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    Entenda porque os gays no Brasil sofrem restrição na doação de sangue

    DE SÃO PAULO

    12/11/2017 02h00

    A restrição à doação de sangue por homens gays entrou no centro de uma polêmica. A questão, que é analisada no Supremo Tribunal Federal, não encontra consenso entre médicos.

    Duas portarias do Ministério da Saúde e da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) consideram "homens que fazem sexo com homens" inaptos a doarem por até 12 meses após as relações sexuais. Quem questionou as medidas foi o PSB.

    Entenda abaixo como funciona hoje a doação de sangue no Brasil.

    *

    Como é hoje?
    Portarias do Ministério da Saúde e Anvisa impedem a doação de sangue por homens que, até 12 meses antes, "tiveram relações sexuais com outros homens e/ou parceiras sexuais destes".

    O que está em jogo?
    O STF iniciou julgamento de uma ação do PSB (Partido Socialista Brasileiro) que questiona essa restrição, alegando que ela é discriminatória.

    Qual é a justificativa para a restrição?
    O governo argumenta que há um risco comprovadamente maior de doenças sexualmente transmissíveis entre esses grupos –com incidência de HIV até 19 vezes maior. Como existe um intervalo entre algumas infecções e a possibilidade de sua detecção em exames, testes podem não identificar o vírus. Hoje, esse período varia de 12 a 35 dias.

    O que o Ministério da Saúde e a Anvisa dizem?
    Negam discriminação e afirmam que o período de um ano segue "princípio de precaução" na saúde, medida que também vale para outras restrições na portaria, como pessoas que fizeram tatuagem.

    Qual é a posição de entidades LGBT?
    Elas afirmam que a norma é discriminatória e retoma o conceito do "grupo de risco", utilizado no início da epidemia da Aids no Brasil. O ideal, afirmam, seria haver restrições à doação após comportamentos de risco, como sexo sem proteção e rotatividade de parceiros

    Como deve ficar?
    Ainda não há previsão. Até agora, cinco ministros já votaram –quatro deles a favor da retirada da restrição. Já Alexandre de Moraes abriu uma divergência e sugeriu que o sangue doado por homens gays seja separado, armazenado e passe por novos testes

    Desde quando existe essa restrição temporária para gays?
    Desde 2002. Antes, gays eram considerados inaptos a doar sangue de forma definitiva.

    Como é em outros países?
    A restrição segue recomendação da OMS mas, em geral, a situação varia. Segundo a Anvisa, Áustria e Venezuela têm normas mais restritivas que o Brasil. Outros, porém, têm regras semelhantes ou retiraram a restrição:
    - EUA: desde 2015, regra é semelhante à brasileira; antes, gays e bissexuais eram proibidos de doar definitivamente
    - França: desde 2016, regra é semelhante à brasileira; antes, gays e bissexuais eram proibidos de doar definitivamente
    - Espanha e Colômbia: não colocam restrições entre homossexuais e héteros na doação

    Quem pode doar no Brasil hoje?
    Pessoas de 16 anos (é preciso autorização dos pais ou responsáveis até os 18 anos) a 69 anos, que pesem no mínimo 50 kg e estejam em boas condições de saúde, tendo dormido ao menos 6 h nas últimas 24 h antes da doação

    Além de homens que fazem sexo com homens, também não podem doar pessoas que:
    - Realizaram cirurgias e exames invasivos ou se vacinaram recentemente
    - Ingeriram determinados medicamentos
    - Fizeram tatuagem nos últimos 12 meses
    - Têm histórico recente de algumas infecções
    - Viajaram a locais com alta incidência de doenças com impacto transfusional
    - Apresentaram sintomas ou temperatura do corpo alterada na hora da doação

    Fontes: Ministério da Saúde, STF e grupos LGBT

    Editoria de Arte/Folhapress
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