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    Justiça manda prender ex-professor acusado de desviar R$ 930 mil na USP

    ROGÉRIO GENTILE
    DE SÃO PAULO

    08/12/2017 02h00 - Atualizado às 18h42
    Erramos: esse conteúdo foi alterado

    Lalo de Almeida - 12.nov.2014/Folhapress
    Investigação atingiu ex-coordenador do programa de pós-graduação em zoologia do Instituto de Biociências da USP
    Investigação atingiu ex-coordenador do programa de pós-graduação em zoologia da USP

    A Justiça Federal decretou a prisão preventiva do cientista Marcelo Rodrigues de Carvalho, ex-professor da USP, acusado de desviar cerca de R$ 930 mil do Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências.

    Carvalho, que também teve bens bloqueados pela Justiça, teria desviado verbas de um programa de pós-graduação que coordenava, mediante a apresentação de notas fiscais simuladas.

    O caso foi revelado pela Folha em maio. Começou a ser investigado quando um grupo de professores desconfiou da informação de que não havia verba disponível para determinado projeto.

    O departamento fez, então, um inventário dos produtos que teriam sido adquiridos por Carvalho e constatou uma série de impropriedades.

    Muitos produtos nunca foram localizados nos laboratórios. Outros estavam em quantidades bem inferiores aos indicados nos registros.

    O total de corante descrito nas notas, por exemplo, seria suficiente para colorir aproximadamente 23,5 milhões de peixes com vermelho alizarina e outros 44 mil com azul alcian.

    Na lista de compras havia, inclusive, insumos que nem são utilizados pelo Departamento de Zoologia da USP.

    Após a abertura da investigação administrativa, no final de 2016, o professor pediu exoneração do seu cargo na universidade e foi morar nos Estados Unidos.

    A Justiça ordenou a inclusão do seu nome na lista de procurados da Interpol, que deverá emitir a notícia para todos os 188 países membros da organização internacional. Caso seja preso no exterior, o Brasil terá de formalizar pedido de extradição.

    APROVADAS

    A Folha não conseguiu localizar o professor para ouvir sua versão dos fatos.

    Em carta que enviou a colegas, em 2015, o cientista disse que todos os gastos foram feitos segundo as instruções da Capes (órgão do Ministério da Educação que fomenta e regula a pós-graduação) e que nunca teve um único problema com a prestação de contas.

    "Além disso, despesas usualmente foram aprovadas por pelo menos dois professores de pós-graduação", afirmou no documento.

    Disse ainda que efetivou as compras solicitadas "por orientadores e seus alunos (...) desde que sua utilização trouxesse claro benefício ao programa, à formação de nossos alunos e à facilitação da pesquisa futura".

    O Ministério Público Federal passou a investigar o caso em parceria com a Secretaria da Fazenda depois da conclusão da auditoria.

    Um servidor da universidade (Eduardo Netto Kishimoto) e dois empresários (Marcos Simplício, da Tec Science, e Sérgio dos Santos, da Bellatrix), de acordo com a acusação, teriam auxiliado o cientista nas fraudes.

    Na ação por improbidade administrativa, a procuradora da República Anamara Osório Silva descreve e-mails nos quais o professor autoriza o servidor a pagar 30% do valor da nota fiscal fria à empresa Tec Science. "Pode mandar fazer, 30% sai 1.800. [É] caro, mas é o jeito."

    Em outra mensagem, faz orientações sobre a elaboração de um atestado de compra. "Quanto à nota, pode ser álcool, vidraria, formol, que serve. Quando eles conseguem entregar essa nota?".

    E conclui: "E aí, como faço, pego o dinheiro contigo?"

    A reportagem procurou o servidor em seu departamento na USP, mas foi informada que ele está em férias. Kishimoto não atendeu às ligações feitas para o seu celular.

    Marcos Simplício, da Tec Science, disse à reportagem que tem todo interesse em esclarecer o assunto, mas que faria sua defesa apenas depois de tomar conhecimento oficial das acusações que lhe são imputadas.

    Sérgio dos Santos, da empresa Bellatrix, afirmou que as compras foram todas regulares e que nunca emitiu nota fria para a universidade. "Tudo que está descrito nas notas foi exatamente entregue à universidade", disse.

    "Mas não tenho como saber o que foi feito da mercadoria. Se o professor extraviou, perdeu ou vendeu, não tenho como saber."

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