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    Cooperativas e artistas comentam edital de lei de fomento à dança em SP

    DE SÃO PAULO

    30/12/2017 02h00

    Reportagem da Folha de novembro, sobre uso de recursos da Prefeitura de São Paulo, foi criticada por dirigentes artísticos.

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    Reportagem utilizou programa para entrar em debate partidário

    VANESSA MACEDO
    SANDRO BORELLI
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    A reportagem "Haddad deu R$ 30 milhões a grupos que julgavam a si mesmos", publicada em 6/11/2017, com tom sensacionalista, envolveu nossos nomes num fantasioso esquema de aparelhamento entre Secretaria de Cultura, cooperativas e artistas. Portanto, viemos a público demonstrar o quão se trata de matéria de conteúdo descabido e nutrido de interesses partidários.

    1 - O texto aponta que "as duas cooperativas foram praticamente as únicas" entidades a indicar nomes para compor a comissão que julgaria os projetos de Fomento à Dança. Mas o fato não é verídico, pois as duas cooperativas (Dança e Teatro), o sindicato da dança, as universidades (Anhembi e PUC), além do Movimento a Dança se Move foram todos convocados, nos últimos anos. Essas entidades eram as consideradas representativas no que concerne ao escopo da lei: fomentar trabalhos continuados em dança contemporânea.

    2 - Processo licitatório não "dá" dinheiro, como diz o título da matéria. "Investe". Esse uso indevido da palavra presta um desserviço ao entendimento da opinião pública. E ainda: nas primeiras 21 edições do programa, mais de 70 profissionais diferentes de notoriedade na dança compuseram as bancas -acadêmicos, artistas e pesquisadores (4 deles escolhidos pela secretaria e 3 pelo voto dos artistas concorrentes)- para atuar num processo de seleção, autônomo e soberano em suas decisões. Acusar o processo licitatório de favorecimentos significa questionar a idoneidade de centenas de profissionais, dentre eles Vanessa Macedo, que foi indicada pelo Movimento a Dança se Move e eleita democraticamente pelo voto dos que se inscreveram no edital (como prevê a lei).

    3 - Os procedimentos de convocação das entidades representativas foram exatamente os mesmos, desde a instituição da lei, em 2006. Portanto, não entendemos a relação que a reportagem faz entre Haddad, cooperativa e artistas contemplados, considerando que essa prática foi a mesma usada nas gestões anteriores.

    4 - Há citação dos valores recebidos pelos projetos contemplados da Cia. Fragmento de Dança (dirigida por Vanessa Macedo) e da Cia. Carne Agonizante (dirigida por Sandro Borelli). Porém, numa atitude clara de confundir pessoa e projeto, não esclarece que tais valores não são para os diretores, e sim para projetos com duração de quase dois anos e que envolveram mais de 15 profissionais.

    5 - Ao tentar criminalizar as cooperativas, usa o nome do seu atual presidente, Sandro Borelli, e envolve, na sequência, Vanessa Macedo, vinculando ambos à insinuação de aparelhamento. Confunde cooperativa -entidade sem fins lucrativos que possui cerca de mil cooperados e conselho dirigente, e que atua por meio de decisões referendadas por assembleia- com a pessoa física Sandro Borelli. Para além disso, soma os valores recebidos em nossos projetos, valendo-se da nossa relação pessoal de "casal" para, mais uma vez, manipular os fatos. Esquece-se que não estamos falando de cargos comissionados e sim de processo licitatório, com comissão julgadora e regras próprias regidas por lei. Não é ético somar os valores, pois temos carreiras independentes e importantes na cidade de São Paulo, e não há impedimento algum de que ambos tenham seus projetos aprovados.

    Ao expor os nossos nomes nesse jogo de palavras e números, a reportagem sabia exatamente o que estava fazendo. Constrangeu-nos de forma leviana e fez uso de um programa cultural importantíssimo para entrar num debate partidário que não diz respeito aos artistas e nem aos bens públicos.

    VANESSA MACEDO é diretora da Cia. Fragmento de Dança e SANDRO BORELLI é diretor da Cia. Carne agonizante

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    Texto criminalizou o modelo ao ignorar política pública de Estado

    COOPERATIVA PAULISTA DE DANÇA
    COOPERATIVA PAULISTA DE TEATRO
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    Mais uma vez é preciso vir a público esclarecer o conceito de cooperativa, para que as forças interessadas em desmontar essa forma de trabalho sejam confrontadas com a verdade e a realidade do trabalhador da cultura dessa cidade!

    No dia 6/11, um repórter sem expressão na cultura publicou uma reportagem na Folha que, já no título, explicitava o interesse tendencioso da matéria, demonstrando claramente a ignorância do autor em torno do que seja uma cooperativa, mas pior: ignorância do que seja uma política pública de Estado. Ao criminalizar esse modelo de organização (garantido explicitamente na Constituição Federal), como vem fazendo a atual gestão municipal com qualquer voz dissonante da sua, o artigo sonega todo tipo de informação.

    O que o jornalista e o "poder público" já deveriam saber quando se propõem a falar sobre uma das políticas culturais mais avançadas da história do país -como é o caso da lei de fomento à dança- é que se trata de política de Estado, não de governo: sancionada pelo prefeito José Serra (PSDB) em 2005, passou por dois governos de legendas distintas e antecedeu em oito anos o governo Haddad (PT).

    Esta é a primeira leviandade da matéria, que apresenta uma lei desta dimensão como se fosse um projeto de algum político profissional, ignorando o próprio conceito de política pública. Deslize imperdoável para reportagem que apresenta uma suposta denúncia.

    O segundo erro da matéria (proposital ou não) é apontar as cooperativas como grupos, como núcleos fechados de privilegiados que negociam benefícios com o governo.

    A cooperativa de teatro tem 4.000 artistas e 800 grupos e a de dança, outros mil artistas diretamente relacionados ao ofício. São representação jurídica de expressivo número de artistas da cidade; suprapartidárias, sem discriminação social, racial, política, religiosa ou de orientação sexual. Não têm fins lucrativos e diferem-se das demais organizações justamente pelo seu caráter humanista: são sociedades de pessoas e não de capital.
    Para dizer o óbvio: se a maior parte dos artistas da cidade são cooperados, há possibilidade maior de artistas das entidades figurarem entre os ganhadores de editais.

    Concluindo, lembramos que, diferente do que o repórter insinua levianamente, as comissões de seleção (pelas quais já passaram mais de 70 profissionais nas 23 edições do programa) são escolhidas por indicação de universidades, movimentos, sindicatos e entidades e mais da metade é indicada diretamente pelo Poder Executivo. Sempre respeitando o critério de notório saber junto à comunidade da dança.

    O que não se pode aceitar, num jornal do porte da Folha, é que preconceitos, ignorâncias e dissimulações, tanto do autor da reportagem quanto de suas fontes na Secretaria Municipal de Cultura, comprometam o julgamento do leitor para uma questão tão importante como a produção artística e cultural que as cooperativas sempre estimularam na cidade de São Paulo.

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