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    Mudanças na concorrência da Fuvest acompanham mercado

    FÁBIO TAKAHASHI
    DANIELA MERCIER
    DE SÃO PAULO

    29/11/2014 02h00

    Há dez anos, uma vaga no curso de turismo da USP era mais disputada do que uma em medicina. Já o curso de geologia aparecia discretamente no vestibular, com menos de dez candidatos por vaga na seleção para 2005.

    Para os 142 mil estudantes que farão a prova da primeira fase da Fuvest, neste domingo (30), porém, o cenário é bem diferente.

    Editoria de arte/Folhapress

    A Folha analisou a evolução da concorrência nas provas desde 2005.

    Ofertada pela ECA (Escola de Comunicação e Artes), a carreira de turismo era a nona mais concorrida no vestibular para aquele ano, com 33,5 candidatos por vaga.

    Hoje, para as mesmas 30 vagas, a procura caiu para 8,27 candidatos.

    "Nos anos 2000, havia uma grande divulgação por parte da mídia sobre as profissões do futuro, e o turismo era uma delas", explica Reinaldo Miranda de Sá Teles, professor do curso na USP.

    Segundo ele, naquela época houve uma explosão de faculdades com esse tipo de graduação. Com a entrada dos profissionais no mercado de trabalho, a percepção sobre a carreira mudou.

    "Naquele momento, a demanda era grande, mas não necessariamente por bacharéis", explica Teles, referindo-se à possibilidade de formação em nível técnico para hotelaria, por exemplo.

    A tendência de queda nos últimos anos é observada também em nível nacional.

    Segundo dados do Ministério da Educação, entre 2007 e 2013, o número de ingressantes nos cursos de turismo caiu pela metade: passou de 13.557 estudantes para 6.035.

    Para Teles, é preciso haver uma compreensão mais clara das potencialidades do profissional. "No setor público, o bacharel em turismo deveria ser considerado para o planejamento urbano", exemplifica o professor.

    Essa é a aposta da estudante do primeiro ano na USP, Andressa Cavalcante de Lima, 18. "Estou segura de que é uma carreira que precisa de mais gente qualificada", diz.

    AQUECIMENTO

    As oscilações na procura por cursos estão vinculadas ao movimento do mercado de trabalho. Para Flavia Queiroz, gerente da Page Talent, especializada em recrutamento de jovens, isso explica a escalada de carreiras envolvidas no setor de construção e de petróleo e gás.

    "São áreas que continuarão aquecidas nos próximos anos", afirma.

    Na USP de São Carlos, engenharia civil teve crescimento de 308% na concorrência, chegando a 40 candidatos por vaga. Foi a maior alta entre as graduações que não tiveram alteração no número de vagas no período.

    "O crescimento da procura pela nossa engenharia civil está ligada à demanda por esses profissionais no país. Mas a escola também tem boa reputação, o que faz o interesse ser ainda maior", afirma Eduardo Belo, presidente da comissão de graduação da Escola de Engenharia de São Carlos (SP).

    No caso do curso de geologia, a procura dobrou -passou de 6 candidatos/vaga em 2005 para 12 em 2015.

    "Nosso curso sofre forte influência da atividade econômica. Quando há grandes obras e maior atividade de mineração e exploração de petróleo, a concorrência cresce", disse o presidente da comissão de graduação do Instituto de Geociências, Ginaldo Campanha, responsável pela carreira de geologia.

    É o geólogo que faz estudos do meio ambiente que permitem essas obras ou a extração dos bens naturais.

    Campanha disse que nos últimos anos a evasão tem sido praticamente zero. Mas, com o esfriamento da economia, o interesse pelo curso pode cair rapidamente.

    APOIO

    Outra carreira que registrou queda acentuada nos últimos dez anos foi pedagogia.

    Para o coordenador da graduação na USP, Marcos Garcia Neira, a procura menor está relacionada à expansão dos cursos de pedagogia no país e no Estado.

    Outro fator, segundo ele, são as "condições adversas" de trabalho nas redes, com salários baixos e falta de apoio para o desenvolvimento de práticas mais avançadas. "Tudo isso explica o desinteresse do jovem pelo curso de pedagogia", afirma.

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