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    SP ociosa

    Vazia há 14 anos, 'joia da indústria' já teve R$ 80 mi em reformas de tucanos

    RAUL JUSTE LORES
    DE SÃO PAULO

    20/09/2017 02h00

    Mais de R$ 80 milhões já foram gastos na reforma da Casa das Retortas, mas ninguém tem ideia quando se voltará a utilizar o prédio, uma das raras joias da arquitetura industrial do século 19 na cidade de São Paulo. O conjunto do Gasômetro, pioneira usina de gás da capital, encontra-se sem uso permanente desde 2003.

    Desde então, sucederam-se promessas dos mais variados museus, que não vingaram: do Museu do Futebol ao da TV Brasileira, até o último, o Museu da História do Estado de São Paulo (a prefeitura repassou o prédio para o governo estadual em 2009). Até um Centro de Referência da Moda foi anunciado para ocupar os galpões no Brás, na região central de SP.

    Com as obras iniciadas e o projeto pronto, do arquiteto Pedro Mendes da Rocha, uma inspeção da Cetesb, em 2010, verificou que o solo do local estava contaminado com resíduos tóxicos. Estudos começaram a ser realizados para criar um plano de reutilização.

    "Sempre falta assessoria técnica antes da obra começar", disse Mendes da Rocha à época. O projeto foi modificado, tirando-se o auditório e o estacionamento do subsolo.

    O governo Geraldo Alckmin (PSDB), por meio da Secretaria de Cultura, se desculpou, então, dizendo que uma sondagem "inicial" não havia detectado a contaminação. Esse erro encareceu em quase R$ 30 milhões a obra original. Mais de 2 milhões de litros de óleo e derivados de petróleo foram retirados dali até o final de 2014, quando a obra empacou de vez.

    À Folha a secretaria afirmou que, "neste momento, de retração econômica em todo o país, a pasta prioriza a aplicação de recursos orçamentários nos programas existentes que já proporcionam o atendimento à população", mas sem responder se há prazo para retomada das obras.

    "O contrato da obra não está paralisado, continua o monitoramento ambiental", informou a pasta. Entre as obras já feitas entre 2010 e 2014, encontram-se "restauro total das paredes internas e grande parte das externas, restauro do edifício-restaurante e da chaminé, e implantação e pintura das estruturas metálicas e das lajes do prédio".

    ESTATIZAÇãO

    Para uma cidade que tinha apenas 60 mil habitantes em 1890, a Casa das Retortas era uma das construções mais imponentes de então. Os lampiões de gás que iluminavam as vias públicas da São Paulo das três últimas décadas do século 19 eram alimentados por esse complexo do Gasômetro, criado por britânicos para também abastecer a futura ferrovia que passaria por ali.

    Entre as edificações de apoio, havia a Casa das Retortas, onde era destilado o carvão. Na verdade, duas construções, erguidas entre 1872 e 1889. Retortas eram os recipientes metálicos que recebiam o carvão. A chaminé da entrada só apareceria nos anos 1920, quando o complexo passou para as mãos da Light.

    Entre os anos 1930 e 1950, diversas políticas de tabelamento e congelamento de preços foram afastando novos investimentos da Light no gás. Nos anos 1960, uma concorrência pública pela concessão não conseguiu atrair interessados. Em 1967, já na ditadura militar, o serviço e os bens foram desapropriados pela prefeitura, que criou a Companhia Municipal de Gás, Comgás, em 1969. A Retortas foi desativada em 1974 e restaurada em 1978.

    Após o restauro, o prédio foi sede do Arquivo Histórico Municipal e do Departamento do Patrimônio Histórico.

    GALPÕES

    Nas duas décadas seguintes, ela abrigou conselhos e coordenadorias municipais, que deixaram o lugar em 2003, quando a prefeitura se mudou do Palácio das Indústrias para o Edifício Matarazzo.

    Depois de 2003, os galpões foram usados poucas vezes, abrigando um salão paralelo da Bienal de 2004, o Pulgueiro, uma feira ao estilo Mercado Mundo Mix, em 2005, e um festival de hip hop, o Zoeira, em 2006. Ao contrário de galpões industriais do Rio de Janeiro, Nova York, Buenos Aires e Berlim, a Casa das Retortas continua esquecida, como boa parte do vizinho parque Dom Pedro 2º.

    "Nunca mais ouvi nada sobre o projeto, desde que a obra parou. Nem sei se será repassada para outra entidade, o que vão fazer lá", disse à Folha Pedro Mendes da Rocha, filho do premiado Paulo.

    OF Casa das Retortas
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