• Cotidiano

    Tuesday, 07-May-2024 03:10:51 -03

    Rio de Janeiro

    Traficantes de droga furtavam vinho e champanhe de dentro de aviões no Rio

    DE SÃO PAULO
    DO RIO

    19/12/2017 11h10 - Atualizado às 18h48

    Polícia Federal/Divulgação
    Mais de 250 quilos de cocaína apreendidos pela Polícia Federal do aeroporto do Galeão, no Rio
    Mais de 250 quilos de cocaína apreendidos pela PF em setembro no aeroporto do Galeão, no Rio

    A Polícia Federal deflagrou uma operação, na manhã desta terça-feira (19), para desarticular um esquema de tráfico internacional de drogas, descaminho de mercadorias e furto de bebidas do interior de aeronaves em pouso no aeroporto Internacional Tom Jobim, conhecido como "Galeão", no Rio de Janeiro. O esquema funcionava pelo menos desde fevereiro deste ano.

    Segundo a PF, estão sendo cumpridos 36 mandados de prisão preventiva, um de condução coercitiva (quando o suspeito é obrigado a comparecer na delegacia para prestar depoimento) e mais 36 de busca e apreensão contra suspeitos de Rio de Janeiro e São Paulo. Os mandados foram expedidos pela 1ª Vara Federal Criminal do Rio. O esquema funcionava pelo menos desde fevereiro deste ano.

    "Como esse esquema criminosos detectamos uma série de falhas na segurança do aeroporto. As malas entravam na área restrita do aeroporto sem qualquer fiscalização. Os funcionários que atuavam faziam questão de não saber o que estava dentro delas, assim se esquivavam da responsabilidade. Isso é muito perigoso porque qualquer coisa pode entrar e sair: armas, bombas, explosivos. Isso nos preocupou muito", disse o delegado Wagner Menezes, um dos responsáveis pela investigação.

    Até as 18h, 29 mandados de prisão haviam sido cumpridos. Sete suspeitos são considerados foragidos.

    As investigações, realizadas em conjunto com o Ministério Público Federal e a Receita Federal, duraram dez meses e apontaram a participação de funcionários do próprio aeroporto, de companhias aéreas como Avianca, TAP, KLM e servidores públicos da área de fiscalização no esquema criminoso.

    Entre os mandados de prisão, pelo menos 23 são contra funcionários do aeroporto e dois contra servidores da Receita Federal. Um dos servidores foi preso e outro está foragido. Um deles trabalhava na conferência de bagagens e o outro transportava mercadorias dentro do aeroporto sem que elas fossem fiscalizadas.

    Em nota, a Receita Federal disse que a atuação dos servidores era isolada e que "não há quaisquer indícios de corrupção endêmica na alfândega do Galeão".

    A corregedoria da Receita vai abrir apuração interna. Se ficar provada a culpa dos funcionários, eles serão demitidos e afastados do serviço público federal.

    Foram identificados três grupos, capitaneados por um ex-funcionário do Galeão, responsável por recrutar os demais membros do grupo criminoso. Ele era auxiliado por seu pai, que ainda trabalhava no aeroporto. Ambos foram presos nesta terça-feira.

    Os 23 funcionários são de companhias aéreas e empresas que atuam dentro do aeroporto. Nenhum deles trabalha para a que gere o aeroporto, a Riogaleão.

    Em nota, a concessionário disse que, "desde o início de sua atuação, em 2014, apoia as investigações e ações da Polícia Federal e demais órgãos públicos para coibir atos ilícitos no aeroporto. O RIOgaleão não tolera práticas que descumpram qualquer procedimento operacional e de segurança e possui rigorosos processos de prevenção de ilícitos."

    A concessionária citou, ainda, investimento de mais de R$ 35 milhões em "modernização e desenvolvimento de um novo sistema integrado de segurança e informações resulta em uma infraestrutura que vem contribuindo para o sucesso do trabalho da Polícia Federal e demais órgãos públicos no aeroporto."

    MALAS COM DROGAS

    O primeiro grupo suspeito era responsável por embarcar malas recheadas de cocaína para aviões com voos para o exterior, burlando a fiscalização policial e a alfândega. Para o transporte ilegal não ser descoberto, os suspeitos contavam com o auxílio de funcionários que tinham acesso à área restrita do Galeão. Eles eram incumbidos, segundo a PF, de colocar as malas em voos internacionais sem passá-las por nenhuma inspeção.

    A droga pertencia a dois estrangeiros –um albanês e outro possivelmente romeno–, e ficava armazenada num galpão localizado no Mercado São Sebastião, na Penha, onde acondicionada em malas para o embarque, sendo transportada até o aeroporto de táxi pois a quadrilha achava que assim seria menor o risco de ser interceptada por blitzes. Um deles foi preso. O outro está foragido.

    No balcão de "check-in", funcionários da companhia aérea providenciavam a duplicação irregular de etiquetas de bagagem despachadas por outros passageiros, inocentes, e que não pertenciam à quadrilha, afixando às malas preparadas pela quadrilha, para as quais providenciavam o despacho com o objetivo de garantir a entrada delas na área restrita, simulando destinação para voo doméstico. Isso era feito para driblar a fiscalização das malas que acontece quando elas têm destino internacional.

    Operadores de rampa, integrantes do grupo criminoso, ao identificarem a bagagem com a droga, deixavam de colocá-las no contêiner do voo doméstico, desviando-as para contêineres de malas que ingressariam em voo internacional. Outra forma de acesso da cocaína era pela área de apoio do aeródromo.

    A investigação começou em fevereiro, quando uma mala que havia sido enviada ao aeroporto de Amsterdã, na Holanda, voltou ao Galeão porque ninguém a buscou no destino. Quando ela chegou, as autoridades do aeroporto constataram que ela havia sido etiquetada como se fosse para Salvador. A etiqueta era da companha Avianca e trazia o nome de um passageiro que havia de fato voado para Salvador. Quando a mala foi aberta, a PF descobriu que ela trazia mais de 30 quilos de cocaína.

    Dentro das investigações, a Polícia Federal realizou em setembro a maior apreensão de cocaína da história do Galeão, contabilizando mais de 300 kg da droga.

    Na ocasião, 60 quilos foram apreendidos no aeroporto. Informações de inteligência indicaram que o restante da droga poderia estar escondido em um galpão no Mercado São Sebastião, na Penha, zona norte.

    Ao fazer uma busca no local, os agentes acharam, armazenados em um depósito, 213 tabletes de cocaína.

    A Polícia acredita que haja participantes da quadrilha em outros aeroportos, como Amsterdã, na Holanda, e Portugal, mas a investigação ainda não conseguiu alcançá-los.

    CONTRABANDO DE MERCADORIAS

    Malas recheadas com mercadorias vindas do exterior, em sua maioria, produtos eletrônicos, também passavam pelo Galeão sem serem revistadas. Na maior parte das vezes, as bagagens eram retiradas pelos operadores de esteira do desembarque internacional e posteriormente desviadas para a esteira do desembarque doméstico, no intuito de evitar a fiscalização.

    Passageiros comuns buscavam a quadrilha para viabilizar a passagem dessas mercadorias sem fiscalização. Quando o passageiro passava pelo canal de inspeção da Receita Federal, em geral portava apenas bagagens de mão. Dois passageiros suspeitos já foram presos neste ano.

    Após a ação dos operadores de bagagens, as malas eram retiradas por um funcionário da companhia aérea no interior do setor de desembarque doméstico (esteira para retirada de bagagens) e entregue ao passageiro no saguão do aeroporto ou até mesmo na calçada exterior do estabelecimento.

    A PF também identificou a participação de funcionários do Galeão, que se encontravam com passageiros participantes do esquema ainda na porta da aeronave, e os acompanhavam até o canal aduaneiro, onde um servidor da Receita Federal liberava as malas que passavam pelo raio-x mesmo que identificasse mercadoria entrando de forma irregular sem recolhimento dos tributos e taxas. Um servidor foi flagrado durante as investigações recebendo propina para liberar mercadorias.

    FURTO DE BEBIDAS

    Já o último núcleo criminoso atuava subtraindo, com frequência diária, garrafas de vinho, champanhe e garrafas em miniatura de bebidas do interior das aeronaves em pouso. Funcionários da empresa de "catering" realizavam o furto, levando os vasilhames para áreas conhecidas como "pontos cegos", onde era feita a triagem. Foram apreendidas cerca de 2.715 garrafas de bebidas, veículos e dinheiro.

    "Isso pode parecer um crime menor, mas demonstra a fragilidade do sistema de segurança do aeroporto", disse o delegado Fábio Andrade, chefe da delegacia especial da PF no Aeroporto Internacional do Rio.

    A operação está em andamento. Os presos estão sendo levados à sede da Polícia Federal no Rio de Janeiro. Todos serão indiciados pelos crimes de organização criminosa, tráfico de drogas, associação para o tráfico de drogas, corrupção, facilitação ao contrabando e descaminho, descaminho, furto qualificado, além de associação criminosa. Da sede da PF, os suspeitos serão encaminhados ao sistema prisional.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024