Os 129 anos estão registrados no seu RG, mas são só uma estimativa. O documento foi emitido mesmo em 2001, baseado no que José Aguinelo dos Santos e alguns conhecidos contaram no cartório de Bauru, no interior paulista.

Tímido, calado, seu Zé chegou a um abrigo da cidade em 1973. Já era idoso na época e não dava mais pro trabalho na lavoura, por isso, foi levado ao local pelo patrão. Entrou e nunca mais saiu, com exceção das escapadas que dava atrás de uma pinguinha.

Mas isso foi antes. Quando o muro do abrigo Vila Vicentina era baixo e o fêmur de seu Zé ainda era bom. Ele e outro interno pulavam a mureta e iam até o bar mais perto. Às vezes, voltavam sozinhos, outras tinham que ser buscados, conta César, vice-presidente do abrigo e o mais antigo funcionário do local.

Sem a bebida, seu Zé manteve apenas o inseparável cigarro. Todos os dias, após o café da manhã, ia para o sol fumar, embora não tragasse.

Nascido num quilombo de Pedra Branca (CE), o filho de escravos contava histórias da família e do trabalho na lavoura de café. Foi de colheita em colheita que chegou ao interior paulista –a data exata é um mistério. Não casou ou teve filhos e fez do abrigo seu lar.

Há alguns anos, ele atraiu a atenção de jornais por conta de sua idade. Na época chegou a receber o contato do Guinness, afirma César, mas o preço dos exames necessários desencorajaram o abrigo a buscar a comprovação de sua idade e o título de homem mais velho do mundo.

Morreu na última quarta (20), após uma parada respiratória. Deixa vários amigos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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