Sarah Abrahão quase perdeu a data do concurso para uma vaga no Senado, onde trabalharia durante as décadas seguintes –até mesmo depois de aposentada.

Ela nem tinha planejado prestar a prova e só tinha conhecimento da matéria porque ajudou uma amiga a estudar para o exame. Foi o suficiente para passar, ainda que em último lugar.

Doze anos depois, em 1972, seria a primeira mulher a ocupar a Secretaria-Geral do Senado, cargo fundamental para a operacionalização do processo legislativo.

Filha de mascates sírios, nasceu em Catalão (GO). Começou a trabalhar na adolescência, ajudando os pais a vender ovos e objetos de porta em porta. Nos anos 1950, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se formou em direito

A cidade estava em vias de deixar de ser a capital federal quando Sarah prestou concurso. Poucos meses depois, mudou-se para Brasília.

A visão de pioneira no planalto central é apresentada em seu "Memórias do Senado Federal", lançado em 2016.

"Era tudo muito kafkiano, muito singular. A arquitetura ganhava forma, o verde ocupava o vazia e o sonho de um futuro próspero já se materializava", escreve.

Mesmo em meio à rotina agitada, conseguia ser uma mãe presente. "Sempre trabalhou muito, mas não deixava de viver para a gente", lembra a filha Claudia.

Era leitora assídua de romances policiais e cinéfila. Também gostava de reunir-se com as amigas para almoçar.

Morreu no dia 10, aos 90 anos, após complicações de uma pneumonia. Deixa irmã, dois filhos e neto.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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