Carlos Roberto era um menino ainda quando decidiu que seguiria a profissão de barbeiro, a mesma do pai. O irmão foi o escolhido para testar suas habilidades. Colocou-o na cadeira, aparou algumas madeixas e, então, tirou uma lasca da orelha de sua cobaia.

Persistente, o garoto superou a bronca da mãe e resolveu fazer um novo teste, agora com as barbas. Seus colegas, todos com idade próxima dos dez anos, porém, nada tinham para ser cortado. Ele então acabou avançando até as sobrancelhas de um deles, e lá veio o novo safanão da mãe.

Foi assim que ele desistiu da profissão. Ficou só com o apelido: Barbeirinho do Jacarezinho, em referência à profissão do pai e ao bairro carioca em que sempre viveu.

A verdadeira vocação do garoto apareceu pouco depois, quando inscreveu um samba que compôs num concurso local. A música acabou vitoriosa e Barbeirinho, com 12 anos, levou o prêmio –uma bisnaga com mortadela.

As composições não pararam mais. Com um toque de crítica de social, compôs para o bloco do bairro, para a escola Unidos do Jacarezinho e para cantores famosos. "Caviar" foi gravada por Zeca Pagodinho e "Sequestraram minha sogra" por Bezerra da Silva.

O ganha-pão vinha de bicos que fazia como ajudante de pedreiro ou panfletando, mas o poeta encarnava a toda hora. Mesmo em conversar corriqueiras, Barbeirinho, que era hoje presidente da Unidos do Jacarezinho, soltava frases de impacto que podiam virar um novo sucesso.

Silenciou-se no dia 16, aos 67 anos, após uma queda e um traumatismo craniano. Deixa a mulher, dez filhos e netos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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