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    Em carta escrita em 1935, Sigmund Freud negou possibilidade de cura gay

    DE SÃO PAULO

    20/09/2017 15h11

    Associated Press
    O psicanalista Sigmund Freud, posa para o escultor Oscar Nemon, em Viena, em 1931. *** FILE - This is a 1931 file photo of Sigmund Freud, father of psychoanalysis, as he poses for sculptor Oscar Nemon in Vienna. British police are hunting burglars who tried to steal the ashes of psychoanalyst Sigmund Freud from a London crematorium. The Metropolitan Police force says a 2,300-year-old Greek urn containing the remains of Freud and his wife Martha was severely damaged in a break-in at Golders Green Crematorium on Dec. 31 or Jan. 1. (AP Photo/File) ORG XMIT: LON104
    O psicanalista Sigmund Freud posa para o escultor Oscar Nemon, em Viena, na Áustria, em 1931

    Em 1935, o pai da psicanálise, Sigmund Freud, recebeu a carta de uma mãe aflita lhe perguntando se poderia ajudar seu filho homossexual a deixar de se atrair por pessoas do mesmo sexo. O pai da psicanálise foi enfático na resposta: "não podemos prometer esse resultado".

    O manuscrito tem sido compartilhado nas redes sociais em protesto contra liminar do juiz Waldemar Cláudio de Carvalho, da 14ª Vara do Distrito Federal, que deu, na última sexta-feira (15), aval a terapias de "reversão sexual". Tal prática é proibida pelo CFP (Conselho Federal de Psicologia) desde 1999. A entidade se manifestou contra a liminar.

    A decisão deu origem a uma série de memes nas redes sociais e reações indignadas. "Não apenas Freud, mas vários estudos mostram que nada pode alterar a natureza do desejo sexual", diz o psicólogo Klecius Borges. "Há tentativas nesse sentido baseadas em princípios religiosos, mas o que muda é o comportamento da pessoa. Há uma diferença grande entre comportamento e desejo sexual", completa.

    Na carta, Freud ainda tenta convencer a mãe, cuja identidade foi rasurada no escrito original, de que não há nada de errado em seu filho ser homossexual. "Homossexualidade não é nenhuma vantagem, mas ao mesmo tempo não é algo pelo qual deva se envergonhar. Não é um vício, uma degradação e nada que possa ser classificado como uma doença."

    Leia abaixo a tradução livre da carta

    Cara senhora

    Eu presumo pela sua carta que seu filho é homossexual. Me chama mais atenção, porém, o fato de a senhora não ter mencionado isso nas informações que forneceu sobre ele. Poderia lhe perguntar o motivo de ter evitado isso? Homossexualidade não é nenhuma vantagem, mas ao mesmo tempo não é algo pelo qual deva se envergonhar. Não é um vício, uma degradação e nada que possa ser classificado como uma doença.
    Nós a consideramos uma variação da função sexual causada por uma certa repressão do desenvolvimento da sexualidade. Muitas personalidades ilustres dos tempos atuais e do passado são homossexuais, entre eles, grandes homens (Platão, Michelangelo, Leonardo da Vinci, etc).

    Reprodução/The American Journal of Psychiatry
    Carta escrita por Sigmund Freud em 1935 em resposta a uma mãe aflita por seu filho ser homossexual
    Carta escrita por Sigmund Freud em 1935 em resposta a uma mãe aflita por seu filho ser homossexual

    É uma grande injustiça e uma crueldade enxergar a homossexualidade como um crime. Se não acredita nisso, leia os livros de Havelok Ellis (1859-1939) [médico britânico estudioso da sexualidade humana].
    Ao pedir minha ajuda subentende-se que eu poderia acabar com a homossexualidade e substituí-la pela heterossexualidade. A resposta, de maneira geral, é que não podemos prometer esse resultado.

    Em alguns casos podemos desenvolver tendências heterossexuais presentes em todo homossexual, mas na maioria dos casos, isso não é mais possível. Depende da idade do paciente. O resultado desse tratamento não pode ser garantido.

    A análise pode beneficiar seu filho de uma outra forma. Se ele está infeliz, neurótico, envolto em conflitos, retraído na vida social, a análise pode lhe proporcionar harmonia, paz de espírito e completude, mesmo se ele continuar ou não um homossexual. Se a senhora se convencer disso –não espero que irá–, ele poderia vir a Viena fazer sessões de análise comigo. Não tenho previsão de sair da cidade. Mesmo assim, não deixe de me dar uma resposta.

    Reprodução/The American Journal of Psychiatry
    Carta escrita por Sigmund Freud em 1935 em resposta a uma mãe aflita por seu filho ser homossexual
    Carta escrita por Sigmund Freud em 1935 em resposta a uma mãe aflita por seu filho ser homossexual

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