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    Cidade de Kobane resiste ao avanço do Estado Islâmico

    DA DEUTSCHE WELLE

    24/12/2014 11h49

    Antes de os bombardeios aéreos ocidentais terem começado, no início de outubro, as Unidades de Proteção Popular (YPG) dos curdos sírios estavam combatendo sozinhas o Estado Islâmico (EI) havia já 45 dias.

    Superadas em poder de fogo e em número de homens, enfrentando a proibição da Turquia de que novos combatentes curdos atravessassem a fronteira, ninguém esperava que elas tivessem alguma chance.

    "A bravura e a coragem de nossas forças contiveram o EI", afirma Anwar Muslim, premiê do autoproclamado governo regional de Kobane. "Então os bombardeios da coalizão internacional começaram, e os peshmerga iraquianos também ofereceram apoio, e as nossas forças ganharam terreno. Física e psicologicamente, [os combatentes do EI] estão agora quebrados."

    Aris Messinis-08.out.2014/AFP
    Fumaça pode ser vista na cidade de Kobane, na fronteira entre a Síria e a Turquia, que resiste ao avanço do EI
    Fumaça pode ser vista na cidade de Kobane, na fronteira entre a Síria e a Turquia, que resiste ao avanço do EI

    ONDA DE OTIMISMO

    A população de Kobane está cada vez mais otimista, estimulada pelo recente êxito das YPG. De acordo com o responsável pela defesa de Kobane, Ismat Sheikh Hassan, as forças curdas retomaram o controle de 70% da cidade.

    "Aviões bombardeiam posições do EI dentro de Kobane e também atingem os reforços que eles tentam enviar para cá", afirma. "Mas não importa o impacto dos bombardeios, sem uma força efetiva no solo, nada mudaria."

    Para derrotar o "Estado Islâmico", as YPG precisam de ainda mais artilharia pesada, e mais ataques aéreos, principalmente contra as linhas de abastecimento do EI, diz Hassan.

    Mas Muslim prevê o êxito. "O EI não consegue mais controlar Kobane. Ganharemos esta batalha, mas precisamos ser pacientes."

    Para sobreviver às condições dentro de Kobane, particularmente com a queda das temperaturas no inverno, é preciso de determinação, além de paciência.
    Condições difíceis

    "Numa tarde fria de dezembro, Letfiya Aberkali Zelema, de 30 anos, aninha-se em torno de uma pequena fogueira no lado de fora de sua casa, no oeste de Kobane. "Não temos calefação nem combustível", ela explica. "Temos que fazer fogueira do lado de fora e cozinhar aqui."

    Letfiya está entre as centenas de civis que ainda vivem em Kobane. Enquanto milhares de pessoas fugiram para a Turquia quando as lutas se iniciaram, a família dela decidiu ficar.

    "Nós não queremos ir embora", explica. "O que faríamos em outro país? Na Turquia, somos tratados como ciganos. Esta é a nossa terra. Por que a deixaríamos para outras pessoas? É melhor morrer aqui."

    Embora não tenham restado lojas na cidade, o governo local, do Partido da União Democrática (PYD) dos curdos sírios, organiza distribuições diárias de suprimentos básicos para todos os residentes, incluindo alimentos, roupas e remédios. Mesmo a coleta de lixo continua: com uma pá na mão e uma espingarda amarrada às costas, o lixeiro joga sacos de lixo na caçamba de um pequeno caminhão.

    Letfiya afirma que sua maior preocupação são os cinco filhos, cujas idades variam de 18 meses a 12 anos. "Eles estão com medo. Tentamos dizer a eles que tudo vai bem, mas se há uma granada de morteiro, eles se amedrontam."

    Hoje, porém, as crianças brincam na frente de casa. "De certa forma, já estamos acostumados", explica Letfiya. "Esta tem sido a nossa vida nos últimos meses."

    FAMÍLIAS COMBATENTES

    Enquanto Letfiya passa o dia cuidando de sua família, a maior parte dos civis participa ativamente do esforço de guerra. "Já faz três anos que nossa população - também crianças pequenas - aprendeu a lutar", comenta Ahmed Ismael, de 22 anos. "Todo mundo aprendeu a usar uma arma." Ahmed, que é carpinteiro, uniu-se à resistência quatro meses atrás.

    A partir de uma pequena casa na área do mercado agora destruída de Kobane, ele ajuda apoiando a linha de frente, trazendo comida e munição para os combatentes, ou transportando soldados feridos para o hospital.

    Membros da resistência local abriram buracos nas paredes entre as casas geminadas, para poder atravessar a cidade sob a segurança proporcionada pelos edifícios. Grandes toldos foram pendurados na entrada de algumas ruas, para proteger a população dos atiradores do EI.

    "Estamos lutando por nossa liberdade", diz Ismael. "Estamos lutando para que nossa vida possa voltar ao normal." Na esteira do conflito, isso também levou ao desenvolvimento de um orgulho ferrenho, duramente conquistado.

    "De todas as áreas na Síria, somente a população de Kobane não se rendeu ao EI", reconhece Muslim. "As pessoas disseram que iriam lutar, e muitas delas se tornaram refugiados, mas nós recusamos a conviver com o EI e a sua ideologia. Mostramos que, se o povo luta e resiste, o EI pode ser derrotado."

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