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    Jovem morta ao dar carona dividia trajetos para visitar o namorado

    ANA LUIZA ALBUQUERQUE
    DE CURITIBA

    04/11/2017 02h00

    Reprodução/Facebook
    A jovem Kelly Cristina Cadamuro, 22
    A jovem Kelly Cristina Cadamuro, 22

    Era fim de tarde de quarta-feira (1º) quando a auxiliar administrativa Mariana Serafim, 22, marcava para este sábado (4) um encontro com sua amiga de infância Kelly Cristina Cadamuro, 22. No dia seguinte, Mariana foi surpreendida pela notícia de que aquelas mensagens seriam as últimas trocadas com a colega, que conhecia havia 13 anos.

    Na véspera do feriado, Kelly saiu de São José do Rio Preto (SP) para visitar o namorado em Itapagipe (MG). Cerca de 120 km separam as duas cidades. O relacionamento à distância impunha que a viagem de duas horas fosse feita com frequência –a jovem costumava oferecer carona para diminuir os custos do trajeto.

    Naquela tarde, o pedreiro Jonathan Prado, 33, sentaria no banco do passageiro. Os dois haviam combinado a carona por meio de um grupo no WhatsApp. Jonathan disse a Kelly que uma mulher os acompanharia, mas chegou sozinho para a viagem.

    À noite, a jovem parou de responder amigos e familiares. Dado o desaparecimento, a polícia foi acionada. Na tarde de quinta-feira (2), o corpo de Kelly foi encontrado em um riacho próximo a Frutal (MG). Já o carro foi achado sem rodas, em uma estrada rural de São Paulo.

    Três suspeitos foram presos pelo crime: Jonathan, que estava foragido do sistema prisional desde março de 2017, Daniel Teodoro, que já tinha passagem por roubo, e Wander Cunha, primo do carona.

    Os três continuam presos preventivamente enquanto as investigações prosseguem. Questionada sobre os nomes de eventuais advogados dos suspeitos, a Polícia Civil de Minas Gerais não respondeu até a conclusão desta edição.

    Jonathan, autuado por latrocínio, assumiu o crime em depoimento. Ele disse que já havia utilizado o WhatsApp para obter caronas, mas que, dessa vez, decidiu efetuar o assalto.

    Segundo o criminoso, a intenção era roubar o carro, mas Kelly ofereceu resistência e, por isso, foi morta. Ainda de acordo com ele, os outros dois suspeitos foram responsáveis por comprar as peças roubadas. Eles foram autuados por receptação.

    A Polícia Civil de Frutal não entendeu o crime como um caso de feminicídio. De acordo com o delegado Bruno Giovanini de Paula, seria possível falar em feminicídio caso tivesse ocorrido violência sexual.

    O laudo do Instituto Médico Legal informou que Kelly morreu por asfixia. Exames complementares dirão se a vítima foi estuprada. Ela foi encontrada sem as calças. O suspeito disse à polícia que, ao dispensar o corpo, segurou a jovem pelas pernas e, por isso, a vestimenta teria caído.

    PERFIL

    Mariana descreve a amiga como uma pessoa "muito tranquila, sempre muito 'acanhadinha'". "Às vezes ela tinha uma dúvida e mandava eu perguntar para o professor porque ficava com vergonha", conta.

    Kelly era atendente em uma loja de óculos e havia acabado de se formar em um curso de radiologia. "Estava finalizando as horas de estágio. Era uma menina de família, batalhadora. Não fazia mal nem para uma formiga", diz.

    Mariana afirma que a amiga costumava combinar caronas –geralmente com estudantes da região de Rio Preto cuja família mora perto de Itapagipe. "Não sei esse grupo do WhatsApp como funciona, qual era o critério dos membros. Acho que deveriam pôr gente só da faculdade."

    CARONA

    A prática de carona compartilhada é comum em todo o mundo e é possível encontrar dezenas de grupos nas redes sociais para este fim.

    Em diversos deles, a notícia da morte de Kelly causou revolta e preocupação, especialmente entre as mulheres. "Eu só dou carona para mulheres e vasculho a vida antes de pegá-la. E mesmo assim sei dos riscos. Mas sempre dei sorte de conhecer pessoas boas. Tristeza esse acontecimento", escreve uma usuária.

    Em outro grupo, internautas dão orientações sobre a prática da carona, como nunca fazer uma viagem com somente mais um passageiro, manter contato com amigos e familiares e deixar um número de emergência pronto para ser discado.

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