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    tragédia no rio doce

    Vinte afluentes do rio Doce ainda recebem lama da Samarco, diz Ibama

    JOSÉ MARQUES
    DE SÃO PAULO
    CAROLINA LINHARES
    DE BELO HORIZONTE

    26/10/2017 12h26 - Atualizado às 17h41

    Relatório do Ibama divulgado nesta quinta-feira (26) aponta que, até o mês de agosto, 20 dos 109 afluentes do rio Doce vistoriados ainda recebiam lama de rejeitos minerais vinda do rompimento da barragem de Fundão, operada pela Samarco, que aconteceu em 5 de novembro de 2015.

    Essa lama, que ficou depositada nas proximidades dos rios, pode poluir a água. Nesses 20 afluentes, foram verificados processos erosivos que carregam o rejeito para dentro da bacia –ou seja, a lama não foi contida ou retirada das margens por ações emergenciais mesmo após dois anos do rompimento.

    Os braços do rio que ainda recebem rejeito, segundo o instituto, devem "passar por intervenções corretivas relativas às ações emergenciais, tendo em vista que foi constatada ausência ou deficiência na implementação das técnicas que resultam na contenção de processos erosivos e consequentemente no carreamento de rejeito para os cursos d'água".

    A inspeção foi realizada entre os dias 21 e 30 de agosto deste ano. Foram analisados 109 afluentes na área mais danificada pela passagem da lama, nos 100 km entre Mariana (MG) e a usina hidrelétrica de Candonga, que conteve a maior parte dos rejeitos.

    No geral, a vistoria do Ibama aponta que todos os parâmetros de recuperação do meio ambiente melhoraram nos últimos meses. Não há novos vazamentos de dentro de Fundão desde o ano passado.

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    As ações de recuperação ambiental são de responsabilidade da Fundação Renova, entidade criada e bancada pela Samarco e suas controladoras (Vale e BHP Billiton), e foram determinadas por um acordo assinado entre as mineradoras e os governos federal e dos Estados de Minas e Espírito Santo.

    O acordo, contudo, não foi homologado pela Justiça e deve sofrer revisões.

    O acordo determina a reabilitação de 2.000 hectares de rios e afluentes impactados —as obras foram concluídas em 1.685 hectares, segundo a Renova. As ações incluem reconstrução das margens, drenagem, controle de erosão e revegetação emergencial com plantas de crescimento rápido.

    Segundo o Ibama, dos 109 afluentes, 17 estão em um estado ideal para que se inicie o plantio de mudas nativas de Mata Atlântica —última etapa da recuperação ambiental. Outros 72 afluentes também podem receber as mudas nativas, mas ainda precisam de ações de correção.

    O acordo prevê recuperar 40 mil hectares de Áreas de Preservação Permanente (APPs). Segundo a Renova, o plantio de mudas nativas deve começar ainda neste ano.

    HISTÓRICO

    O rompimento da barragem de Fundão matou 19 pessoas e devastou 650 km até desaguar no mar do Espírito Santo.

    Foi o maior derramamento de rejeito mineral do mundo. No total, 40 bilhões de litros foram despejados no ambiente e se misturaram com metais pesados durante o percurso. Ainda não se sabe exatamente quais locais estão contaminados e o impacto na saúde da população.

    Atualmente, as três empresas, a consultoria VogBR e 22 pessoas respondem por processo criminal na Justiça Federal de Ponte Nova (MG) pelo episódio.

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    OUTRO LADO

    Procurada pela reportagem, a Fundação Renova informou que "executa atualmente trabalhos constantes de reabilitação ambiental e manutenção em 1.685 hectares e 101 afluentes, com suas 12 derivações". Afirmou ainda que irá incorporar as recomendações do Ibama.

    Segundo a Renova, a conclusão dessa ação de recuperação está prevista para o primeiro trimestre de 2020.

    A fundação destacou também que vários indicadores verificados pelo Ibama tiveram melhoria em relação ao relatório anterior, divulgado em março.

    "Foi registrado aumento da ocorrência de organismos aquáticos macroscópicos que passou de 65,38% para 76% no período. O índice é mais uma confirmação de que a vida está retornando para os pequenos cursos d'água, em razão dos trabalhos em curso. A presença de animais silvestres também aumentou de 46% para 86%", diz em nota.

    A Renova também chama atenção para o aumento nas áreas onde não foi constatada erosão –10% em março contra 48% agora.

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