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    Condenado por crime sexual em voo, preparador físico Nuno Cobra é preso

    ANTONIO MAMMI
    DE SÃO PAULO

    11/09/2017 17h02 - Atualizado às 21h32

    Mastrangelo Reino/Folhapress
    SAO PAULO,SP, BRASIL,23-05-2011-NUNO COBRA NO LANÇAMENTO DO LIVRO "AS GRANDES DAMAS E UM PERFIL DO TEATRO BRASILEIRO".( Foto:Mastrangelo Reino / Folhapress ILUSTRADA) *****EXCLUSIVO MONICA BERGAMO******
    O preparador físico Nuno Cobra, 79, condenado por crime sexual durante voo entre Curitiba e São Paulo

    O preparador físico Nuno Cobra, 79, foi preso nesta segunda-feira (11) após ser condenado por violação sexual.

    A vítima foi uma mulher que se sentou ao lado de Cobra durante um voo de Curitiba a São Paulo em janeiro de 2015. Ela disse que, durante a decolagem, teve seus seios e pernas apalpados por ele várias vezes, sob a justificativa de manipular pontos energéticos.

    Cobra, que foi preparador físico de Ayrton Senna, teve a prisão preventiva decretada pela Justiça Federal de São Paulo depois de ser condenado no último dia 6.

    A pena de 3 anos e 9 meses de prisão poderia ser convertida em serviços comunitários, mas, diante de nova suspeita, foi decretada sua prisão preventiva.

    O Ministério Público Federal acusou Cobra de ter se envolvido em novo episódio de assédio de outra mulher em agosto.

    Com a nova suspeita, a juíza Raecler Baldresca, da 3ª Vara Criminal da Justiça Federal de São Paulo, acatou a solicitação e determinou a prisão preventiva.

    A prisão foi confirmada em audiência de custódia realizada na tarde desta segunda. Cobra, que está detido na Superintendência da Polícia Federal na capital paulista, foi encaminhado para uma cela isolada dos demais presos, devido à idade avançada e à natureza do crime por ele cometido.

    O CRIME

    O crime ocorreu no dia 19 de janeiro de 2015, durante voo de Curitiba a São Paulo.

    Antes do embarque, a vítima, que tinha 21 anos, conversou com Cobra durante o trajeto do ônibus que levava os passageiros do terminal para o avião –nessa oportunidade, o preparador físico elogiou a beleza da mulher.

    Quando os dois embarcaram na aeronave, Cobra, que estava num assento distante, pediu para trocar de lugar com o passageiro sentado ao lado da vítima.

    Cobra continuou puxando conversa com a jovem. Foi no momento da decolagem que o crime se consumou.

    "Nuno fazia gestos simulando o contorno do corpo dela, que estava com um vestido de alças, e pegava em seu braço com o dedão do lado externo e os outros quatro dedos roçando na lateral de seu seio, em movimentos de cima para baixo e de baixo para cima. Ele dizia que o toque despertava os sentidos. Nuno também falava da importância do coração e punha a mão em seus seios", consta na decisão de Baldresca.

    A vítima, que não podia levantar da poltrona pelo fato de o avião estar levantando voo, tentou se esquivar, mas Cobra insistiu.

    "A depoente estava com uma revista nas mãos e se protegia, colocando-a sobre seu seio, mas Nuno colocava a mão sobre sua perna, o que obrigava a depoente a proteger a perna com a revista, mas permitia que ele conseguisse tocar seu ombro", prossegue Baldresca.

    A jovem ainda teve que esperar o avião passar por uma turbulência para finalmente poder se levantar e chamar a equipe de bordo. Ela foi mudada de lugar e aconselhada a procurar a Delegacia da Polícia Federal no aeroporto de Congonhas, onde foi feita a denúncia assim que o avião pousou em São Paulo.

    A DECISÃO

    Com o inquérito policial finalizado, a 3ª Vara Criminal da Justiça Federal de São Paulo recebeu a denúncia em 24 de novembro de 2016 e foi dado início ao processo judicial.

    Com base nos depoimentos da vítima e de testemunhas, Baldresca condenou o preparador físico a 3 anos e 9 meses de prisão pelo crime de violação sexual mediante fraude, previsto no artigo 215 do Código Penal.

    Para a juíza, que descartou a hipótese de estupro por entender não ter havido violência ou grave ameaça, o crime ocorreu porque Cobra se aproximou da vítima fazendo uso da sua condição de preparador físico e aproveitou para apalpá-la em um momento em que a vítima não podia se mexer.

    Ela ainda fez um paralelo entre a conduta de Cobra e os crimes sexuais cometidos em transportes públicos.

    "Não é por acaso que [...] sempre envolve situações que ocorrem em transporte público - ônibus, trens, metrô, aeronaves e embarcações –porque nessas situações a vítima tem a sensação de que está protegida porque não está sozinha e, ao mesmo tempo, não tem possibilidade de escapar porque se encontra em um espaço limitado e em movimento. Além disso, nesse ambiente a surpresa é inevitável, porque não se imagina que haverá uma violação na frente de outras pessoas, contando o agente com o fato de que a vítima, na maior parte das vezes, sente medo e vergonha da situação, deixando de reagir imediatamente."

    A pena de prisão foi substituída pela prestação de serviços comunitários e pagamento de multa.

    No entanto, a juíza decretou a prisão preventiva de Cobra após pedido do Ministério Público Federal no último dia 5, na véspera da decisão, denunciando nova suspeita de abuso.

    NOVA DENÚNCIA

    Uma jornalista denunciou o preparador físico ao MPF por um suposto crime ocorrido em 24 de agosto deste ano.

    Segundo consta na petição apresentada pelo MPF, baseada em depoimento da mulher, "Nuno Cobra a surpreendeu após ter sido entrevistado por ela, quando ia se despedir dele, abraçando-a com força e segurando-a em suas nádegas, ao mesmo tempo em que esfregava seu órgão sexual na vítima."

    Ele ainda teria feito comentários a outros jornalistas presentes no estúdio no qual a entrevista ocorreu, dizendo "que para os homens as energias são sexuais, o que as mulheres precisam compreender."

    Ao decretar a prisão preventiva de Cobra, Baldresca destacou que, mesmo após ser processado e dois meses depois de ter prestado depoimento em juízo, o preparador físico continuou praticando crimes sexuais –e, assim, representaria um risco à ordem pública.

    OUTRO LADO

    A Folha procurou a defesa do preparador físico nesta segunda, deixou recados com secretárias, mas ainda não obteve resposta.

    A decisão que determinou sua condenação relata o depoimento de Cobra em audiência de instrução realizada em 14 de junho e os trechos em que refuta a acusação.

    Em síntese, segundo a juíza, a tese de defesa seria de que a "conduta é perfeitamente normal, já que o réu está acostumado a tocar nas pessoas, bem como que não haveria conotação sexual nos toques por ele realizados na vítima."

    Na ocasião, ele ainda disse não se lembrar detalhadamente do ocorrido, "mas que normalmente abraça as pessoas". Cobra ainda refutou a acusação de que teria tocado no seio da vítima.

    Segundo relata a decisão, o preparador físico "destacou ainda que não costuma tocar nas coxas das mulheres, mas 'apenas em seus joelhos, após dizer alguma frase extremamente importante para o resto da vida da pessoa, seja homem ou mulher."

    Educador físico de formação, Nuno Cobra ganhou notoriedade nos anos 80 como instrutor do tricampeão mundial de Fórmula 1 Ayrton Senna (1960-1994). Também é autor do best-seller "A Semente da Vitória" (ed. Senac), que já ultrapassou a 100ª edição.

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