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    Sem-teto é ferido a bala em megainvasão de São Bernardo

    PAULO GOMES
    DE SÃO PAULO
    DO "AGORA"

    16/09/2017 21h14 - Atualizado às 23h07

    Um homem foi atingido por disparo de arma de fogo na tarde deste sábado (16) na megainvasão do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. O sem-teto teve a bala alojada no braço, mas não corre risco de morrer.

    O ferimento provocou uma guerra de versões. Segundo relatos dos sem-teto, os tiros teriam saído de algum dos condomínios de classe média alta ao redor do terreno, ocupado neste mês por cerca de 6.500 famílias. Já líderes de um movimento de moradores do entorno, contrários à invasão, atribuíram a responsabilidade aos próprios sem-teto, alegando que, na tarde deste sábado, ocorria uma festa "sem controle" no local.

    Um vídeo gravado pelos sem-teto e obtido pela Folha indica que tiros partiram de um dos prédios ao lado do acampamento. Um dos militantes diz: "Sétimo andar, está dando tiro de chumbinho". Em seguida, é possível ouvir alguns tiros (veja abaixo).

    Tiro de chumbinho em ocupação

    De acordo com Andreia Barbosa, 34, uma das coordenadoras da ocupação Povo Sem Medo, os disparos ocorreram por volta das 17h. "Estava todo mundo reunido, fazendo a construção de uma cozinha coletiva. Chegou um rapaz avisando que tinham atirado dos prédios para baixo, e que o homem [autor dos disparos] ainda ficou mostrando a arma." Segundo ela, um idoso também foi ferido de raspão por um tiro que ricocheteou em um vaso sanitário.

    O MTST afirma que o homem ferido é Aldinei Serapião da Silva. Segundo a Prefeitura de São Bernardo do Campo, ele foi encaminhado ao Pronto-Socorro Central e o quadro dele é estável –o disparo não atingiu ossos ou vasos sanguíneos. Ele passaria por cirurgia na noite deste sábado para a retirada do projétil e deve ficar em observação até domingo (16).

    O grupo de moradores contrários à invasão, chamado de MCI, emitiu nota após Guilherme Boulos, coordenador do MTST, relatar em vídeo postado numa rede social o que chamou de ataque. "O MCI salienta que o caso ocorrido dentro do terreno invadido foi gerado em meio a realização de uma festa, em que várias pessoas adentraram o local, sem qualquer tipo de controle", diz o texto, que atribui a responsabilidade de qualquer problema dentro da ocupação a Boulos, "que deve assumir o risco das pessoas que estão dentro daquele espaço".

    O MCI ainda diz que fez um ato pacífico na manhã deste sábado, com "famílias e pessoas de bem, reivindicando segurança a todo o bairro e justiça por entender que a ocupação é irregular e não tem nenhuma cobertura das legislações vigentes".

    Reprodução/Facebook
     Morador de ocupação do MTST que foi supostamente ferido por tiro de condomínio ao redorCrédito: Reprodução/Facebook
    Morador de ocupação do MTST em São Bernardo que levou tiro no braço

    Segundo Boulos, essa é a maior ocupação realizada pelo MTST nos últimos anos, superando a ocupação Copa do Povo, em Itaquera (zona leste), que tinha cerca de 3.500 famílias. A invasão começou no dia 2, após um levantamento feito pelo movimento indicar falta de moradia na região do ABC. Ele afirma que o local estava vazio há mais de 30 anos.

    A área pertence à construtora MZM, que não conseguiu a reintegração de posse na Justiça. Uma audiência de conciliação, na sexta-feira (15), terminou sem acordo.

    Nesta semana, Boulos disse que o movimento não vai deixar a área enquanto não conseguir uma "solução pacífica que contemple o direito de moradia das famílias". "Temos que tratar a questão com política pública. Moradia não é caso de polícia", afirmou.

    Em nota sobre a ocupação, a Prefeitura de São Bernardo disse que não concorda com o "modelo de invasão por moradia" e ressaltou que muitas das pessoas no terreno não moram em São Bernardo.

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