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    Universitários passam a madrugada na calçada para aderir ao Fies

    NICOLAS IORY
    DE SÃO PAULO

    12/03/2015 09h38

    Quem passava pela avenida Liberdade na madrugada desta quinta-feira (12) se espantava com o cordão de pessoas junto ao muro da FMU (Faculdade Metropolitanas Unidas), próximo à estação São Joaquim do metrô.

    Ao menos 130 alunos da faculdade formavam uma fila no local por volta das 5h45 da madrugada para conseguir atendimento e resolver problemas com o cadastro no Fies (Programa de Financiamento Estudantil).

    Os estudantes reclamam de dificuldades para fazer o aditamento (renovação) e efetivar novos cadastros no programa do governo federal.

    Sentada na calçada forrada com folhas de seu caderno, a estudante de economia Rafhaela Melo, 19, era a primeira da fila. Ela chegou ao local às 22h da noite anterior, após ter ficado sem atendimento nos dois dias anteriores, quando chegou às 8h, na terça, e às 5h, na quarta.

    "Eu saí da aula ontem à noite e já fiquei por aqui. Daqui a pouco eu vou para o trabalho, depois volto para a aula e só depois vou descansar", disse Rafhaela, que está no 2º semestre do curso de economia.

    Apesar dos três dias seguidos enfrentando filas, a estudante, que mora em São Bernardo do Campo (Grande ABC), conseguiu nesta manhã, por volta das 8h30, receber apenas uma senha para ser atendida na terça-feira (17). Ainda assim, o atendimento será feito por ordem de chegada, o que deve render mais uma madrugada em frente à faculdade.

    "Eles disseram que não precisa chegar antes, mas imagina esperar 200 pessoas para falar com alguém? Na próxima eu vou até trazer um cobertor, porque a gente passa muito frio e medo na rua."

    Avener Prado/Folhapress
    Estudantes chegaram a encarar dez horas na calçada para aderir ou renovar financiamento
    Estudantes chegaram a encarar dez horas na calçada para aderir ou renovar financiamento

    ROTINA

    As filas em frente à faculdade vêm se repetindo desde o início desta semana, já que a FMU concentra o serviço que atende todos seus estudantes com Fies apenas em uma unidade da instituição. Nesta terça (10),cerca de 40 estudantes chegaram a fazer um protesto bloqueando a avenida Liberdade por aproximadamente duas horas.

    A estudante Carolina Liparelli, 28, integrou a fila, pouco antes das 3h da manhã, ao lado da mãe, Sandra Regina, 51. Ela está cursando o 3° semestre de psicologia e tenta –pela terceira vez– renovar seu contrato no Fies.

    Moradoras do Campo Limpo (zona sul de SP), elas levaram cadeiras de praia para encarar a maratona na calçada. "Estou tomando um bronze lunar", brincou Carolina. "A faculdade diz que isso é uma situação excepcional, mas é mentira. Ano passado também foi a mesma fila."

    "TOMADAS!"

    Funcionários da FMU começaram a liberar a entrada dos alunos às 7h45 da manhã. Os estudantes que conseguiram senhas em dias anteriores foram encaminhados para dentro, enquanto os demais precisaram dar a volta no quarteirão para aguardar em um auditório.

    "Olha, gente! Tomadas!", comemorou uma estudante ao chegar ao local. A maioria dos alunos já estava com a bateria do celular descarregada naquele momento.

    Um dos coordenadores do serviço que atende os estudantes na FMU, identificado apenas como Denis, afirmou que a faculdade está atuando com efetivo 80% superior para satisfazer a todos. Mesmo assim, "devido à lentidão no sistema do Fies", a atual capacidade de atendimento da faculdade equivale à metade do praticado em anos anteriores.

    Para uma plateia enfurecida, que reclamava muito do atendimento da instituição, Denis explicou que todos iriam receber uma senha para serem atendidos na terça-feira (17) e que a demora em efetivar o contrato com o Fies não trará prejuízos financeiros a ninguém.

    É o que espera a estudante de odontologia Gessyca Lopes, 21, que já recebeu uma mensagem da faculdade no celular cobrando o pagamento de duas mensalidades.

    O Fies, operado pelo FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), tem cerca de 1,85 milhão de alunos inscritos. O estudante que adere ao programa tem a mensalidade bancada pelo governo em instituição privada. O valor é restituído à União após a formatura.

    Sem anúncio oficial, o governo federal tornou as regras para financiar a mensalidade dos alunos mais duras, neste ano. As instituições de ensino dizem que foram fixadas medidas como teto para mensalidades, além de dificultar a inscrição em cursos sem nota 5 na avaliação federal (de 1 a 5).

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