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    Psicóloga critica aumento de turmas por adulto nas creches municipais

    THAIS BILENKY
    DE SÃO PAULO

    26/02/2015 12h00

    A psicóloga Cisele Ortiz considera "péssima" a mudança adotada pela Prefeitura de São Paulo que ampliou o número de crianças atendidas pela rede municipal sem adequação estrutural das creches.

    A Folha revelou nesta quinta-feira (26) que a medida está em vigor desde o início do ano. Na prática, adultos que cuidavam de 18 crianças passaram a ser responsáveis por 25.

    Para Ortiz, coordenadora adjunta da ONG Avisa Lá, que atua na formação de educadores, a medida ajudará a prefeitura a acatar a lei que obriga que todas as crianças de 4 a 6 anos de idade estejam matriculadas na rede de ensino. "Mas a cidade não está atendendo crianças de 0 a 1 ano", criticou.

    Adriano Vizoni - 1º.out.2009/Folhapress
    A psicóloga Cisele Ortiz durante lançamento do Mapa de Brincar, em outubro de 2009
    A psicóloga Cisele Ortiz durante lançamento do Mapa de Brincar, em outubro de 2009

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    Leia a seguir a entrevista:

    Folha - Como a senhora avalia a mudança?
    Cisele Ortiz - É péssima, inadequada do ponto de vista pedagógico. Afeta crianças que ainda usam fralda, que precisam de acompanhamento nos cuidados pessoais fundamentais, cuidados que ainda precisam ser aprendidos. Você acha que um professor consegue acompanhar a refeição de 25 crianças de dois anos? As crianças não estão sendo bem atendidas, saíram prejudicadas.

    Os professores também foram prejudicados?
    É uma sobrecarga para os professores. É estressante do ponto de vista das relações, dos vínculos, do cuidado.

    E são as relações e os vínculos a essência do trabalho com crianças nessa idade?
    É o fundamental. A criança não vai ser atendia nas suas atividades fundamentais. Será negligenciada ou submetida a um atendimento massificante.

    O que isso pode comprometer no desenvolvimento da criança?
    Pode comprometer seu processo de formação de identidade e autonomia. Se você não dá a possibilidade de a criança vivenciar [essa etapa] de maneira calma, digamos assim, não vai dar o tempo necessário para ela construir uma visão de si mesma como sendo capaz e competente de fazer as coisas por si mesma. Criança adora lavar a mão para ir almoçar. Você tem que ensinar como se lava a mão. Para você fazer isso com 25 crianças e gastar um minuto com cada uma –o que eu acho pouco– você gastará 25 minutos só de lavagem de mão. Quando a última criança terminar de lavar a mão, a primeira já sujou de novo.

    O que se pode fazer?
    As creches são competentes, estão funcionando. Elas têm que criar um sistema de trabalho, um fluxo que dê conta disso.

    O aumento do número de alunos pode causar agitação?
    Agitação ou passividade, depende da criança.

    Isso pode comprometer o desenvolvimento da criança no futuro?
    Pode comprometer agora mesmo. Tem que olhar a criança hoje. Ela já existe hoje, precisa ser atendida hoje. O futuro, a gente não sabe, cada criança tem suas condições de lidar com as adversidades.

    Qual seria o número ideal de alunos por adulto?
    Na minha avaliação, os números praticados estão muito acima do recomendável. O ideal seriam 6 crianças para 1 adulto. Mas sempre tem que ter dois adultos por grupo, independentemente do número de crianças, mesmo nos de seis crianças. Se uma precisa ser trocada, com quem ficam as outras cinco?

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