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    Caminhão com bebidas tomba e mata adolescente a caminho da escola em SP

    MARIANA ZYLBERKAN
    DE SÃO PAULO

    12/09/2017 16h33 - Atualizado às 18h15

    Marcos Bezerra/Futura Press/Folhapress
    Caminhão carregado de bebidas tomba e atinge três pessoas na avenida Raimundo Pereira de Magalhães
    Caminhão carregado de bebidas tomba e atinge três pessoas em Parada de Taipas, na zona norte de SP

    Era apenas mais um dia na rotina de Julia Fermino Rocha, 13. Seus pais a deixaram a poucos metros da escola e foram cuidar de seus afazeres. Marcos Rocha foi para o trabalho, e Luzia Fermino Rocha seguiu para a caminhada de todas as manhãs, em Parada de Taipas, na periferia da zona norte de São Paulo.

    A adolescente estava parada na calçada, diante da faixa. A escola fica do outro lado da rua. Esperava o sinal verde para pedestres, quando alguém gritou: "Olha o caminhão!". Não houve tempo. Um veículo carregado de refrigerante tentou frear, resvalou em um carro, cambaleou e tombou. A menina ficou presa debaixo da cabine e morreu na hora. Outras três colegas de escola sofreram ferimentos leves.

    Duas testemunhas disseram que ela estava com fones de ouvido no momento do acidente. "Por causa de uma negligência o meu anjo foi embora", disse Luzia, mãe da adolescente. "Eu a admirava por ser responsável e até adulta demais para sua idade", completou, sem parar de chorar em nenhum momento.

    Um tio ouviu a notícia do acidente na TV e perguntou ao pai de Julia: "Onde você a deixou hoje cedo?". Enquanto isso, a mãe recebia um telefonema da escola. Pediram que ela fosse até lá. "Nunca imaginei que fosse por causa disso. Pensei que era um assunto relacionado à escola mesmo", disse Luzia. O pai reconheceu o corpo da menina ainda na calçada. Ele se abaixou para dar um beijo na testa da filha.

    MENINA DOCE

    Filha única e descrita por parentes como uma menina doce, inteligente e muito responsável, Julia queria ser veterinária. "Ela estava começando a vida. A gente vê essas coisas e acha que nunca vai acontecer. Ninguém está imune a nada", disse a tia Claudia Rocha. A menina costumava passar os finais de semana na companhia dos primos e da avó.

    Na escola, o clima era de tristeza. Na grade, um papel foi colado com a mensagem: "Estamos de luto". A direção decidiu cancelar as aulas por causa do acidente, mas as crianças que chegavam para o período vespertino eram convidadas a entrar. Uma delas, que chegava de mãos dadas com a mãe, perguntou: "Mãe, o que é luto?"

    No momento do acidente, ao lado de Julia, estavam também na calçada as coleguinhas Taissa Munhoz, 14, Isabela de Oliveira, 14, e Isabela Vieira, 9. Feridas sem gravidade, foram encaminhadas a um hospital da região.

    No momento acidente, por volta das 7h, médicos de um pronto socorro particular que fica em frente ao local do acidente correram para socorrer as vítimas. Tanto a mãe de Julia com alguns de seus parentes também precisaram de atendimento assim que souberam da tragédia.

    MOTORISTA

    O motorista do caminhão é Lucas Mota, 22. Segundo sua mãe, Francisca da Conceição, ele foi medicado, pois entrou em estado de choque. "Ele viu o rosto da menina. [Ele] caiu por cima dela quando a cabine do caminhão tombou."

    Na delegacia, o motorista ficou o tempo todo abraçado à filha, enquanto sua mãe tentava entrar em contato com a família de Julia para prestar solidariedade. "Somos família também", repetia Francisca.

    No caminhão, Mota estava acompanhado de dois ajudantes e, juntos, tentaram levantar a carroceria logo depois do acidente. Amigos de infância e naturais de Osasco, na Grande São Paulo, os três trabalham numa transportadora de bebidas.

    Segundo depoimento do motorista à polícia, um carro à sua frente parou bruscamente no sinal amarelo, e ele não teve tempo de frear. Bateu na traseira do veículo e jogou o caminhão para a direita, quando a mercadoria tombou. O velocímetro do caminhão indica que ele trafegava a 38 km/h no momento do acidente, abaixo do limite da via, de 50 km/h. Uma perícia atestou que os freios do veículo estavam funcionando bem. O motorista também foi submetido ao teste do bafômetro e deu negativo para ingestão de bebida alcoólica.

    O caso foi registrado como acidente de trânsito, e o motorista irá responder por homicídio culposo –quando não há intenção de matar– e por lesão corporal culposa em relação às outras vítimas.

    Arquivo Pessoal
    Julia Fermino Rocha, 13, morta nesta terça (12) após acidente na zona norte de São Paulo
    Julia Fermino Rocha, 13, morta nesta terça (12) após acidente na zona norte de São Paulo

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