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    Após CPI, medicina da USP 'manera' em músicas de trote com aprovados

    MONIQUE OLIVEIRA
    DE SÃO PAULO

    30/01/2015 15h40

    Monique Oliveira/Folhapress
    Alunas da medicina da USP recepcionam calouros em cursinho na Ana Rosa
    Alunas da medicina da USP recepcionam calouros em cursinho na Ana Rosa

    "Aqui tem um bando de porco, porco da medicina... ", entoa aluna da atlética da medicina da USP. "Essa dá, essa dá...", responde outro aluno. "Mas e essa? Aqui é Intermed (....) vai tomar no c", pergunta outro estudante. "Não. Qualquer palavrão os caras vão achar que a gente... [aluno faz uma careta]".

    Foi escolhendo músicas a dedo e em campanha forte contra o trote que a Associação Acadêmica Atlética Oswaldo Cruz, da Faculdade de Medicina da USP, recebeu alunos aprovados na Fuvest em cursinho na Ana Rosa nesta sexta-feira (30).

    As festas organizadas pela atlética e as músicas tradicionais da medicina da USP, geralmente entoadas em jogos, estiveram na berlinda este ano após denúncias de estupro e violações a direitos humanos na universidade.

    Uma investigação está em curso no Ministério Público e uma CPI foi aberta na Assembleia Legislativa do Estado –muitas das músicas da atlética foram exibidas nos telões das audiências públicas como exemplo para indicações de uma cultura de violações a direitos humanos na USP.

    A atlética também foi acusada da prática do "pascu", em que estudantes são rendidos, as roupas são arrancadas e creme dental é introduzido no ânus como resposta a desobediências.

    "Não tem porque músicas que são consideradas ofensivas continuarem a ser entoadas", afirma Diego Vinicius Santinelli, 23, aluno do terceiro ano da medicina e presidente da atlética. "Muito é o resultado da tradição e a tradição pode mudar", diz. "Você pode ver que as músicas entoadas para os calouros aqui só tem a ver com o espírito de competição, com o esporte."

    NOVA CARA

    Mudanças, contudo, parecem estar em curso. A recepção aos calouros também foi amena. Beijos e abraços em meio a selfies e convites para o "face" davam o tom da comemoração.

    Um panfleto também estava sendo distribuído. "A diretoria da atlética é veementemente contra qualquer forma de trote e não permite a prática de qualquer forma de agressão, física ou psicológica, contra os calouros, seja dentro de suas dependências ou nos eventos por ela organizados", escreveram.

    É o prelúdio para "a nova cara da medicina da USP", conforme disse aluna da Medicina enquanto estendia a faixa com a inscrição "Atlética Medicina USP contra o trote universitário". "A gente vai sair na Folha? Vai gente, sorriam. Essa é a cara da nova medicina da USP", disse aluna.

    De fato, a medicina da USP se prepara para uma nova cara. A atlética, que em meio a denúncias mal falava com a imprensa; agora, conta com uma assessoria só para ela, que estava durante a comemoração.

    Segundo a assessoria, os calouros serão levados para a atlética, onde serão recebidos com lanche e refrigerantes, já que o álcool foi proibido na Faculdade de Medicina após relato de estupro de aluna desacordada na festa "Carecas do Bosque".

    PREOCUPADOS EM PASSAR

    Já os calouros não pareciam estar preocupados com as denúncias ou tampouco manifestavam medo de agressões. O aprovado Henrique Malteze, 20, que fez três anos de cursinho para entrar em medicina é um deles. "Eu estou sabendo que eles estão mais leves agora", disse. "Ouvi dizer sobre a CPI, mas estava mais preocupado em passar."

    Também Flavia Roberta Galter, 18, aprovada em medicina não queria saber de denúncia. "Muita coisa é exagero. Não é só porque você vai numa festa da medicina da USP que você vai ser estuprada."

    ESCOLA POLITÉCNICA

    Enquanto a atlética da Medicina tentavam amenizar o trote, alunos da Escola Politécnica da USP, não estavam no mesmo tom.

    Palavrões foram entoados, cervejas foram trazidas em garrafas de Tubaína e um porco de pelúcia foi usado para que bichos simulassem sexo anal em recepção a calouros em cursinho na Ana Rosa nesta sexta-feira (30).

    "Vai, bicho, come o porco", diz veterano. "Come o porco bicho", afirmou. O recém-aprovado, envergonhado, segura o porco. "Vai bicho, come o porco". O bicho, então, simula sexo anal com o porco de pelúcia e o veterano ri.

    Os gritos da atlética da Poli, que não esteve dentre as acusações de estupro e abusos veiculadas na mídia e nas audiências públicas da CPI da USP, estavam mais agressivos que os da Medicina e, ao contrário dos companheiros de universidade, não tomaram cuidado com palavrões.

    "Eu... vou dar porrada eu vou e ninguém vai me segurar... nem a PM", entoavam. "Porrada, porrada, porrada...". E todos pulavam.

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