O novo livro de Raquel Rolnik, uma das mais importantes pensadoras sobre as cidades no Brasil, mostra que o debate (e o embate) sobre a cidade deixou de ser assunto apenas de especialistas, interessando a um público amplo, que é cada vez mais atuante nos assuntos urbanos.

Não é um livro acadêmico, embora a autora esteja cada vez mais envolvida na vida universitária. A universidade, para ela, não é uma torre de cristal onde os sábios se fecham em diálogos herméticos e descolados da realidade, mas um espaço onde o conhecimento deve ser socializado, seja para informar e formar cabeças pensantes, seja para interferir no debate sobre as políticas públicas urbanas.

Nesse sentido, a autora segue uma tradição que se consolidou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, que reúne urbanistas militantes de causas urbanas.

Linhagem iniciada por Anhaia Melo, seu primeiro diretor, que foi vereador e prefeito e que defendeu o controle do crescimento urbano, influenciando os técnicos da prefeitura dos anos 1950.

E que passa por outros docentes e ex-secretários, como Candido Malta Campos Filho, que consolidou o zoneamento e a estrutura de planejamento da cidade, batalhando por instrumentos urbanísticos para conter a especulação, e Ermínia Maricato, que luta pelo reconhecimento da cidade informal e pela democratização do acesso à terra.

A lista poderia ser mais extensa, mas essas referências bastam para mostrar que a autora integra uma instituição onde as funções de formação, pesquisa, gestão pública e militância urbana estão entrelaçadas.

O que, talvez, a diferencie é sua atuação junto nos meios de comunicação, como rádios, jornais, portais e blogs para difundir suas ideias para o grande público.

	Eduardo Anizelli/Folhapress
	A urbanista Raquel Rolnik

A coletânea, organizada em três partes, sintetiza essa trajetória, permitindo o acesso a textos que não estavam disponíveis em meio físico e, alguns, nem em meio digital.

A primeira parte é republicação do livreto "São Paulo" publicado, em 2001, na coleção "Folha Explica". O texto, sintético, oferece ao leitor leigo uma reflexão abrangente sobre a formação histórica e os conflitos da cidade.

A segunda reúne 46 artigos que a autora publicou na Folha, no portal Yahoo e no seu próprio blog, de 2012 e 2017. A terceira reúne quatro artigos publicados de 1986 a 2011, que destoam por ter uma abordagem mais acadêmica.

É, sem dúvida, na parte 2, "Embates na Cidade Contemporânea", que Rolnik sintetiza seu pensamento atual sobre os principais temas da cidade, combinando competência técnica, sagacidade crítica e espírito militante.

Em um cenário de disputa ideológica sobre os rumos da cidade, na gestão Haddad, defende um ideário urbanístico crítico ao modelo de desenvolvimento urbano brasileiro.

Escrevendo sob o calor dos acontecimentos, próprio dos textos jornalísticos, a autora trata de temas polêmicos, como Plano Diretor, especulação imobiliária, faixas de ônibus, atualização do IPTU, Carnaval de rua, fechamento de avenidas, espaço público e ocupação de prédios ociosos, entre outros.

Territórios Em Conflito

Raquel Rolnik

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No momento em que movimentos e coletivos atuam com rara vivacidade na arena pública, os textos de Rolnik repercutem no cenário político, influenciando posicionamentos e propostas.

Não configuram uma proposta urbanística acabada, mas, ao formar a opinião de ativistas, contribui para a transformação da cidade.

Afinal, como a autora afirma no capítulo sobre o século 21, o destino da cidade "está, mais do que nunca, na mão dos seus moradores".

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Territórios em conflito - São Paulo: espaço, história e política

AUTORA Raquel Rolnik

EDITORA Três Estrelas

QUANTO R$ 49,90 (280 pág.)