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    Doria esquece farinata e amplia alimentos orgânicos na merenda

    PAULO SALDAÑA
    DE SÃO PAULO

    16/11/2017 12h58 - Atualizado às 13h05

    Depois da polêmica criada com a proposta de incluir a farinata na merenda da rede municipal de ensino, o prefeito João Doria (PSDB) anunciou nesta quinta-feira (16) a ampliação de compra de alimentos orgânicos para a alimentação escolar.

    Doria disse que a ideia de incluir a farinata, composto produzido a partir de alimentos prestes a vencer, já está totalmente descartada para a merenda e para qualquer política da prefeitura. "Dada a polêmica, entendemos que não seria adequado insistir nesse projeto", disse.

    A compra de alimentos orgânicos para compor a merenda é exigida por lei municipal de 2015. A gestão informou que já abriu 14 chamadas para a compra de produtos desse tipo –o mesmo número firmado no ano passado– e outras quatro estão previstas.

    A prefeitura informou que investiu neste ano R$ 4,5 milhões em alimentos orgânicos e que, em 2016 (último ano da gestão Fernando Haddad (PT)), foram gastos R$ 2,8 milhões.

    Uma das chamadas foi voltada para a compra de verduras e hortaliças de agricultura familiar da cidade de São Paulo, ao valor de R$ 377 mil em dois meses.

    Segundo o secretário de Educação, Alexandre Schneider, as escolas da prefeitura garantem nível nutricional superior ao exigido pela lei. "Essa é uma política de Estado. A merenda na prefeitura começa em 1930 com um copo de leite. De lá pra cá, todos os governos melhoraram e nós estamos fazendo nossa parte", disse Schneider.

    O anúncio da farinata na merenda feito por Doria havia causado um mal estar com secretaria de Educação. A pasta, que tem um departamento de alimentação escolar, nem sequer havia sido consultada. O tema é regido por legislação municipal e federal, que inviabilizaria a adoção do composto da forma como o prefeito anunciara.

    A secretaria de Educação anunciou ainda a ampliação do número de hortas pedagógicas, chegando a 592 escolas. Em 2016, eram 351.

    A pasta vai lançar no mês que vem um aplicativo, desenvolvido em um concurso, que possibilitará aos pais e a sociedade acompanharem a merenda das crianças.

    São servidas por dia 2,2 milhões de refeições diárias aos 995 mil alunos da rede, em 3.200 escolas.

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    Abaixo, entenda o que é esse granulado alimentar, a polêmica em torno dele e os argumentos contra e a favor da iniciativa.

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    1. O que é a farinata?
    Uma espécie de farinha feita a partir de vários alimentos (frutas e legumes, por exemplo) que estão perto da validade e seriam incinerados por produtores e supermercados. O objetivo é combater a desnutrição.

    2. O que é o granulado alimentar?
    Um produto feito à base da farinata. Essa farinha também pode ser adicionada a bolos e pães ou ser usada como ingrediente para "reforçar" sopas, já que teria boa quantidade de carboidratos e proteínas.

    3. Qual foi o projeto anunciado por Doria?
    Trata-se de um programa para combater o desperdício de alimentos e erradicar a fome. O texto, do vereador Gilberto Natalini (PV), foi apresentado ainda na gestão de Fernando Haddad (PT) e aprovado em setembro na Câmara Municipal.

    4. O granulado faz parte do projeto municipal aprovado?
    Não especificamente. O produto foi mostrado pelo prefeito apenas como exemplo durante evento para sanção da lei. Doria o apresentou dentro de uma embalagem com uma imagem de Nossa Senhora e o chamou de "abençoado".

    5. Por que Doria apresentou o granulado se ele não faz parte do projeto?
    A Plataforma Sinergia, organização sem fins lucrativos que fabrica o granulado, estava no evento e entregou uma amostra a Doria. Sem saber detalhes do produto, o prefeito fez um vídeo o promovendo.

    6. Como seria a distribuição desse produto pela prefeitura?
    Segundo a gestão, o granulado seria distribuído sem custos, a partir de outubro, por entidades cadastradas –como igrejas, templos e sociedade civil– e pela própria prefeitura. Ainda não se sabe, porém, a quem e a quantas pessoas seria destinado. Nem a própria empresa tem dimensão do quanto poderia produzir. A secretária de Direitos Humanos de Doria, Eloísa Arruda, disse que haverá uma reunião em breve para definir um plano de ação.

    7. Quem forneceria a matéria-prima usada no granulado?
    Os alimentos próximos do vencimento seriam doados por produtores, redes de supermercados e até pessoas físicas.

    8. Qual é a relação do produto com a Igreja Católica?
    A Arquidiocese de São Paulo apoia o uso da farinata no combate à fome desde 2013, quando o dom Odilo Scherer a recomendou ao Papa Francisco. À Folha, porém, o arcebispo afirmou que pode ter havido equívoco na forma de apresentação do produto pela gestão Doria e lamentou uma possível interrupção do projeto por questões políticas.

    9. Por que alguns nutricionistas e chefes de cozinha são contra a ideia?
    Eles argumentam que a alimentação é um ritual que inclui saborear o alimento, preferencialmente in natura. Outra preocupação é o fato de a farinha ser feita à base de produtos próximos do vencimento. Nutricionistas que criaram o produto afirmam que ele pode ser um complemento de combate à fome em situação emergencial.

    10. Produtos semelhantes à farinata já foram usados antes no país para o combate à fome?
    Sim. Zilda Arns, médica sanitarista e fundadora da Pastoral da Criança, defendia um produto chamado multimistura, composto por farelo de arroz, trigo e pó de sementes. Apesar de ter sido divulgada como modelo nos anos 70 e 80, hoje a prática é desaconselhada pelos conselhos de nutrição por causa dos riscos relacionados a higiene e toxicidade.

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