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    Entidades defendem juiz que libertou homem em caso de estupro na Paulista

    PAULO GOMES
    DE SÃO PAULO

    01/09/2017 14h45 - Atualizado às 23h35

    Entidades de magistrados saíram em defesa nesta sexta-feira (1º) do juiz José Eugênio do Amaral Souza Neto, que libertou o homem que ejaculou em uma mulher na terça-feira (29) dentro de ônibus na avenida Paulista, na região central de São Paulo.

    A Apamagis (Associação Paulista de Magistrados) e o IDDD (Instituto de Defesa do Direito de Defesa) divulgaram notas em apoio à decisão do juiz e ao magistrado em si.

    Reprodução/TV Globo
    Suspeito de estupro dentro de ônibus na av. Paulista deixa delegacia após decisão da Justiça
    Suspeito de estupro dentro de ônibus na av. Paulista deixa delegacia após decisão da Justiça

    Souza Neto ganhou notoriedade após afirmar na decisão em que anuncia a liberação de Diego Ferreira de Novais, 27, na quarta (30), que "não houve constrangimento" no ato da ejaculação sobre a mulher. Novais tem registradas outras 15 passagens pela polícia por crimes sexuais.

    A delegada que fez o boletim de ocorrência considerou o flagrante como estupro. Ela também pediu a prisão preventiva de Novais. No entanto, o juiz classificou o ocorrido como importunação ofensiva ao pudor, que consta na Lei das Contravenções Penais (delitos menores), não no Código Penal, como o estupro.

    A pena, portanto, é mais branda, só uma multa. No estupro, são de seis a dez anos de prisão. O Código Penal configura estupro como "constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso."

    Casos como o de quarta, em que um homem foi detido por passar a mão no seio de uma mulher por cima da roupa, se enquadram mais frequentemente como importunação.

    Para o advogado criminalista Fernando Parente, o ponto que causou polêmica na decisão a menção ao "constrangimento". O entendimento de quem se revoltou, segundo Parente, foi de que o juiz afirmou que não houve constrangimento no ato, mas ele se referia ao texto do estupro na lei: constranger a vítima a ter conjunção carnal.

    "O constrangimento que ela sofreu foi consequência do ato. Ela não foi constrangida a fazer isso. Ele tê-la obrigado de alguma forma a masturbá-lo seria um constrangimento [que se enquadra na lei]. O que aconteceu é completamente constrangedor, mas do ponto de vista penal não é estupro e não cabe prisão", disse o advogado.

    A repercussão da decisão no país incluiu postagens em redes sociais de atrizes e apresentadoras em redes sociais, como Fernanda Lima e Adriane Galisteu, bem como das cantoras Daniela Mercury e Ivete Sangalo, todas se manifestando contrárias à decisão.

    Foi o Ministério Público –o acusador, no caso– que entendeu que o ato não configurava crime de estupro e pediu o relaxamento da prisão.

    O IDDD disse que "o Judiciário não pode ficar refém da onda punitiva, que teima em colocar juízes sob suspeita toda vez que decidem a favor do réu." O Instituto lembra também que o acusado ainda nem sequer foi julgado.

    O procurador Mário Sarrubbo, do Ministério Público, afirma haver a hipótese de se pedir uma avaliação da sanidade mental de Novais e, a partir daí, provavelmente, a aplicação de medida de segurança, como um curso de conscientização ou medida restritiva que o impeça de frequentar determinado espaço.

    MUDANÇA NA LEI

    Apesar de defender o magistrado e dizer que adotará medidas para reparação de danos, a Apamagis afirma que neste caso "há evidente descompasso entre a lei vigente e a realidade" e pede um debate sobre o tema no Congresso, para um aprimoramento da legislação.

    O IDDD também atacou a lei. "Por mais repugnante que possa ser a acusação, ao magistrado não cabia outra providência. Se a lei é omissa, não é papel do juiz ampliar seus limites", afirma.

    O Ministério Público, que aconselhou a liberação do acusado, emitiu comunicado em que diz haver dificuldade para enquadrar o fato e também sugeriu uma reforma que levasse a um tipo penal entre importunação e estupro.

    "Há a necessidade de de trabalharmos com uma infração intermediária, de criar um novo tipo penal que possa abraçar esse tipo de situação", afirma Sarrubo. "É repugnante esse comportamento. Todos nós exigimos uma resposta do Judiciário e, neste caso, mais do Legislativo."

    O Tribunal de Justiça diz que irá propor alterações que "tipifiquem com mais rigor atos dessa natureza", com base em debates nos próximos dias.

    Reportagem da Folha publicada nesta sexta (1º) mostrou o relato da 14ª vítima do suspeito. A estudante L.P.L., 24, disse que em março o mesmo homem esfregou o pênis em seu braço, também no transporte público, na mesma avenida.

    Ela registrou um B.O no 78º DP, nos Jardins (zona sul de SP) contra ele por abuso sexual. Apesar disso, o delegado não pediu a prisão preventiva do suspeito.

    Reprodução/Facebook/Caio Miranda Carneiro
    Policiais ao lado de ônibus onde homem abusou sexualmente de passageiros na avenida Paulista
    Policiais ao lado de ônibus onde homem abusou sexualmente de passageira na avenida Paulista

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    VEJA OS CRIMES SEXUAIS COMETIDOS PELO SUSPEITO

    VEJA OS CRIMES SEXUAIS COMETIDOS PELO SUSPEITO

    29.ago.2017
    Onde: em ônibus na avenida Paulista, 800
    Vítima: estagiária de 23 anos
    Natureza: estupro consumado
    Resumo: a vítima estava sentada quando o autor se masturbou e ejaculou no pescoço dela

    12.jun.2017
    Onde: em ônibus na avenida Paulista, 1394
    Vítima: estagiária de 20 anos
    Natureza: ato obsceno e importunação ofensiva ao pudor
    Resumo: o suspeito colocou o pênis para fora da calça e o encostou no ombro da vítima

    1º.mai.2017
    Onde: em um ônibus na alameda Santos com rua Augusta
    Vítima: mulher de 23 anos
    Natureza: importunação ofensiva ao pudor e ato obsceno
    Resumo: suspeito tirou o pênis para fora da calça e esfregou na mão da vítima

    02.mar.2017
    Onde: em ônibus na avenida Paulista
    Vítima: contadora de 24 anos,
    Natureza: importunação ofensiva ao pudor
    Resumo: o suspeito abriu o zíper, colocou o pênis para fora e esfregou no braço da vítima

    19.fev.2017
    Onde: em coletivo na avenida Paulista, 2073
    Vítima: auxiliar operacional de 22 anos
    Natureza: estupro tentado
    Resumo: suspeito esfregou o pênis na mão da vítima

    28.nov.2016
    Onde: Dentro de um ônibus na avenida Paulista, 570
    Vítima: Não identificada
    Natureza: Ato obsceno
    Resumo: Começou a se masturbar próximo de uma mulher

    21.nov.2016
    Onde: em vagão na estação Capão Redondo, da linha 5-lilás do metrô
    Vítima: adolescente de 17 anos
    Natureza: importunação ofensiva ao pudor
    Resumo: suspeito esfregou o pênis na vítima

    31.out.2016
    Onde: em ônibus na avenida Brigadeiro Luis Antônio, 4677
    Vítima: Não localizada
    Natureza: ato obsceno
    Resumo: suspeito esfregou o pênis em uma passageira

    25.nov.2014
    Onde: em ônibus na rua Domênico de Palma, Cidade Ademar
    Vítima: vendedora de 21 anos
    Natureza: ato obsceno e importunação ao pudor
    Resumo: suspeito passou a mão no cabelo da vítima, tentou passar a mão nos seios dela e ejaculou no ombro da vítima

    13.set.13
    Onde: em ônibus na avenida Brigadeiro Luís Antônio, esquina com a rua Pamplona
    Vítima: universitária de 19 anos
    Natureza: violação sexual mediante fraude
    Resumo: colocou a mão sob o vestido da vítima

    02.fev.2013
    Onde: em ônibus na avenida Washington Luis, 2455
    Vítima: operadora de 47 anos
    Natureza: estupro tentado
    Resumo: suspeito esfregou o pênis no braço da vítima

    01.ago.2012
    Onde: em transporte público na avenida Yervant Kissajikian, Americanópolis
    Vítima: assistente administrativa de 23 anos
    Natureza: importunação ofensiva ao pudor
    Resumo: não consta no termo circunstanciado

    17.out.2012
    Onde: em ônibus na rua Padre José Maria, em Santo Amaro
    Vítima: mulher de 27 anos
    Natureza: ato obsceno
    Resumo: suspeito retirou o pênis de dentro da calça e mostrou para a vítima

    11.fev.2011
    Onde: rua Floriano Peixoto, Sé
    Vítima: estudante de 22 anos
    Natureza: ato obsceno e importunação ofensiva ao pudor
    Resumo: não consta no termo circunstanciado

    06.abr.2011
    Onde: escada rolante estação Anhangabaú do metrô
    Vítima: gerente de 33 anos
    Natureza: ato obsceno e importunação ofensiva ao pudor
    Resumo: sem informações no termo circunstanciado

    30.nov.2011
    Onde: em ônibus na rua Amador Bueno, Santo Amaro
    Vítima: mulher de 27 anos
    Natureza: ato obsceno
    Resumo: sem informações no termo circunstanciado

    12.dez.2009
    Onde: em ônibus na praça Miguel Dell'erba, Lapa
    Vítima: mulher de 22 anos
    Natureza: ato obsceno
    Resumo: suspeito desceu a calça e mostrou o pênis para a vítima

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