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    Familiares de vítimas de naufrágio no Pará planejam ação contra empresa

    CAROLINA LINHARES
    DE BELO HORIZONTE

    03/09/2017 17h52

    Divulgação/Arquivo Pessoal Hudson Bastos
    Protesto em frente a empresa Transportes Bertolini, em Santarém (PA), na semana passada. Familiares reclamam de demora para resgatar parentes desaparecidos em naufrágio de 2 de agosto e vão processar a empresa.
    Protesto em frente a empresa Transportes Bertolini, em Santarém (PA), na semana passada

    Familiares de nove desaparecidos no naufrágio que ocorreu no Pará em 2 de agosto planejam entrar com ação judicial nesta segunda-feira (4), questionando a empresa Transportes Bertolini Ltda., proprietária do rebocador que afundou após bater em um navio cargueiro no rio Amazonas.

    Um mês após o naufrágio, as famílias reclamam de demora para retirar a embarcação do fundo do rio —acredita-se que os corpos dos desaparecidos estejam no rebocador. O veículo foi encontrado por um radar a 63 metros de profundidade, em um ponto a 15 quilômetros de onde ocorreu o acidente.

    Um ato com as famílias está marcado para 8h desta segunda, momento em que a ação será ajuizada, em frente ao fórum de Santarém, onde o caso está sendo investigado e onde fica a sede da Bertolini.

    Os desaparecidos faziam parte da tripulação do rebocador. Duas pessoas sobreviveram.

    O objetivo da ação é cobrar celeridade no resgate dos corpos. "Queremos ver se as autoridades conseguem fazer cumprir a retirada da embarcação e também para dar uma resposta concreta aos familiares, tranquilizar a agonia que estamos passando", afirma Gilmar dos Santos Brito, irmão de Juraci dos Santos Brito, um dos desaparecidos.

    A Transportes Bertolini tem até o dia 15 de setembro para apresentar uma empresa e um plano de resgate à Marinha. O prazo para retirar o rebocador é até novembro —o tempo de espera foi considerado longo demais pelos familiares.

    "Nós sabemos que, quanto mais demora, pior fica, porque o rio Amazonas vai aterrando, e depois não tem como tirar se estiver preso no fundo", diz Brito.

    O Ministério Público Federal e o Corpo de Bombeiros também dizem que há risco de que o resgate fique inviável caso ocorra só daqui a dois meses, quando o barco pode estar soterrado.

    Na quinta-feira (31), a partir das 6h30, as famílias protestaram em frente à Bertolini, impedindo a passagem de veículos e funcionários pelos portões. A manifestação durou até o fim da sexta (1º) —os parentes montaram uma tenda e continuaram no local mesmo durante a madrugada.

    O bloqueio só foi desmobilizado por uma ordem judicial, que estabeleceu multa de R$ 5 mil caso os familiares não liberassem os portões.

    Segundo a Transportes Bertolini, os parentes estavam realizando "atos de violência e vandalismo", embora estivessem sendo informados do cronograma para retirada do barco.

    O juiz afirmou que a manifestação, "não obstante ser legítima, está impedindo o livre exercício das atividades da empresa" e determinou o fim do protesto.

    No último dia 14, os familiares já haviam organizado uma manifestação em frente à sede do MPF em Santarém.

    Reprodução/TvGlobo
    Nove pessoas estão desaparecidas após naufrágio de um rebocador no Rio Amazonas
    Colisão entre barcos deixou nove desaparecidos nas águas do rio Amazonas, no Pará, em agosto

    COBRANÇA

    O Ministério Público Federal do Pará e a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) cobram maior celeridade da Bertolini na retirada do rebocador.

    A empresa enviou informações ao MPF após ser intimada na semana passada.

    O órgão agora analisa as informações prestadas como a "rota operada pela embarcação, quais providências emergenciais foram tomadas pela empresa, que apoio está sendo dado tanto às vítimas quanto aos seus familiares, documentação da embarcação e planos de emergência".

    A Polícia Civil e a Marinha também investigam as responsabilidades pelo acidente.

    O naufrágio ocorreu na madrugada de 2 de agosto, próximo à cidade de Óbidos (PA).

    O rebocador e um comboio de oito balsas bateram num navio cargueiro da Mercosul Santos que seguia para Manaus (AM). As balsas levavam milho e iam de Porto Velho (RO) a Santarém.

    OUTRO NAUFRÁGIO

    No dia 22 de agosto, outro naufrágio deixou 23 mortos no interior do Pará.

    O acidente aconteceu no rio Xingu. O barco deixou o porto improvisado da praça Tiradentes, em Santarém, com destino a cidade de Vitória do Xingu (PA). O naufrágio ocorreu em Vila do Maruá, numa região conhecida como Ponta Grande.

    A embarcação fazia o transporte clandestino de passageiros, segundo a Arcon (Agência Estadual de Regulação e Controle de Serviços Públicos), autarquia do governo do Pará responsável por regular o transporte intermunicipal.

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