Tostão não foi o único craque a largar a carreira para atuar como médico. No final dos anos 60, o promissor jornalista Ascanio Pedro Monteiro deixou a imprensa de lado para dedicar-se exclusivamente ao ofício de Hipócrates.

Na verdade, Ascanio retomava os estudos na profissão que escolhera ao entrar na faculdade. No quarto ano, precisando de emprego para se manter, trancou o curso de medicina após conseguir uma vaga de redator no "Jornal do Brasil".

Sob a chefia de Alberto Dines, assinava o "Jornal dos Jornais", uma coluna diária em que analisava publicações estrangeiros –sob o mesmo título, Dines inaugurou um espaço análogo na Folha em 1975, considerado como precursor da figura do ombudsman no país, em que escrutinava os periódicos nacionais.

Do jornal carioca Ascanio foi para a ONU, como assessor de imprensa. Surpreendeu a todos quando decidiu concluir os estudos em medicina. "Era a vocação dele ajudar os outros. Sugeriram que ele fizesse trabalho voluntário, mas não adiantou" afirma a cunhada Maria Lúcia.

Humanista que era, tornou-se psiquiatra. Aficionado pela música de Wagner e pela vertente filosófica de Goethe, não raro lia até o amanhecer.

O prenome grave era dispensado pelos irmãos, a quem ensinou a nadar. Chamavam-no de Pedrinho, evocando o engenhoso menino que construía brinquedos.

Nos últimos tempos, andava obcecado em investigar o sentido da vida e a transcendência após a morte.

Morreu aos 82, após insuficiência cardiorrespiratória. Deixa filha, neto e irmãos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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