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    Minha História

    Idosa comanda sex shop após casar virgem e ficar décadas sem orgasmo

    Depoimento a (...)
    LUARA LOTH
    NATÁLIA SCHIAVON
    DA EDITORIA DE TREINAMENTO

    28/11/2017 02h00

    Luara Loth/Folhapress
    Aos 72 anos, dona do primeiro sex shop de Sorocaba testa e recomenda produtos eróticos
    Ivanir Parreira comanda sex shop após casar virgem e ficar décadas sem orgasmo

    De família italiana, Ivanir Parreira cresceu em um sítio no interior paulista. Casou-se aos 16, sem saber nada de sexo, e separou-se aos 44, sem saber o que era orgasmo. Descobriu com o segundo marido, que teve a ideia de abrir um negócio "ousado" depois que a choperia da família não deu certo. Separada novamente, continua à frente do balcão, onde diz ter se tornado uma espécie de confidente dos clientes.

    A seguir, o depoimento dela à Folha.

    Sex Shop - Luara e Natalia

    *

    "Quando o meu ex-marido e eu decidimos abrir o primeiro sex shop de Sorocaba (interior de São Paulo), há 22 anos, eu nunca tinha visto um brinquedo erótico.

    Antes da inauguração, visitamos uma loja especializada em São Paulo. Minha impressão foi negativa, fiquei chateada com a frieza do moço que nos atendeu.

    Lembro que as imitações de vagina eram feitas com um borrachão horroroso. Sai com a certeza de que o atendimento na minha loja deveria ser o oposto daquele.

    Encontrei minha inspiração em dona Catarina, proprietária de outro sex shop, na rua dos Bandeirantes (em São Paulo). Era uma senhora de idade, respeitável, mas de mente aberta. Pensei: "Quero ser igual a ela".

    Comecei a experimentar os brinquedos com o meu marido. Com o tempo, ganhei confiança e conhecimento para aconselhar meus clientes.

    Estou com 72 anos, sou divorciada, mas mantenho os hábitos que me tornaram uma vendedora especial. Hoje, não me importo em testar sozinha os vibradores, cremes e outros acessórios.

    Na minha loja [chamada Sex Shop Boutique Paradise] o que mais vende são as imitações de pênis. Eu explico aos casais que não é feio incluir "consolos" nas relações sexuais. Com a maturidade, desenvolvi uma certa psicologia: costumo contar que também utilizo os produtos, e dou muita risada.

    O Paradise é um comércio familiar. Tenho como funcionários meus filhos, minha neta e uma nora. Assino a carteira de todo mundo.

    Eles são evangélicos. Eu tentei ser, mas não deu muito certo. Até onde sei, meus filhos não têm tabus ou conflitos por causa da religião, até porque evangélico também faz sexo.

    Ensinei tudo o que aprendi para as outras gerações da família. Eu e minha neta, que tem 27 anos, passamos os lubrificantes nos lábios, para testar, porque a pele da boca é parecida com a da vagina.

    Todo mundo se sente à vontade comigo. Gosto de atender desde os casaizinhos mais jovens até os clientes de 70, 80, até 90 anos.

    Atendo um senhorzinho, que deve ter uns 80 anos, até que é bonitinho, que, a cada seis meses, compra uma nova boneca inflável. Dizem que ele põe roupa na boneca e a deita na cama, como se fosse uma companheira.

    Eu me torno uma confidente, principalmente dos que visitam a loja pela primeira vez. Você acredita que mulheres casadas vêm aqui e me revelam que nunca chegaram ao orgasmo? Para elas, tenho sempre um conselho: o segredo é relaxar, esquecer problemas e dívidas. Ter uma fantasia na cabeça, usar um lubrificante e pensar "eu quero ser feliz, quero chegar lá".

    Digo isso porque eu me casei aos 16 anos, para agradar minha mãe. Cresci num sítio em Penápolis (SP) sem saber nada sobre sexo. Até então, eu nunca tinha me tocado.

    Aos 44 anos, me separei; meu marido era um "chucro", não sabia fazer uma mulher feliz. Eu só "cheguei lá" com o meu segundo marido. Fiquei igual criança que comeu doce, não queria parar. Ele fez tudo o que eu precisava.

    No início, fiquei preocupada com a ideia de abrir um sex shop. Não queria manchar a nossa reputação nem a dos meus filhos. Passamos maus bocados nos primeiros anos, enfrentamos a desconfiança da população, que chegou a chamar a polícia e nos colocar na Justiça. Os falsos puritanos queriam até me linchar.

    Apesar disso, foi um sucesso. Percebi que todo mundo morria de curiosidade.

    Um tempo depois, descobri que o meu marido tinha um caso com a funcionária de uma casa de massagem que ele administrava junto com o nosso sex shop. Passei por mais um divórcio, sofri o triplo do que da primeira vez, mas a loja ficou comigo.

    Não paro de trabalhar, a loja só fecha no domingo. Não tenho me divertido, filha do céu! É muito difícil achar um companheiro na minha idade, mas também não quero qualquer um. Não posso repetir erros do passado.

    *

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