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    Estuprador de ônibus não é criminoso e pode sofrer síndrome, diz cientista

    FELIPE GUTIERREZ
    DE SÃO PAULO

    09/09/2017 02h00

    L.A. Cicero/Stanford News
    O neurocientista Robert Sapolsky, professor da Universidade Stanford
    O neurocientista Robert Sapolsky, professor da Universidade Stanford

    Se o ajudante geral Diego Novais, 27, preso duas vezes em uma semana por atacar mulheres dentro de ônibus, teve danos na cabeça em um acidente de carro, como diz sua mãe, há chance de ele sofrer de uma doença chamada síndrome de Klüver-Bucy.

    Quem afirma é o neurocientista Robert Sapolsky, professor da Universidade Stanford (Estados Unidos). Para ele, Novais não é criminoso, e a justiça não será feita se ele for encarcerado.

    *

    Folha - O sr. pode descrever a síndrome de Klüver-Bucy?
    Robert Sapolsky - Dois cientistas alemães, nos anos 1930, tiravam a parte frontal do cérebro de macacos e havia mudanças no comportamento sexual, que se tornava inapropriado e agressivo. A fração retirada era grande, e havia outros efeitos, como compulsão por comer.

    O caso do Diego Novais parecer ser um desses?
    Sem saber onde foi o dano na cabeça é difícil dizer. Mas soa como um acidente no córtex frontal, e o comportamento, como se fosse uma descrição de livro didático da síndrome. Os pacientes sabem distinguir o certo do errado, verbalizam essas diferenças, mas não se controlam e cometem os atos repetidas vezes.

    Zanone Fraissat/Folhapress
    Diego Novais, acusado de abuso sexual em ônibus, é acompanhado por delegado Rogério Nader

    E como é o tratamento?
    Não se sabe reparar esse tipo de dano. O córtex frontal não vai funcionar bem, especialmente quando a pessoa estiver estressada.

    Como a Justiça deve atuar?
    Nos EUA, só são consideradas incapazes as pessoas que não conseguem distinguir certo de errado –essencialmente, esquizofrênicos. Moralidade e noções de mal ou interesse próprio em casos assim não se aplicam. Seria como dizer que um carro que está sem freios é mau.

    A questão é o que fazer com o Diego Novais, porque ele nitidamente é uma ameaça.
    Ele é uma máquina biológica quebrada. Talvez precise ser isolado da sociedade, mas é preciso ter firme na cabeça que ele não é um criminoso e, se for encarcerado, a justiça não terá sido feita. Ele tem uma doença que o impossibilita de estar solto. É péssimo para ele, mas ele é perigoso.

    vítimas nesse caso. Elas ficam sem uma resposta?
    Pode-se argumentar hoje que as vítimas e seus familiares merecem respostas e que a sociedade não pode ser funcional se não houver punição. Mas isso muda. Há um exemplo histórico: epilepsia. Era vista como uma falha moral. Os pacientes são perigosos em certas circunstâncias, como ao dirigir, mas ninguém diz que eles merecem ser proibidos de fazer isso, por exemplo.

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