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    Superlotação é principal motivo de multas a vans da Grande São Paulo

    AMANDA GOMES
    DO "AGORA"

    09/10/2017 15h20

    Rivaldo Gomes/Folhapress
    Passageira entra em lotação cheia em ponto da via Dutra, em Guarulhos, na grande SP
    Passageira entra em lotação cheia em ponto da via Dutra, em Guarulhos, na grande SP

    "Pessoal, um passinho no corredor." É com esse pedido que os cobradores das lotações credenciadas à EMTU (Empresa Metropolitanas de Transportes Urbanos), empresa do governo Geraldo Alckmin (PSDB), que transportam passageiros entre cidades da Grande São Paulo e a capital conseguem colocar até 23 pessoas espremidas em pé.

    A superlotação é o principal motivo de multas recebidas pelos prestadores de serviço neste ano.

    Segundo dados obtidos via Lei de Acesso à Informação, a EMTU aplicou, de janeiro a agosto deste ano, 3.246 multas por excesso de passageiros aos 256 veículos cadastrados (entre vans e micro-ônibus) que interligam a capital a cidades como Guarulhos, Arujá e Cotia.

    Em segundo lugar no ranking estão as multas por não cumprir determinação (infração geral, como não comparecer para se explicar sobre reclamação), com 1.535 infrações, e alterar itinerário, com 1.097.

    Segundo a EMTU, as lotações podem circular com 20 passageiros sentados. E nenhum de pé. A reportagem flagrou dez veículos com ponto final na estação Armênia (linha 1-azul do metrô), na zona norte, saindo superlotados. Os próprios passageiros fazem duas filas: uma para quem quer ir sentado e outra, em pé. O trajeto pode levar 40 minutos.

    Passageiros dizem que se submetem ao incômodo e aos perigos por causa do tempo. "Eu consigo chegar em 40 minutos com a lotação. Já o ônibus levaria uma hora e meia. É horrível ir nessa situação, mas preciso", afirma a contadora Eliene Araújo Silva, 33 anos.

    A auxiliar de faturamento Rebeca Martins, 29 anos, deixou de pegar as vans após passar mal. "No calor, é insuportável. Eu quase desmaiei e percebi que não compensava o sacrifício."

    'LAMENTÁVEL'

    Horácio Augusto Figueira, especialista em transporte, afirma que as vans em trajetos intermunicipais deveriam ser abolidas. Para ele, o ideal seria implantar um modelo igual ao da capital, com micro-ônibus. "É lamentável que isso ainda ocorra. Se um veículo desses capota é um 'abraço' [morte]. É preciso pensar na segurança do passageiro antes de tudo."

    Ele afirmou que há 37 anos havia um projeto de corredor metropolitano nas rodovias, como Dutra e Raposo Tavares, que iria ajudar na questão do trânsito.

    "A culpa de não ter os corredores metropolitanos é totalmente do governo do Estado. Seria implantado o projeto parecido com o feito em Curitiba, que funciona como um expresso rodoviário no canteiro central e têm passarelas para que as pessoas possam atravessar com segurança", disse.

    ACIDENTE

    O analista de marketing Eduardo Pereira, 35 anos, passou a ficar com medo de ir de pé nas lotações e tenta evitar ao máximo embarcar nessas condições após saber que um veículo capotou no dia 28 de agosto, na Dutra.
    Por 19 anos ele foi um passageiro fiel das vans que fazem o trajeto Guarulhos-São Paulo. Tanto que começou a utilizar esse tipo de transporte público quando ele ainda era clandestino.

    O analista afirmou que, para ir trabalhar, geralmente vai sentado e usa a lotação. Porém, na volta, acaba optando pelo ônibus, por ser mais seguro. "Eu uso lotação quando quero chegar rápido ao meu destino. Na última quarta-feira precisei chegar com urgência e fui de van. Eu era o 17º passageiro em pé e fui espremido na porta", contou o analista.

    A auxiliar administrativa Erica Oliveira, 29 anos, disse que já pegou uma lotação que estava tão cheia que não sentiu as pernas no final do percurso. "Estava tão lotada que não conseguia me segurar e precisei pegar no braço de alguém. O mais desagradável é não conseguir se mexer. Além, é claro de ainda levar encoxadas dos homens. É horrível", afirmou a passageira.

    OUTRO LADO

    A EMTU, empresa do governo Geraldo Alckmin (PSDB), disse em nota que a fiscalização é feita por agentes, das 4h à meia-noite, em áreas onde há maior concentração de viagens e passageiros. A empresa afirmou ainda que, de janeiro a setembro deste ano, foi aplicado o valor total de R$ 862.352 em multas.

    Segundo a EMTU, no edital de concessão das linhas intermunicipais da região metropolitana, cuja licitação está em andamento, não está previsto o serviço de lotações.

    Sobre a crítica do especialista, a EMTU disse que há 45 km de corredores e faixa preferencial para ônibus no sistema ABD (região do ABC). Em Guarulhos, são 12,3 km, e estão em construção outros 16 km em Itapevi.

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