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    Doria demite gestor que admitiu 'problema com enchente' em janeiro

    GIBA BERGAMIM JR.
    GUILHERME SETO
    DE SÃO PAULO

    15/11/2017 10h01

    O prefeito João Doria (PSDB) demitiu nesta quarta-feira (15) um gestor regional da cidade por causa de suas reclamações públicas sobre a redução de verbas para 2018.

    Durante audiência na zona norte da cidade no último sábado (11), como a Folha revelou, o prefeito regional Paulo Cahim disse que a região da Casa Verde/Cachoeirinha poderia ser afetada por enchentes como consequência da não realização da limpeza de um piscinão. As declarações dele ocorreram no momento em que a gestão Doria gastou somente 21% do orçamento previsto para contenção de enchentes.

    A demissão de Cahim evidencia uma nova estratégia de Doria diante de funcionários da prefeitura envolvidos em qualquer tipo de polêmica.

    Nos últimos dez dias, três assessores foram demitidos horas após seus casos terem vindo à tona. O primeiro desses exonerados foi o então chefe de gabinete da Comunicação, após ter sido flagrado em gravação em tentativas de dificultar o acesso de jornalistas a dados públicos. Já o segundo demitido foi o filho de um executivo do lixo que havia sido escalado pela prefeitura para fiscalizar a varrição no centro da cidade.

    Doria trava disputa interna no PSDB com o governador Geraldo Alckmin para a escolha do candidato do partido nas eleições à Presidência no ano que vem. Alckmin teve papel decisivo na escolha de Doria como candidato tucano na disputa municipal. Para ser candidato ao Planalto ou ao governo paulista em 2018, o prefeito terá de deixar o cargo até o início de abril.

    Na manhã desta quarta, em nota, a Prefeitura de São Paulo informou que Paulo Cahim será exonerado do cargo "por ter demonstrado conformismo diante das dificuldades, em lugar de empenho e criatividade na superação dos desafios, como exige a atual administração municipal de seus colaboradores".

    A administração tucana informou ainda que, a respeito da limpeza do piscinão mencionado na reportagem, "o pregão para contratação da limpeza foi suspenso pelo Tribunal de Contas do Município, mas os problemas apontados serão corrigidos e o desassoreamento do local será realizado até dia 15 de dezembro". E completa: "Todos os piscinões da cidade estão operacionais".

    enchente

    DISCURSO INFLAMADO

    No caso de Cahim, o terceiro demitido em uma semana, as queixas dele fizeram parte de um discurso inflamado que fez durante reunião da Comissão de Finanças da Câmara Municipal no último sábado (11), presidida pelo vereador petista Jair Tatto. "Me desculpem. Eu não sei qual é a força que eu posso representar nisso. Porque se não tivermos a força política e a visão de gestão, nós vamos ter muito problema com as enchentes em janeiro", afirmou Cahim à plateia.

    Em seguida, ele fala sobre a situação do piscinão da avenida General Penha Brasil, que está sujo. "Nosso piscinão, o Penha Brasil, está assoreado e eu não tenho uma máquina que eu possa limpar. E eu passo todo dia em frente a ele. Aí vão me encontrar na feira e vão perguntar: 'O que o prefeito está fazendo?'"

    E finaliza, seguido de aplausos: "Me desculpem a indignação, eu não concordo com essa planilha de orçamento para a Casa Verde." Em entrevista à Folha nesta terça (14), Cahim disse que as declarações gravadas são apenas um trecho de poucos segundos do contexto de uma audiência de quatro horas em que foi duramente questionado por uma plateia de muitos correligionários do PT.

    Quadro antigo do PSDB, Cahim foi presidente do partido na região e também chefe de gabinete da regional durante a gestão do prefeito José Serra (PSDB), de 2005 a 2006. "Ali [na audiência] era um cidadão falando. É isso que eu falei mesmo, mas dentro de um contexto muito mais amplo. Estamos discutindo uma peça orçamentária. Eu estava prestando contas aos moradores do distrito em que também moro", disse.

    Editoria de Arte/Folhapress

    À Folha Cahim deu outra versão em relação à dificuldade na contratação de limpeza do piscinão. Diz ele que não é por falta de orçamento, mas pela não liberação da licitação junto ao TCM (Tribunal de Contas do Município) que permite que o serviço seja feito.

    "A preocupação que tenho é com as enchentes futuras. Se a gente considerar a tramitação burocrática [perante o tribunal], que demora de 30 a 90 dias, eu vou fatalmente cair em janeiro com o piscinão assoreado e vai dar um grande problema para a comunidade", disse.

    Números apresentados pelo próprio prefeito regional mostram que a previsão de orçamento da regional caiu 17% -de R$ 28,9 milhões em 2017 para R$ 23,7 milhões em 2018. Esse número ainda será discutido na Câmara e pode ser revisto pelos vereadores antes de ir a votação, que deve ocorrer até o final do ano.

    Algumas ações - Em R$ milhões

    Sobre isso, Cahim disse que entende a situação financeira, mas que precisa de mais verbas. "É puxar a sardinha para o nosso lado. Eu estava na frente do presidente da comissão, que precisa ajudar as prefeituras de periferia. Eu precisava dizer: 'Olhem para a Casa Verde'", disse.

    "Eu reclamo ao prefeito [Doria] e reclamei ao secretário [Claudio Carvalho, de Prefeituras Regionais] no sentido de que nós estamos preocupados com a Casa Verde, que eu gostaria que estivesse mais aquinhoada em orçamento", afirmou.

    Ainda sobre os serviços de drenagem, Cahim disse que tem caminhão e equipe para a limpeza de bueiros e galerias (microdrenagem), mas que depende de contratação específica para a máquina que faz o serviço de limpeza dos piscinões (macrodrenagem). Ele estima que a contratação pode ocorrer nos próximos dias, já que a Secretaria de Prefeituras Regionais está em tratativas para isso. Ele também cogita pedir o equipamento emprestado de outras regionais.

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