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    Justiça do DF autoriza família a plantar maconha em casa para tratar filha

    REYNALDO TUROLLO JR.
    DE BRASÍLIA

    05/10/2017 19h50 - Atualizado às 20h20

    Steve Dipaola-3.jul.2015/Reuters
    A Cannabis plant is pictured at the "Weed the People" event as enthusiasts gather to celebrate the legalization of the recreational use of marijuana in Portland, Oregon July 3, 2015. Smoking marijuana became legal in Oregon on July 1, fulfilling the first step in a voter-approved initiative that will usher in a network of legal weed retail stores in 2016, similar to the systems already operating in neighboring Washington state and Colorado. REUTERS/Steve Dipaola ORG XMIT: POR022
    Folhas de cannabis

    Por unanimidade, a 1ª Turma Criminal do TJDFT (Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios) autorizou a família de uma adolescente que sofre com convulsões a plantar maconha em casa para fins medicinais.

    A decisão, desta quinta-feira (5), é inédita no Distrito Federal, segundo a advogada da família, Daniela Peon Tamanini.

    Moradora de Brasília, a adolescente de 16 anos é portadora da síndrome de Silver-Russell. Aos três anos de idade, após ser medicada com Nimesulida (um remédio convencional), ela teve reações que levaram a uma hemiparesia (paralisia de um dos lados do corpo –no caso, o direito).

    Segundo Tamanini, a jovem chega a ter 40 convulsões em uma manhã. Neta de médicos, ela passou por vários tratamentos da medicina convencional, até que, há cerca de um ano, descobriu o tratamento com a Cannabis, com acompanhamento médico.

    A família, de acordo com a advogada, chegou a conseguir autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para importar a substância canabidiol (CBD), mas o custo era alto, de US$ 1.000 por mês.

    Além disso, segundo Tamanini, a Anvisa não permitia a importação de tetrahidrocanabinol (THC), que ameniza a dor.

    "A família precisou recorrer ao mercado ilegal. Evidentemente, ela jamais fumou, e a substância é diferente da do mercado recreativo", disse Tamanini.

    HABEAS CORPUS

    Em maio, a família decidiu pedir à Justiça um habeas corpus para poder cultivar a Cannabis em casa. Um juiz de primeira instância negou liminarmente o pedido.

    A advogada recorreu e, nesta quinta, os três desembargadores da turma criminal autorizaram o cultivo. Na prática, segundo Tamanini, a decisão é um salvo-conduto para que a mãe e o padrasto da jovem cultivem a planta sem serem presos.

    O relator do caso, desembargador George Lopes Leite, foi à casa da família com médicos do tribunal. Eles viram a plantação e fizeram exame clínico na adolescente –o que, para a advogada, foi fundamental para que tomassem a decisão.

    "O direito à saúde seria posto em xeque se o pedido fosse negado, já que o Estado ainda não oferece os recursos necessários para assegurar uma vida digna e feliz à adolescente, tendo-se à disposição uma medida de profilaxia de efeito rápido e eficaz, de baixo custo financeiro e fácil manuseio, utilizada por tantos pacientes, aqui e alhures", afirmou o relator do caso.

    "Uma mãe que assiste a 90 convulsões diárias da filha adolescente não sabe o que é paciência, não lida com procedimentos estatais burocráticos ou com 'meias soluções'. Enxerga apenas uma única medida que 'funciona' de fato, que é natural, que já é admitida em outros países e que está dentro do seu poder de ação", afirmou Leite.

    A família deverá entregar um relatório periódico sobre o cultivo, a extração e a utilização das substâncias CBD e THC para o delegado titular da 9ª Delegacia de Polícia, que será responsável por fiscalizar o cumprimento das condições impostas pela Justiça, informou o tribunal.

    Segundo a advogada, a família cultiva duas espécies da planta que têm efeitos diferentes. A extração das substâncias é artesanal –feita em uma panela no fogão. A jovem consome o óleo e a pasta da planta e, quando precisa de efeitos imediatos, utiliza um vaporizador (faz uma espécie de inalação), de acordo com Tamanini.

    "Nosso intuito é formar uma associação para mover uma ação coletiva, porque nem todos os que precisam da Cannabis para fins medicinais têm dinheiro e 'know-how' para fazerem sozinhos", disse a advogada.

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