• Cotidiano

    Sunday, 05-May-2024 04:42:53 -03

    Tombamento do Anhembi ameaça projeto de privatização de Doria

    GUILHERME SETO
    DE SÃO PAULO

    30/10/2017 02h00

    Rafael Roncato/Folhapress
    Complexo do Anhembi, na zona norte. Pavilhão de exposições e Auditório Celso Furtado ("pudim") todo o complexo é alvo de processo de tombamento no Conpresp.
    Pavilhão do Anhembi, na zona norte de São Paulo; que deve ser vendido pela gestão Doria (PSDB)

    Um processo de tombamento do complexo do Anhembi, na zona norte de São Paulo, pode atrapalhar os planos que a gestão João Doria (PSDB) tem de privatizar o local. A decisão do conselho de conservação municipal de São Paulo pode derrubar os valores das ofertas dos futuros interessados e atrasar o cronograma do prefeito.

    O tombamento da área, atualmente tramitando no Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico), deve impedir que atuais estruturas do Anhembi sejam alteradas sem autorização do órgão, o que a prefeitura teme que gere desvalorização do complexo para interessados.

    Diante da impossibilidade de fazer alterações radicais no espaço, as empresas devem ter dificuldades em desenvolver seus negócios e podem oferecer valores em patamares mais baixos na licitação do que era esperado.

    Em outubro de 2016, em artigo publicado na Folha, Doria disse esperar R$ 7 bilhões das vendas do Anhembi e do autódromo de Interlagos.

    Quase toda a área de 400 mil metros quadrados do Anhembi é objeto do processo de tombamento: o pavilhão de exposições, o Palácio de Convenções, a sede da SPTuris (empresa de turismo e eventos da cidade), um jardim projetado pelo paisagista Roberto Burle Marx e a área do estacionamento.

    O sambódromo é a exceção e não será contemplado pelo processo de tombamento.

    "A área entrou em processo de tombamento por conta da possível relevância para a arquitetura moderna (...) É importante no sentido em que mostra uma característica moderna que é a experimentação. Por exemplo, todo o processo de elaboração envolveu pesquisa de materiais para a estrutura metálica do pavilhão. Isso vale também para o 'pudim' [auditório Celso Furtado], no Palácio de Convenções", explica Mariana Rolim, diretora do Departamento de Patrimônio Histórico da prefeitura, membro do Conpresp e relatora do processo de tombamento.

    Para Cyro Laurenza, presidente do Conpresp, o tombamento deve ser pontual."O pavilhão, apesar das boas lembranças, tornou-se algo indesejado. Quando chove fora, também chove dentro, o teto está furado. Já está tombando, a despeito do saudosismo", analisa.

    "Tem engenheiros que dizem que modernizar não é mais uma opção financeiramente interessante para o pavilhão. Outros apresentam soluções diversas (...) É complicado pensar em adaptações pela dificuldade na instalação do ar-condicionado, por exemplo", afirma Rolim.

    "Há construções que valeria a pena tombar, como o Palácio de Convenções, o auditório Elis Regina, o jardim. Sobre o pavilhão, não vejo valor arquitetônico em si, e ele tem problemas estruturais. É muito grande e poderia ter melhor uso", afirma Gabriel Rostey, especialista em política urbana.

    O processo de tombamento tem prazo limite de definição em março. Caso se arraste até lá, pode empurrar para o meio do ano a transferência do espaço para a iniciativa privada, que o prefeito gostaria de ver já concluída no início do próximo ano.

    DESESTATIZAÇÃO

    Por ser alvo de privatização, e não de concessão, o Anhembi seria um dos itens do pacote de desestatizações de Doria que poderia ter impacto imediato, tanto em termos de retorno financeiro para a prefeitura como na execução de reforma do local pelo possível interessado.

    Em audiência pública em setembro, Wilson Poit, secretário de Desestatização e Parcerias, disse que o Executivo aguardará a decisão do órgão.

    "Só faremos a privatização após termos a decisão final do Conpresp, que está em andamento e tem data para terminar", disse. À Folha, afirmou que vai esperar o Conpresp para se pronunciar.

    O programa de privatizações é peça central da agenda de Doria, que trava disputa interna no PSDB com o governador Geraldo Alckmin pela escolha do candidato do partido nas eleições à Presidência no ano que vem.

    Para ser candidato em 2018, o prefeito terá de deixar o cargo até o início de abril.

    O Conpresp é composto por nove titulares, cada um representando uma entidade específica, como a Ordem dos Advogados do Brasil e a Secretaria de Cultura.

    -

    Tombamento do complexo do Anhembi

    Processo abrange espaços de exposição e convenção

    Inaugurado em 1970, complexo na zona norte de SP inclui áreas para exposição, convenção e o sambódromo, entre outras

    Área total do complexo: 400 mil m², divididos em sambódromo, pavilhão de exposições e palácio das convenções

    - 3,5 milhões de pessoas, aproximadamente, visitam o local anualmente

    - 150 eventos, em média, são realizados, como feiras de negócios, desfiles de Carnaval e shows

    - O sambódromo não faz parte da proposta

    - Palácio das Convenções: 37 mil m² (quatro auditórios, cinco halls e quatro salas)

    - Pavilhão de exposições: 74,5 mil m²

    - Espaços como o estacionamento e um jardim (de Roberto Burle Marx) também fazem parte do tombamento

    - Custo por ano: R$ 67 milhões (segundo a prefeitura)

    - Em que fase está no processo de privatização: Câmara aprovou a alienação em 1ª votação; a 2ª deve acontecer ainda em novembro

    - Tombamento tramita no âmbito municipal

    -

    O Anhembi foi colocado na pauta desta segunda (30), o que não significa que haverá votação. Sucessivas reuniões sobre o mesmo tema são comuns no órgão. A definição se dará por maioria simples.

    A alienação do complexo do Anhembi será feita em pacote conjunto com a SPTuris, que tem cerca de 450 funcionários e receita anual de R$ 250 milhões.

    No projeto de lei aprovado pela Câmara Municipal em primeira votação está estabelecido que 75 dias ao ano da agenda do Anhembi terão que ser reservados ao Carnaval e a eventos religiosos.

    A segunda votação deve acontecer nas próximas semanas. Até o momento, os vereadores já deram aval para a concessão do estádio do Pacaembu, do Mercadão, do sistema de bilhetagem, dos terminais de ônibus e o sistema de guincho e pátios de carros.

    A prefeitura ainda precisa contratar instituição financeira para avaliar os ativos da SPTuris antes de lançar o edital para a privatização.

    Em setembro, o Tribunal de Contas do Município suspendeu edital de contratação dessa instituição por enxergar no processo um possível conflito de interesses: um banco que eventualmente faça a avaliação poderia aparecer no futuro como comprador do Anhembi.

    -

    CONCESSÕES E PRIVATIZAÇÕES
    Equipamentos que a gestão Joao Doria (PSDB) pretende ceder à iniciativa privada

    108 parques
    Custo por ano: R$ 180 milhões
    Em que fase está: Câmara já aprovou a concessão; prefeitura recebeu PMIs* e está elaborando edital
    O que a prefeitura quer: Conceder "combos" com parques cobiçados e desvalorizados, para que os últimos sejam revitalizados

    27 terminais de ônibus
    Custo por ano: R$ 150 milhões
    Em que fase está: Câmara já aprovou a concessão; prefeitura aguarda respostas dos PMIs*
    O que a prefeitura quer: Transformar estes terminais em polos de desenvolvimento e recuperar seu entorno

    Bilhete Único
    Custo por ano: R$ 107 milhões (só a parte da prefeitura; valor total é dividido com o Estado)
    Em que fase está: Câmara já aprovou a concessão; prefeitura aguarda respostas dos PMIs*
    O que a prefeitura quer: Permitir que sejam exploradas outras funções do cartão, como crédito e débito

    Autódromo de Interlagos
    Custo por ano: R$ 55 milhões
    Em que fase está: Projeto foi protocolado na Câmara e deve ser votado em novembro
    O que a prefeitura quer: Preservar pista e parque, permitindo que sejam construídos imóveis residenciais, shopping, hotel etc.

    Estádio do Pacaembu
    Custo por ano: R$ 9 milhões
    Em que fase está: Câmara já aprovou a concessão; prefeitura recebeu PMIs* e está elaborando edital
    O que a prefeitura quer: Modernizar o estádio, com o investimento em eventos diversos e na melhoria de serviços, como banheiros

    *Procedimentos de Manifestação de Interesse; nesta fase, empresas ou pessoas interessadas desenvolvem projetos e estudos sobre o imóvel ou serviço a ser concedido

    Fonte: Prefeitura de São Paulo

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024