• Cotidiano

    Monday, 06-May-2024 17:58:27 -03

    Doria só consegue vender 22% de títulos imobiliários da Faria Lima

    GUILHERME SETO
    DE SÃO PAULO

    04/11/2017 02h00

    Diego Padgurschi /Folhapress
    Favela Coliseu, na Vila Olímpia, pode ter construção de habitação atrasada
    Favela Coliseu, na Vila Olímpia, pode ter construção de habitação atrasada

    O primeiro leilão da gestão João Doria (PSDB) para alavancar recursos do setor imobiliário naufragou. Somente 21,7% dos títulos oferecidos pela prefeitura foram vendidos, o que reduz o tamanho da verba a ser usada em investimentos em São Paulo.

    De R$ 293,9 milhões que foram colocados em leilão, apenas R$ 63,9 milhões foram comercializados. Todos os ativos referem-se à Operação Urbana Faria Lima e encontraram apenas um interessado, a corretora Socopa, que adquiriu 9.781 títulos em leilão em meados de setembro.

    As empresas do setor imobiliário compram esses títulos chamados Cepacs (Certificados de Potencial Adicional de Construção) para poderem construir edifícios mais altos e com mais unidades do que manda a lei de zoneamento, além de aumentar a área construída do imóvel.

    Em contrapartida, a prefeitura aplica os rendimentos da venda de Cepacs em perímetros de Operações Urbanas, ou seja, zonas que o município deseja modernizar. São quatro: Centro, Água Branca, Água Espraiada e Faria Lima.

    No caso da Faria Lima, o dinheiro possibilitou ao longo dos anos obras como a construção de dois túneis, a transformação do largo da Batata e a construção de conjuntos habitacionais na favela do Real Parque.

    Com a baixa venda, projetos que têm se arrastado há anos podem ter seus cronogramas ainda mais estendidos, como a habitação na favela Coliseu, na Vila Olímpia.

    Bruno Santos/Folhapress
    Prédios na avenida Brigadeiro Faria Lima, na zona oeste de São Paulo
    Prédios na avenida Brigadeiro Faria Lima, na zona oeste de São Paulo

    Os R$ 64 milhões da gestão Doria são proporcionalmente inferiores ao que foi arrecadado por administrações anteriores com os leilões -ou seja,ele vendeu menos nesse primeiro leilão do que as médias de seus antecessores.

    De 2009 a 2012, no segundo mandato de Gilberto Kassab (PSD), cerca de R$ 3 bilhões foram para os cofres. Durante a gestão Fernando Haddad (PT), R$ 210,6 milhões foram juntados.

    Doria trava disputa interna no PSDB com o governador Geraldo Alckmin para a escolha do candidato do partido à Presidência. Um bom resultado no leilão poderia ajudá-lo a engordar o caixa da prefeitura para o ano eleitoral.

    INVESTIMENTOS

    Com o baixo retorno, intervenções da prefeitura financiadas com dinheiro da Operação Faria Lima podem ser prejudicadas. Vladimir Ávila, diretor de gestão das Operações Urbanas, aponta prioridades de investimentos definidas para o arrecadado no leilão.

    "Como o dinheiro não está cobrindo tudo, vamos terminar obras que já começaram. Vamos entrar na fase 3 da revitalização do largo da Batata; terminar a urbanização de encosta na favela Real Parque; tocar o projeto de construção de habitação na favela Coliseu, que tem urgência", disse.

    O arquiteto Kazuo Nakano, professor do centro universitário Belas Artes e ex-diretor do departamento de Urbanismo da Secretaria de Desenvolvimento Urbano (2013-2014), questiona o modo de funcionamento das operações.

    "Faltam terrenos vazios na Faria Lima depois de tanta exploração nas décadas anteriores. Sem terrenos, não tem motivo para as empresas comprarem potencial construtivo. Talvez por isso tenha sido um fracasso."

    A secretária de Urbanismo e Licenciamento, Heloisa Proença, avalia como positivo o resultado do leilão. "Dada a conjuntura macroeconômica e a condição do mercado imobiliário, festejamos o resultado, que seria ainda melhor se a CVM [Comissão de Valores Mobiliários] não impusesse o pagamento à vista pelos interessados", argumentou.

    "Não é possível comparar com as gestões anteriores de maneira linear. Entre 2009 e 2012, os leilões passaram pelo auge imobiliário."

    Editoria de Arte/Folhapress
    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024