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    Membro do MBL que pintou muro de Doria ganha emprego na prefeitura

    ARTUR RODRIGUES
    DE SÃO PAULO

    25/09/2017 02h00

    Suamy Beydoun/AGIF/Folhapress
    Muro Doria
    Membros do MBL pintam muro da casa de Doria; Cauê Del Valle (segundo a partir da esq.) foi contratado

    A gestão João Doria (PSDB) contratou um integrante do MBL (Movimento Brasil Livre) que ajudou a apagar uma pichação feita por manifestantes na casa do prefeito, nos Jardins (zona oeste de SP).

    O gesto mostra o fortalecimento do MBL na gestão, no momento em que Doria busca se firmar como candidato à Presidência. Formado por jovens liberais, o grupo é impulsionador da imagem do prefeito nas redes sociais.

    O muro do tucano foi pichado no dia 15 de julho por manifestantes que protestavam contra a privatização de bens públicos, uma das bandeiras da atual administração. Eles escreveram na casa a frase "SP não está à venda".

    No mesmo dia, integrantes do MBL foram até os Jardins repintar o muro do prefeito. Entre eles, estava Cauê Del Valle, 23, coordenador nacional do MBL e, à época, assessor parlamentar do vereador Fernando Holiday (DEM).

    Doria chegou a gravar um vídeo para elogiar a atitude "espontânea" dos militantes, entre os quais também estava a jovem Paloma Oliva, 22, funcionária da prefeitura regional de Pinheiros.

    Membro do MBL, ela aparece no vídeo pintando o muro com Cauê, namorado dela. "A gente não acha certo [a pichação]. Como a gente apoia a nova gestão do prefeito Doria, a gente decidiu se mobilizar pela internet e vir aqui ajudar", diz o rapaz no vídeo.

    Pouco mais de duas semanas depois dessa ação, Cauê foi contratado pela mesma prefeitura regional de Pinheiros (zona oeste de SP).

    Tanto o rapaz quanto a prefeitura regional de Pinheiros negam relação entre o contrato e com a pintura do muro. Ele diz que conhecia o prefeito regional de Pinheiros, Paulo Mathias, desde a campanha eleitoral de 2016.

    No Executivo, Del Valle passou a receber um salário menor que no Legislativo, segundo dados do site da transparência. O valor bruto sai de R$ 5.000 para R$ 3.600.

    Del Valle diz, por e-mail, que o que pesou foi a oportunidade de trabalhar no poder Executivo. Graduando em publicidade, ele atua agora em questões relacionadas à agenda do gabinete.

    O rapaz diz não ver contradição entre a ocupação de cargo público e a crítica que o movimento faz sobre o loteamento político. "[A ocupação] só reitera e fortifica nossos ideais dentro do poder público e abre ainda mais campo para o que defendemos: uma máquina pública enxuta, austera e eficiente."

    O superior hierárquico de Del Valle e de Paloma, o prefeito regional de Pinheiros, Paulo Mathias, recentemente aderiu ao MBL. "Quando você monta um time, tem que montar com dois critérios. Primeiro é capacidade e, segundo, consonância de ideias", diz, justificando a contratação de pessoas do grupo.

    Na prefeitura regional da Sé, o grupo também está presente. Ali, o militante do MBL Eric Balbino atua na supervisão de cultura do órgão.

    Ele diz ser natural que o movimento faça parte da administração Doria, por questões ideológicas. "Não se espera que a gestão irá arregimentar colaboradores ligados ao PSOL e demais partidos de extrema-esquerda."

    O rapaz edita o site "O Reacionário", que frequentemente exalta feitos de Doria e atacando seus críticos.

    Um dos articuladores dos protestos pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o MBL faz as vezes de tropa de choque de Doria nas redes sociais. Com frequência, sites ligados ao movimento tentam desqualificar jornalistas que fazem matérias críticas ao tucano, geralmente acusando-os de serem militantes de extrema esquerda.

    Balbino disse à Folha por e-mail que críticas ocorrem "sempre que jornalistas militantes usam seus veículos para noticiar mentiras e plantar factoides". Ele criticou a Folha, que, diz ele, usa "contra o MBL e a direita práticas que os nazistas nem sequer ousaram contra seus opositores".

    O militante diz que a atuação no blog não influenciou em sua contratação, mas sua formação em relações internacionais e pós-graduação em Ciência Política.

    Conforme a Folha noticiou, também há lideranças do movimento nos protestos nomeados para cargos também em Porto Alegre, Goiânia, Caxias do Sul (RS) e São José dos Campos (SP). O MBL argumenta que as indicações são absolutamente técnicas.

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