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    Polícia apura ação de engenheiro em túnel que levaria a cofre com R$ 1 bi

    THIAGO AMÂNCIO
    DE SÃO PAULO

    03/10/2017 13h42 - Atualizado às 19h25

    Reprodução/TV Globo
    Polícia encontra túnel que levaria a cofre de banco na Zona Sul de São Paulo
    Túnel encontrado na zona sul de São Paulo levaria a agência bancária

    Os suspeitos de planejarem um roubo de R$ 1 bilhão de uma base de distribuição do Banco do Brasil na zona sul de São Paulo, presos na noite desta segunda (2), investiram R$ 4 milhões no crime, segundo as investigações da Polícia Civil. Eles usaram equipamento sofisticado e alto conhecimento técnico, de acordo com o delegado Fábio Pinheiro Lopes, que comandou a apuração.

    Entre as 16 pessoas que foram presas em um imóvel na zona norte considerado a base da quadrilha, estava um serralheiro. Foi encontrada também uma máquina de solda e corte a plasma (usada para cortar aço de navio, segundo o delegado), que seria utilizada para construir, ali mesmo, a estrutura de escoamento do dinheiro –com mil metros de trilho e dez carrinhos.

    O delegado também suspeita da participação de um engenheiro ou mestre de obras no planejamento da escavação do túnel, que tem cerca de 500 metros e liga uma outra casa, na zona sul, ao banco.

    A polícia afirma que pode haver quatro foragidos, mas garante que os líderes foram pegos na operação. "Os cabeças estão aqui. Quem não tá é o que a gente chama de mão-de-obra, ou, na gíria, os 'tatuzeiros', aqueles contratados para fazer a escavação."

    O grupo deve responder por formação de quadrilha e tentativa de furto –um suspeito pode ser acusado ainda de falsidade ideológica, por usar documento falso.

    INVESTIGAÇÕES

    Segundo Lopes, a Polícia Civil identificou um "burburinho" há três meses de que haveria uma "ação bilionária" na cidade. "Como cada meio tem a sua fofoca, a sua conversa, começa-se a falar na área criminosa, às vezes um advogado, às vezes um criminoso: 'Nossa, parece que vai ter um roubo bilionário'".

    A quadrilha foi identificada, e o QG do grupo foi encontrado há um mês em um galpão na avenida Masao Watanabe, extremo norte de SP –um local antes pacato, mas que há três meses passou a ter movimentação intensa. "Conseguimos um imóvel nas proximidades e passamos a monitorar essa quadrilha diuturnamente."

    Com a suspeita de que a cifra roubada chegaria a R$ 1 bilhão, a polícia restringiu a busca a locais que poderiam armazenar esse montante e chegou à base de distribuição do Banco do Brasil na Chácara Santo Antônio, na zona sul –o local visado, centro que guarda depósitos compulsórios de bancos, pode armazenar até R$ 5 bilhões.

    Túnel

    Em junho, os bandidos alugaram uma casa na rua Antônio Buso, a 650 metros do banco, por R$ 2.000 mensais, com um documento falso (chegaram a atrasar o aluguel uma vez). A partir daí, passaram a escavar o túnel, segundo o delegado. Na manhã desta terça (3), as paredes e chão do imóvel estavam sujos de terra, e havia um gerador e uma série de colchões empilhados. A rua, pequena e de paralelepípedos, tinha grande movimento de curiosos.

    Para evitar serem vistos da rua, os bandidos trocaram o portão da casa. Fizeram pouco barulho durante as escavações, apenas no momento de quebrar o piso, pois o terreno na região é argiloso, de acordo com Lopes.

    O túnel que sai da casa vai até a galeria de águas pluviais da região, da prefeitura. Os bandidos aproveitaram essa estrutura, que passa perto do banco, e a partir dela cavaram a última parte do túnel, até um cofre da instituição.

    "A gente procurou o pessoal do banco, que falou: 'Não, lá não tem como isso ocorrer'. A gente pediu uma vistoria e eles detectaram uma rachadura em um dos cofres, que seria o alvo da quadrilha", diz o delegado. "A gente acredita que possa ter algum [envolvimento de funcionário] terceirizado, prestador de serviço do banco. Isso a gente vai saber no decorrer das investigações."

    O túnel já estava pronto, e os bandidos montavam a estrutura dos trilhos na zona norte. "Esse assalto, pelo que consta, seria num fim de semana. Possivelmente na sexta-feira que vem", diz. No local, foram encontrados documentos, como uma conta de luz, que os liga ao imóvel da zona sul.

    A polícia disse ter escolhido agir num momento em que havia mais suspeitos no local –surpreendidos, eles não reagiram. Não foram encontradas armas na casa. "A arma, pelo que consta, seria no dia da retirada do dinheiro. Eles teriam uma escolta violenta, uma escolta muito grande."

    Tunel Banco do Brasil

    O delegado diz ver ligações do líder do grupo, Alceu Ceu, 35, com outros casos do tipo, como o roubo a uma transportadora de valores no Paraguai em abril. Apesar de esta ação ser atribuída à facção criminosa PCC, o delegado afirma não garantir envolvimento de Ceu com o grupo. "A gente acha que ele participou desses crimes, sim. Como mentor, financiador e executor."

    Dos 16 presos, quatro não tinham passagem pela polícia, segundo a Justiça, e dois eram procurados. Os suspeitos passaram a noite no Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), onde não negaram nem confessaram o crime, e foram ouvidos por um juiz no fórum da Barra Funda, que decidiu manter a prisão.

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