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    Rio de Janeiro

    Nem criou favela segura pra jovem do Leblon comprar cocaína, diz biógrafo

    FERNANDA MENA
    DE SÃO PAULO

    27/09/2017 02h00

    Keiny Andrade - 30.jun.2016/Folhapress
    Paraty, RJ, 30.06.2016 - FLIP 2016 ILUSTRADA - Mesa â??Os Olhos da Ruaâ? com Misha Glenny (camisa vermelha) e Caco Barcellos. FOTO: Keiny Andrade/Folhapress
    O jornalista britânico Misha Glenny, durante a Flip 2016

    Herói e celebridade, bandido e homem de negócios, Nem foi retratado em suas muitas facetas no livro "O Dono do Morro: Um Homem e a Batalha pelo Rio" (Companhia das Letras), lançado pelo jornalista britânico Misha Glenny, 59, em 2016.

    Folha - Por que um livro sobre um traficante de uma favela carioca?

    O Dono Do Morro
    Misha Glenny
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    Comprar

    Misha Glenny - Quando fiz "MacMáfia", livro em que trato do crime organizado global, descobri que o Brasil, ao contrário do senso comum, é grande no cenário de crimes cibernéticos. Quando fui ao Brasil em 2005 fazer essa investigação, vi muitas boas histórias desconhecidas fora do país e resolvi voltar em 2011.

    Buscava um tema que me permitisse discutir grandes questões do país, como sua enorme desigualdade econômica, que me convenci ser o motivo pelo qual o Brasil é sempre o país do futuro e nunca do presente.

    Explorei diversas possibilidades: Amazônia, crescimento das igrejas evangélicas e, claro, tráfico de drogas. Foi quando Nem foi preso de maneira espetacular, o que me impressionou.

    Como foi sua pesquisa?

    Acompanhei tudo o que saiu na mídia, fui para a Rocinha e fiquei surpreso em ver como ele era visto como o diabo no asfalto ao mesmo tempo em que era herói na favela. Gravei 28 h de entrevistas com ele no presídio.

    Como a Rocinha virou o maior varejista de cocaína do Rio?

    Por vários motivos. A Rocinha é muito isolada de outras favelas e está perto de bairros ricos. Nem percebeu que precisava transformá-la num lugar seguro onde jovens de Copacabana, Ipanema, Leblon pudessem circular livremente para comprar cocaína.

    Reuters - 10.nov.2011
    O líder do tráfico da favela da Rocinha, Antonio Bonfim Lopes, o Nem, é conduzido por policiais do batalhão de choque à delegacia, no Rio de Janeiro (RJ). O traficante foi preso após se encontrado em porta-mala de um automóvel, tentando fugir da favela da Rocinha. *** iSMS102 Antonio Bonfim Lopes (R) or "Nem," the alleged drug lord of the teeming Rocinha slum, is escorted by policemen at the federal police headquarters in Rio de Janeiro November 10, 2011. Police captured "Nem", one of Rio's most-wanted drug traffickers on Thursday as they prepared to occupy the Brazilian city's largest slum, a vital step in preparations to host the Olympic Games in 2016. "Nem," the alleged drug lord of the teeming Rocinha slum, was captured in bizarre circumstances when police said they found him in the trunk of a luxury car being driven by other gang members posing as diplomats from the Democratic Republic of Congo. REUTERS/Stringer (BRAZIL - Tags: CRIME LAW DRUGS SOCIETY)
    Nem ao ser preso, em novembro de 2011, no Rio

    Essa relativa segurança favorecia outros negócios?

    Se você olhar o pé da Rocinha, vê a quantidade de estabelecimentos. Sob o comando de Nem, virou um centro comercial, abriram vários restaurantes, até de sushi, e bancos se estabeleceram ali. Havia um ambiente vibrante de empreendedorismo. E as pessoas que subiam o morro para comprar cocaína achavam que aquilo era uma aventura. Ninguém faria isso no Complexo do Alemão.

    Há solução para a crise atual?

    Ela certamente não está no Exército, que funciona apenas como paliativo, além de ser insustentável financeiramente no médio prazo. Seria preciso restabelecer um programa de segurança aliado a programas sociais, o que não foi feito no caso da UPP.

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