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    Fim da gratuidade nas universidades públicas divide opinião de acadêmicos

    FÁBIO TAKAHASHI
    ÉRICA FRAGA
    DE SÃO PAULO

    02/06/2014 02h00

    A cobrança de mensalidade em universidades públicas é um tema que divide acadêmicos do país.

    Para um grupo, é dever do Estado garantir ensino gratuito e de qualidade a todos. A cobrança, para essa corrente de opinião, poderia excluir ainda mais os alunos de baixa renda do ensino superior.

    Outro grupo entende que o valor arrecado pode custear expansão de vagas, melhorar a pesquisa e liberar o Estado para investir em outras áreas.

    "Não há razão para não cobrar, dado os benefícios que um diploma de nível superior traz para os formados, sobretudo na USP", afirmou Simon Schwartzman, pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade e ex-presidente do IBGE.

    "Uma cobrança razoável poderia melhorar as finanças da universidade e fazer com que os alunos pensassem duas vezes antes de se matricular sem se dedicar aos estudos", completou.

    Segundo Naercio Menezes Filho, professor da USP e do Insper, a maior parte dos alunos que entra nas universidades públicas pôde frequentar boas escolas privadas.

    "Então, do ponto de vista de justiça social, faria sentido que alunos com melhores condições pagassem mensalidade", disse.

    Além disso, afirma Menezes Filho, o governo hoje gasta muito mais por aluno do ensino superior do que por estudante do básico, "que oferece maiores retornos aos investimentos recebidos".

    Ex-reitor da USP e consultor de ensino superior, Roberto Lobo se mostra contrário à cobrança de mensalidade nas universidades públicas.

    "O pagamento de mensalidades teria contribuição pequena para resolver os problemas diante dos atuais custos da universidade", disse.

    O ex-reitor destaca que mesmo países europeus que adotaram a cobrança exigem valores quase simbólicos dos cidadãos do próprio país.

    Nos EUA, cerca de 90% dos estudantes têm alguma forma de financiamento.

    Lobo afirma que é "equivocado" tomar como base as dificuldades financeiras atuais da USP para iniciar a discussão de mensalidades na universidade.

    "O deficit se originou aparentemente de concessões exageradas às pressões corporativistas. O problema atual deverá ser resolvido pelos próprios gestores das universidades", afirmou.

    "O ensino público e gratuito é um conceito claro para mim", disse a reitora em exercício da Unesp e presidente do conselho de reitores das estaduais paulistas, Marilza Cunha Rudge.

    "Mas certamente teremos de fazer discussões sobre novos tipos de financiamento. Atendemos hoje uma parcela muito pequena do ensino médio", afirmou Rudge.

    O reitor da USP, Marco Antonio Zago, foi procurado pela Folha para se manifestar sobre o tema, mas não respondeu até a conclusão desta edição.

    EDITORIA DE ARTE/Folhapress

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