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    Sem apoio oficial, Parada LGBT do Rio pede 'resistência' com Vittar e Mercury

    LUCAS VETTORAZZO
    DO RIO

    19/11/2017 18h30 - Atualizado às 20h25

    Carl de Souza/AFP
    Desfile da Parada do Orgulho LGBT do Rio, em Copacabana
    Desfile da Parada do Orgulho LGBT do Rio, em Copacabana

    Mesmo depois de perder o patrocínio da Prefeitura do Rio, a Parada do Orgulho LGBTI de Copacabana levou uma multidão a orla do bairro na tarde deste domingo (19). O "I" da sigla, novidade, refere-se à palavra Interssexo.

    Artistas como Pablo Vittar, Daniela Mercury e Preta Gil, que falam abertamente sobre sua sexualidade, abriram mão do cachê para participar da marcha, cujo tema deste ano é a resistência frente a onda conservadora que se espalha pelo país.

    Em vídeo chamando para a marcha, Mercury disse que "a Parada Gay nasceu para curar a homofobia e o preconceito da sociedade".

    E foi nesse clima de festa e política que milhares de pessoas acompanharam os seis carros de som da marcha.

    O jornalista Willian Matheus, 35, foi de São Paulo ao Rio especialmente para a parada de Copacabana.

    "Eu acumulo dentro de mim muitas minorias e grupos que sofrem preconceito: sou gay, negro e morador de periferia. Vim porque acho que, mesmo com a onda conservadora, nós estamos cada vez mais conscientes de que não temos que mudar por ninguém. É a sociedade que tem que reconhecer o nosso espaço", disse ele.

    Matheus critica rótulos presentes no dia a dia das pessoas, algo que em aua opinião reforça o preconceito na sociedade.

    "A televisão está todo dia batendo na tecla da família tradicional brasileira de pai, mãe e filhos. Não precisa muito para entender que o Brasil não cabe em rótulos. O país é diverso e tem que ser assim" disse.

    A prefeitura cortou a verba de patrocínio da parada. No ano passado, a contribuição para o evento foi de R$ 370 mil. Este ano é o primeiro da gestão do prefeito Marcelo Crivella (PRB), bispo licenciado da Igreja Universal. O corte ocorre a despeito de o prefeito ter um gay assumido à frente da secretaria de Diversidade da prefeitura.

    Assista ao vídeo

    A cantora Tereza Cristina puxou um "beijaço" do alto do carro de som. "Só não beija o Crivella", brincou ela.

    O tom político foi o que atraiu o casal de argentinos Matias Infantes, 31, e Gustavo Perino, 35, que se mudou para o Rio há nove meses.

    Eles contaram que nunca foram na tradicional parada de Buenos Aires por acharem que o clima era mais de festa do que de afirmação. Neste ano decidiram prestigiar a marcha do Rio.

    "O casamento de pessoas do mesmo sexo na Argentina é lei desde 2010 e achamos que tínhamos ali conquistado tudo o que imaginávamos conquistar. Mas foi um engano. Nosso direito precisa ser defendido diariamente", disse.

    A multidão foi ao delírio quando a cantora drag queen Pablo Vittar subiu ao carro de som para cantar seus maiores sucessos. De cabelo laranja, top colorido e calça verde, Pablo rebolava e empolgava a multidão.

    Em um determinado momento, houve um princípio de briga ao lado do carro de som. "A gente veio aqui por respeito. Se fosse pra brigar a gente nem vinha", disse Vittar.

    Um homem passou com uma camisa escrito "amor não é doença, é cura". Um outro caminhava com uma camisa com os dizeres em inglês "não sou estranho, sou edição limitada".

    Há cinco anos longe das paradas LGBT, o casal Luana Correa, 29, e Mariana Amorim, 32, decidiu participar este ano como forma de afirmação e luta política.

    "Eu nunca achei a parada muito politizada, mas achei necessário o tema da resistência este ano. É importante que a gente discuta cada vez mais esses temas de forma aberta e com respeito", disse Luana.

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