempre vítimas e réus juntos, para tentar uma conciliação.

    Depois de esperar uma hora e meia, entrei em uma sala com o juiz, o promotor e a defensora do réu. Contei a história como se tivesse sido ontem.

    – Quando o acusado esfregou o órgão genital no seu braço, você chegou a ver?

    – Sim, olhei para o lado e vi.

    – O pênis estava ereto?

    – Eu não sei, não fiquei olhando.

    – Mas ele estava segurando o órgão?

    – Sim.

    Importunação ofensiva são essas perguntas que fazem, ou me colocar na mesma sala que o réu.

    MEDO

    Há seis meses, deixei de pegar a linha de ônibus em que aconteceu o assédio. Deixei de pegar qualquer linha de ônibus que passe próximo à residência do agressor.

    Passei a ter medo de voltar à noite de ônibus. Há seis meses, levanto do assento se um homem senta do meu lado. Há seis meses, tenho crise de pânico dentro do transporte público e volto correndo do ponto até minha casa. Há seis meses, tento ir o mínimo de vezes possível para a faculdade no período noturno. Há seis meses, evito sair à noite.

    Um dia depois do depoimento, recebi a notícia de que um novo caso tinha acontecido, e reconheci o nome dele. Não consegui parar de chorar. Até quando as mulheres vão sofrer violências assim?

    Até mesmo locais que deveriam acolher têm atendimento horroroso. Depois perguntam por que as mulheres não denunciam ou por que as denúncias são subnotificadas, ou por que poucas seguem em frente no processo.

    -

    VEJA OS CRIMES SEXUAIS COMETIDOS PELO SUSPEITO

    29.ago.2017
    Onde: em ônibus na avenida Paulista, 800
    Vítima: estagiária de 23 anos
    Natureza: estupro consumado
    Resumo: a vítima estava sentada quando o autor se masturbou e ejaculou no pescoço dela

    12.jun.2017
    Onde: em ônibus na avenida Paulista, 1394
    Vítima: estagiária de 20 anos
    Natureza: ato obsceno e importunação ofensiva ao pudor
    Resumo: o suspeito colocou o pênis para fora da calça e o encostou no ombro da vítima

    1º.mai.2017
    Onde: em um ônibus na alameda Santos com rua Augusta
    Vítima: mulher de 23 anos
    Natureza: importunação ofensiva ao pudor e ato obsceno
    Resumo: suspeito tirou o pênis para fora da calça e esfregou na mão da vítima

    02.mar.2017
    Onde: em ônibus na avenida Paulista
    Vítima: contadora de 24 anos,
    Natureza: importunação ofensiva ao pudor
    Resumo: o suspeito abriu o zíper, colocou o pênis para fora e esfregou no braço da vítima

    19.fev.2017
    Onde: em coletivo na avenida Paulista, 2073
    Vítima: auxiliar operacional de 22 anos
    Natureza: estupro tentado
    Resumo: suspeito esfregou o pênis na mão da vítima

    28.nov.2016
    Onde: Dentro de um ônibus na avenida Paulista, 570
    Vítima: Não identificada
    Natureza: Ato obsceno
    Resumo: Começou a se masturbar próximo de uma mulher

    21.nov.2016
    Onde: em vagão na estação Capão Redondo, da linha 5-lilás do metrô
    Vítima: adolescente de 17 anos
    Natureza: importunação ofensiva ao pudor
    Resumo: suspeito esfregou o pênis na vítima

    31.out.2016
    Onde: em ônibus na avenida Brigadeiro Luis Antônio, 4677
    Vítima: Não localizada
    Natureza: ato obsceno
    Resumo: suspeito esfregou o pênis em uma passageira

    25.nov.2014
    Onde: em ônibus na rua Domênico de Palma, Cidade Ademar
    Vítima: vendedora de 21 anos
    Natureza: ato obsceno e importunação ao pudor
    Resumo: suspeito passou a mão no cabelo da vítima, tentou passar a mão nos seios dela e ejaculou no ombro da vítima

    02.fev.2013
    Onde: em ônibus na avenida Washington Luis, 2455
    Vítima: operadora de 47 anos
    Natureza: estupro tentado
    Resumo: suspeito esfregou o pênis no braço da vítima

    01.ago.2012
    Onde: em transporte público na avenida Yervant Kissajikian, Americanópolis
    Vítima: assistente administrativa de 23 anos
    Natureza: importunação ofensiva ao pudor
    Resumo: não consta no termo circunstanciado

    17.out.2012
    Onde: em ônibus na rua Padre José Maria, em Santo Amaro
    Vítima: mulher de 27 anos
    Natureza: ato obsceno
    Resumo: suspeito retirou o pênis de dentro da calça e mostrou para a vítima

    11.fev.2011
    Onde: rua Floriano Peixoto, Sé
    Vítima: estudante de 22 anos
    Natureza: ato obsceno e importunação ofensiva ao pudor
    Resumo: não consta no termo circunstanciado

    06.abr.2011
    Onde: escada rolante estação Anhangabaú do metrô
    Vítima: gerente de 33 anos
    Natureza: ato obsceno e importunação ofensiva ao pudor
    Resumo: sem informações no termo circunstanciado

    30.nov.2011
    Onde: em ônibus na rua Amador Bueno, Santo Amaro
    Vítima: mulher de 27 anos
    Natureza: ato obsceno
    Resumo: sem informações no termo circunstanciado

    12.dez.2009
    Onde: em ônibus na praça Miguel Dell'erba, Lapa
    Vítima: mulher de 22 anos
    Natureza: ato obsceno
    Resumo: suspeito desceu a calça e mostrou o pênis para a vítima

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