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    Reitor afastado da UFSC é encontrado morto em shopping de Florianópolis

    ESTELITA HASS CARAZZAI
    DE CURITIBA

    02/10/2017 11h56 - Atualizado às 20h23
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    Divulgação
    Luís Carlos Cancellier de Olivo, reitor afastado da UFSC, se jogou em vão de shopping
    Luiz Carlos Cancellier de Olivo, reitor afastado da UFSC, se jogou em vão de shopping

    O reitor afastado da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Luiz Carlos Cancellier de Olivo, foi encontrado morto na manhã desta segunda-feira (2) em Florianópolis, por volta das 10h30.

    Ele cometeu suicídio, de acordo com a Polícia Civil. O corpo estava no vão central do Beiramar Shopping, um dos mais tradicionais de Florianópolis, que confirmou a morte no final da manhã.

    "A gente só ouviu o barulho, bem alto", contou uma lojista do shopping à Folha. Cancellier caiu ao lado da escada rolante, no primeiro piso.

    No mês passado, ele e outras seis pessoas ligadas à UFSC foram presos em uma operação da Polícia Federal. O grupo é suspeito de desviar recursos que deveriam ser investidos em programas de EAD (Educação a Distância).

    O reitor foi liberado no dia seguinte, mas continuava afastado da universidade por decisão judicial. Acusado de tentar obstruir as investigações, ele negava envolvimento em irregularidades.

    As lojas do Beiramar Shopping funcionavam normalmente no final da manhã, mas o local em que o corpo foi encontrado continuava isolado e coberto por um toldo. O Beiramar tem sete pavimentos, entre lojas e garagens, que dão acesso ao vão. A suspeita é que Cancellier tenha pulado de um deles.

    A UFSC, em nota, lamentou a morte do reitor e informou que suspendeu todas as atividades acadêmicas e administrativas por três dias, "em função do trágico acontecimento".

    O corpo do reitor será velado na reitoria da universidade, ainda na tarde desta segunda (2). O enterro ocorrerá na terça (3), a partir das 16h, no cemitério Jardim da Paz, em Florianópolis.

    'EXÍLIO'

    Cancellier, 60, era doutor em direito pela UFSC e professor da universidade desde 2005. Foi eleito reitor no ano passado.

    Antes de se formar, atuou como jornalista e participou de campanhas pela anistia e pelas Diretas-Já, como assessor de deputados catarinenses. Participou do movimento estudantil na UFSC e se graduou em 1998, quando retomou os estudos.

    Na época da deflagração da Operação Ouvidos Moucos, que levou à prisão de Cancellier, a UFSC informou ter sido "tomada de absoluta surpresa" pela detenção do reitor.

    Em entrevista recente ao "Diário Catarinense", ele disse que a prisão foi uma "humilhação completa" e que se sentia "exilado" da própria universidade.

    "Este afastamento é um exílio. Eu moro a três metros da universidade. Saio de casa e estou dentro da universidade. E não posso entrar na casa em que vivo e convivo desde 1977. As manifestações me dão conforto. O corpo está muito sofrido, mas a solidariedade conforta a alma", afirmou ao jornalista Moacir Pereira.

    Cancellier estava afastado da reitoria pela Justiça e proibido de entrar na universidade. Na semana passada, ele conseguiu uma autorização para circular nas dependências da universidade por três horas, durante o processo seletivo de alunos de mestrado e doutorado.

    O professor era suspeito de ter obstruído as investigações na UFSC, segundo a PF, o que ele negava.

    De acordo com sua defesa, Cancellier solicitou à corregedoria da UFSC, que investigava os desvios, informações sobre o caso, já que as verbas para o programa haviam sido suspensas. "Foi tudo feito oficialmente; isso não representava qualquer entrave para a investigação", afirma o advogado Hélio Brasil.

    Em nota, os advogados do reitor lamentaram a morte e disseram que "a injustiça sobre os ombros de uma pessoa inocente é um fardo por demais pesado e muito difícil de ser suportado".

    "Que sua dolorosa partida sirva de reflexão para todos, especialmente àqueles ávidos por holofotes que, entorpecidos por ego e vaidade, extrapolam suas funções institucionais, e aos demais que divulgam e replicam notícias de maneira açodada e equivocada, destruindo carreiras, reputações e vidas", afirmaram, em nota, os advogados do escritório Galli, Brasil, Prazeres.

    A Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior) declarou ser "inaceitável que pessoas de bem [...] tenham a sua honra destroçada em razão da atuação desmedida do aparato estatal". "É inadmissível que o país continue tolerando práticas de um Estado policial, em que os direitos mais fundamentais dos cidadãos são postos de lado em nome de um moralismo espetacular", informou a instituição, em nota.

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