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    Maria-fumaça vira alvo de disputa entre duas cidades no interior de SP

    MARCELO TOLEDO
    JOEL SILVA
    DE RIBEIRÃO PRETO

    20/12/2017 19h42 - Atualizado às 13h55

    Joel Silva/Folhapress
    Locomotiva alvo de disputa entre as prefeituras de Ribeirão Preto e Salto é colocada em carreta para transporte
    Locomotiva alvo de disputa entre as prefeituras de Ribeirão Preto e Salto é colocada em carreta

    Uma maria-fumaça que repousou nas últimas décadas na avenida Mogiana, em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo), se transformou em alvo de disputa entre dois municípios paulistas.

    Nesta quarta-feira (20), uma carreta estacionou na avenida, ao lado da estação ferroviária local, e, com a ajuda de guindastes, a locomotiva, de fabricação inglesa, foi colocada no veículo para ser levada para Salto (a 104 km de São Paulo).

    Momentos antes de o veículo partir para o destino, membros de uma associação turística de Ribeirão foram para o local, acionaram a PF (Polícia Federal) e impediram que a carreta partisse.

    A maria-fumaça é uma das duas em exposição em locais públicos de Ribeirão Preto. Sem restauro, sofreu com vandalismo e furtos de peças nas últimas décadas.

    Elas têm elo histórico com o desenvolvimento econômico da cidade –uma das principais atendidas pela CMEF (Companhia Mogiana de Estradas de Ferro), ao lado de Campinas–, e responsável por transportar o "ouro verde", como era chamado o café no início do século passado.

    A autorização para levar a locomotiva para Salto foi dada pelo Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), por meio do termo de transferência nº 292. Já houve a transferência oficial.

    De acordo com o órgão do governo federal, um consórcio formado pelas prefeituras de Salto e Itu pretende restaurar a máquina e propiciar a volta da composição à circulação ferroviária, por meio do turístico Trem Republicano, em fase de desenvolvimento.

    "O Dnit, enquanto proprietário formal dos ativos, vislumbrou a possibilidade de apoiar o projeto e devolver essa composição aos trilhos, como forma de incentivar a preservação da memória ferroviária paulista", diz trecho de nota do órgão.

    Ainda conforme o Dnit, a presença da PF no momento em que a maria-fumaça seria retirada é "praxe" em operações que envolvam bens públicos e ela foi notificada das ações que seriam desenvolvidas na estação ferroviária.

    Helio Gazetta Filho, diretor-administrativo da ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária) Campinas, disse que a transferência de locomotivas ou vagões de passageiros para outras localidades sempre é marcada por polêmicas.

    "Quando recebemos a autorização para retirar uma locomotiva em Botucatu, tivemos de devolvê-la à época. Nós tiramos poucas que estavam em praças ou locais públicos. Me surpreenderá se ela sair de Ribeirão, pois é uma da Mogiana, importantíssima para a história da cidade. Difícil abrir mão disso, pois todas querem uma locomotiva."

    De acordo com ele, a locomotiva cedida para Salto é de difícil restauração e sua recuperação não custará menos de R$ 1,5 milhão.

    "A fornalha dela é de cobre, provavelmente terá de ser feita uma nova. Além disso, faltam muitas peças e ela foi vandalizada ao longo do tempo em Ribeirão. Entre levar e fazer funcionar vai um intervalo enorme."

    A outra locomotiva exposta em Ribeirão, na praça Francisco Schmidt, vizinha à antiga estação ferroviária, é alvo de dois projetos para a implantação de rotas turísticas. Também sofre com vandalismo.

    A Prefeitura de Ribeirão Preto informou, por meio da CCS (Coordenadoria de Comunicação Social), que o prefeito Duarte Nogueira (PSDB) vai enviar um ofício para o Ministério dos Transportes e para a superintendência do Dnit pedindo a permanência da locomotiva na cidade.

    Informou ainda que não permitirá a saída da maria-fumaça do município.

    O consórcio intermunicipal do Trem Republicano informou, por meio de nota, que a remoção da locomotiva atende a um pedido do Dnit e que a maria-fumaça está há mais de 30 anos "em situação de abandono, sendo alvo de vândalos e espaço para práticas ilegais".

    Agora, o consórcio diz esperar um novo posicionamento do Dnit.

    O Dnit informou, sobre o impedimento da saída da cidade com a locomotiva, que recebeu os questionamentos das entidades e "buscará uma solução conjunta adequada aos interesses da sociedade".

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