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    Folha Verão

    Por até R$ 100 a hora, bronzeado com fita isolante se espalha pelo país

    JOÃO PEDRO PITOMBO
    DE SALVADOR

    27/01/2018 02h00

    Estiradas em cima de espreguiçadeiras, quatro mulheres lagarteiam sob o sol de 28°C de Salvador. Elas estão a menos de 100 metros da praia, mas não querem nem saber de colocar os pés na areia. A cena –sem praia, porém– também se repete em capitais como Belo Horizonte, Goiânia, Cuiabá e até em outras do interior do país.

    O bronzeamento com biquíni de fita isolante –que promete a marquinha de biquíni no corpo de forma mais rápida e simétrica– virou a nova febre do verão.

    Como toda moda, o bronze de fita fez surgir uma indústria no seu entorno que inclui linhas especiais de bronzeadores, kits de produtos que prometem a ativação da melanina, fábricas que produzem fitas em diferentes espessuras e até curso à distância de como montar o seu próprio biquíni em casa.

    Clínicas de estética que oferecem serviços de "personal bronze" espalharam-se pelo país. Monetizaram o sol e chegam a cobrar até R$ 100 por uma hora de bronzeamento natural.

    Além do biquíni desenhado com a fita isolante no corpo, as clientes também tem direito a protetor solar e loções bronzeadoras. Com um regador, uma funcionária refresca o corpo das clientes de tempos em tempos, para evitar desidratação.

    A privacidade também é um fator determinante: Na maioria dos espaços dedicados ao bronze só entra mulher. Os locais são fechados aos olhos de curiosos.

    "Tem cliente que aproveita para fazer topless ou até tomar sol nua, principalmente as turistas europeias", afirma Alexandra de Melo, sócia do espaço Salvador Bronze, inaugurado há três meses no bairro da Boca do Rio, orla da capital baiana.

    Foi lá que na sexta-feira (19) a empresária Cristina Santana, 41, montou o seu biquíni de fita para uma sessão de uma hora de sol.

    Ela mora na beira do mar em Vilas do Atlântico, uma das praias mais procuradas da Grande Salvador. No entanto, não aparece na areia sem antes ter feito a sua marquinha com a fita isolante.

    "Prefiro ir para a praia só para me divertir, sem o compromisso de ter que ficar lá esturricada debaixo do sol. Melhor fazer a marquinha antes e ir para praia só pra desfilar", diz ela, aos risos.

    MECA DA FITA ISOLANTE

    O biquíni de fita isolante ganhou novo impulso após o lançamento do clipe da música "Vai, Malandra", de Anitta, que retrata mulheres usando o modelo e tomando sol em uma laje no Morro do Vidigal, no Rio.

    A técnica, contudo, não é nova. Surgiu de forma espontânea entre mulheres que buscavam uma marca de sol mais uniforme. Inicialmente era usado até mesmo nas praias –foi moda num longínquo verão de 2007– mas acabou migrando para os quintais e as lajes de clínicas de estética.

    E engana-se quem pensa que o Rio –que agora dá fama ao biquíni – seja pioneiro na técnica. Quem é do ramo aponta Goiânia –cidade que não tem praia– como a verdadeira meca do biquíni de fita. Lá, a técnica é usada há pelo menos quinze anos e oferecida por mais de duas dezenas de clínicas.

    Hoje, a maioria dos produtos usados pelas "personal bronzers" vêm de Goiás, assim como os cursos que ensinam a montar o biquíni no corpo das mulheres.

    A empresária goiana Luana Toledo dá cursos de montagem de biquíni de fita há dez anos. Segundo ela, a procura pelo curso, que dura dois dias e custa R$ 950, disparou no último ano."A mulherada se apaixonou pelo bronze e pela marquinha perfeita. É um negócio que veio pra ficar", afirma.

    Somente neste ano, já são 16 turmas fechadas até maio em 13 cidades, incluindo capitais como Belo Horizonte, São Luís e Manaus. Também há opção de fazer o curso à distância, com material que inclui apostilas e vídeos ensinando a montar o biquíni com fita corretamente.

    Além dos serviços das próprias clinicas de estética e bronzeamento, o biquíni também movimentou a indústria de loções bronzeadoras e até a produção de fitas adesivas com espessura sob demanda –o lote com dez fitas de 20 metros é vendido por R$ 70.

    Algumas lojas já vendem o biquíni completo, cabendo a cliente apenas montá-lo no corpo. A perícia em montar o biquíni com a fita isolante, contudo, é apontada como o principal ativo de quem oferece o serviço de "personal bronze"."Nunca tentaria fazer em casa. Imagine ficar com a marquinha torta?", afirma a goiana Letícia Siqueira, 24, que conheceu o serviço há um ano.

    Desde então, ela vai de três em três meses, religiosamente, estender-se em uma das macas até surgir a sua marquinha sob o sol do cerrado –a "meca do bronze de fita".

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