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    95% das escolas de destaque no Enem 2013 têm alunos mais ricos

    ANDRÉ MONTEIRO
    DANIELA MERCIER
    DE SÃO PAULO
    NATÁLIA CANCIAN
    DE BRASÍLIA

    23/12/2014 02h00

    Entre os 1.472 colégios com melhor desempenho no Enem do ano passado, 95% têm alunos com nível socioeconômico alto e muito alto.

    Nesse grupo, que corresponde a 10% das instituições com notas divulgadas, 107 são da rede pública –76% delas com estudantes pertencentes a famílias com maiores renda e escolaridade.

    Os dados, baseados no questionário respondido pelos estudantes, foram divulgados pela primeira vez pelo governo federal nesta edição.

    "Estamos divulgando agora o resultado e o contexto. Em qualquer análise educacional no Brasil, eu tenho que olhar essas duas dimensões", afirma o presidente do Inep (órgão responsável pelo exame), José Francisco Soares.

    Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress

    A mudança é uma reivindicação antiga de educadores, que afirmam que o fator socioeconômico é o que, isoladamente, melhor explica as diferenças entre as escolas.

    "A correlação entre o nível socioeconômico da família e o desempenho dos estudantes é altíssima", afirma Maria Alice Nogueira, coordenadora do Osfe (Observatório Sociológico Família-Escola), grupo ligado à UFMG.

    De acordo com ela, é um erro pensar que pais de classes menos favorecidas valorizam menos menos a educação dos filhos.

    Porém, o nível de escolaridade pode influenciar as maneiras de acompanhar e de investir nessa educação.

    "O capital cultural' é mais relevante que o capital econômico'", diz. "Pais com mais qualificação cultural conhecem mais as características do filho e das escolas."

    Apesar de limitações, ela diz que a escola pode, sim, fazer a diferença.

    Fatores como liderança dos gestores e a expectativa positiva em relação aos alunos são algumas características das que conseguem reverter esse quadro.

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    Paula Louzano, pesquisadora da USP e doutora em educação pela Universidade Harvard, nos EUA, também afirma que o perfil socioeconômico é relevante.

    "No Brasil, o peso da família chega a 70%. O que é trabalhado na escola são 30%."

    Por isso, ela observa que o Enem diz pouco sobre a qualidade do ensino e que a posição mais alta no ranking está mais relacionada com a seletividade dos colégios.

    "Se eu cobro uma mensalidade alta, eu seleciono o nível socioeconômico dos alunos. Se, além disso, o aluno faz uma prova para entrar, eu seleciono o desempenho. Isso explica quem está em cima [da lista]."

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