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    Quatro são detidos após protesto contra 'escola sem partido' na Câmara

    GUILHERME SETO
    DE SÃO PAULO

    12/12/2017 21h00 - Atualizado às 22h35

    Reprodução/Tv Globo/SPTV
    Sessão na Câmara Municipal termina em confusão e violência
    Sessão na Câmara Municipal termina em confusão e violência

    Quatro estudantes foram detidos após protesto que terminou em confusão com a Guarda Civil Metropolitana na Câmara Municipal de São Paulo. Manifestantes de diferentes grupos organizaram protesto nesta terça-feira (12) contra o projeto de lei que institui a "escola sem partido" na rede municipal de ensino.

    O projeto de lei, de autoria dos vereadores Eduardo Tuma (PSDB) e Fernando Holiday (DEM), estabelece que o professor "não fará propaganda político-partidária em sala de aula nem incitará seus alunos a participar de manifestações, atos públicos e passeatas", entre outros "deveres" semelhantes.

    Estudantes da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (Upes), da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e da União da Juventude Socialista (UJS), grupos de estudantes contrários ao projeto, protestaram nas galerias da Câmara nesta terça, queixando-se de que o projeto havia avançado na Casa, ficando pronto ("instruído", ou seja, já avalizado pelas comissões responsáveis na Câmara) para votação logo no começo de 2018.

    Diante dos protestos, o presidente da Câmara, Milton Leite (DEM), pediu para que apenas se manifestassem nos intervalos de pronunciamentos de vereadores. Como os estudantes continuaram os protestos, ele pediu para que a Guarda Civil Municipal os retirasse das galerias. Ele, então, passou a ser chamado de "fascista" em coro.

    A partir daí houve conflito com a GCM, que arrastou à força alguns estudantes e chegou a jogar gás de pimenta no subsolo para dispersá-los.

    Em nota, a presidência da Câmara falou em "conduta inadequada" dos estudantes.

    "A Presidência da Câmara Municipal de São Paulo informa que solicitou a retirada de manifestantes da galeria que gritavam durante sessão plenária após o grupo ofender vereadores. Antes, o presidente estipulou as regras para a realização da sessão, dizendo várias vezes ao microfone que, para que a sessão pudesse ser realizada, os gritos de ordem poderiam ser feitos pelo grupo no intervalo entre as falas dos parlamentares e não durante. Como os vereadores foram interrompidos repetidas vezes e houve conduta inadequada por parte dos manifestantes, foi pedida a retirada dos mesmos da galeria. A Casa irá apurar a ação da GCM na galeria."

    Os estudantes, três homens e uma mulher, são acusados de desacato à autoridade, resistência, dano ao patrimônio (algumas cadeiras das galerias se quebraram na confusão) e lesão corporal (contra os guardas), e foram acompanhados ao 1º Distrito Policial, na Sé, por outros três manifestantes. Eles também registraram boletim de ocorrência contra os guardas por lesão corporal e roubo (do celular de uma estudante que, como mostram imagens da TV Globo, foi tomado de sua mão por um guarda).

    Os sete estudantes e três guardas passarão por exame de corpo de delito e serão liberados. Segundo a assessoria de imprensa da Câmara, os guardas saíram com ferimentos.

    Isabela Queiroz, 19, da Ubes, que teve o aparelho apreendido (e posteriormente recuperado por uma colega), afirma ter presenciado diversas agressões.

    "A própria ação da GCM fez as cadeiras quebrarem. Um colega quase machucou o pescoço, ficou preso entre as cadeiras enquanto os guardas puxavam. Podia ter morrido. Outro teve o dedo torcido e pode estar quebrado, não consegue mexê-lo", disse à Folha. Segundo ela, boa parte das supostas agressões teria partido de policiais disfarçados, chamados de "P2", cuja presença teria surpreendido os presentes.

    "Foi mais uma demonstração de truculência do poder público. Estávamos fazendo um jogral e já iríamos nos retirar quando o presidente da Câmara, Milton Leite, pediu para a guarda nos tirar. Nunca tinha visto uma guarda tão violenta", afirmou Isabela, que chegou do Rio nos últimos dias.

    Sobre os guardas agredidos, ela afirma ter visto apenas colegas resistindo a agressões, e que a capacidade de violência das partes não tem comparação.

    "O primeiro guarda que pegou no meu braço me fez nunca mais querer chegar perto deles."

    Próxima dos movimentos estudantis, a vereadora Juliana Cardoso (PT) foi ao encontro dos estudantes e diz ter sido agredida por guardas. Após o ocorrido, ela se dirigiu ao hospital devido a problemas respiratórios por ter inalado gás de pimenta e para tratar de hematomas.

    Em postagem no Facebook, a parlamentar chamou o projeto de "lei da mordaça", disse que funcionários da Câmara foram agredidos e que ela teria recebido voz de prisão no interior da Casa.

    A Upes divulgou nota em que fala em "truculência" dos guardas.

    "GCM age de forma truculenta, marcando fisicamente de violência e repressão manifestantes que ocupavam as galerias da Câmara para lutar contra a Lei da Mordaça. Neste momento, pelo menos quatro secundas [secundaristas] estão sendo encaminhados para 1º DP - Galvão Bueno. Milton Leite, presidente da Câmara Municipal de São Paulo, não consegue viver com o espaço democrático que tem que ser a casa do Povo".

    O sindicato dos professores de São Paulo (Apeoesp) manifestou-se no mesmo sentido.

    "Inaceitável a truculência da repressão policial contra professores, estudantes e outros segmentos sociais que se manifestavam nesta terça-feira na Câmara Municipal de São Paulo contra o projeto que tem entre seus autores o vereador Fernando Holiday, ligado ao Movimento Brasil Livre (MBL) para instituir a farsa da "escola sem partido" na rede municipal de ensino da capital. Numa casa de leis, que chamam a 'casa do povo', é intolerável que a polícia seja chamada pelo seu presidente, o vereador Milton Leite (PSDB) para reprimir aqueles que se opõem à subtração da liberdade, ao amordaçamento de professores e estudantes, o sufocamento do livre debate de ideias e de concepções pedagógicas nas escolas, que devem ser, antes de tudo, um espaço de livre troca de ideias e produção de conhecimento."

    Na semana passada, a "tropa de choque" (Inspetoria de Operações Especiais) da GCM entrou em ação na Câmara pela primeira vez no ano para separar manifestantes de grupos favoráveis e contrários à "escola sem partido."

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