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    Sem creche, alunas da USP levam filhos para a sala de aula

    GIOVANNA BALOGH
    DE SÃO PAULO

    17/03/2015 11h59

    Adriano Vizoni/Folhapress
    Daniele Santana leva o filho Francisco para as aulas na USP
    Daniele Santana leva o filho Francisco para as aulas na USP

    Estudantes de diferentes cursos da USP (Universidade de São Paulo) têm levado mais do que cadernos, livros e canetas para a sala de aula. Desde o início do ano, além do material escolar, elas levam os filhos à tiracolo. As universitárias alegam que não têm com quem deixar os pequenos após a USP decidir não abrir novas vagas nas creches da instituição.

    De acordo com a própria USP, as creches são para filhos de funcionários, professores e alunos, no entanto, não foram abertas novas vagas em 2015. A instituição não comenta o motivo de ter tomado essa decisão. Para o Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP) e a Apef (Associação de Pais e Funcionários da Creche Central) a intenção da reitoria é fechar definitivamente as creches, já que não há previsão de abertura de novas matrículas.

    Sem alternativa, as mães têm 'se virado nos 30' para conseguir conciliar os estudos e a maternidade. Mãe solteira, Shirley Anizio, 27, leva o filho Theo, 4, para as aulas de pedagogia. Como estuda à noite, sempre acaba saindo mais cedo pois o filho fica cansado com o longo período dentro da sala de aula e no trajeto de ida e volta, feito diariamente de ônibus. "Lá não é ambiente para ele. Tem dias que ele dorme na sala de aula", comenta.

    O mesmo dilema tem a estudante Daniele Santana, 27, que já trancou por três anos o curso de filosofia, e precisa retomar os estudos neste ano. Com um filho de dois anos e meio, ela também tem levado o menino para a sala de aula. Moradora da Vila Leopoldina (zona oeste de SP), ela leva duas horas para ir e duas para voltar com o menino de ônibus.

    Segundo ela, os professores têm sido compreensivos, mas ela nota que o filho fica irritado de passar horas trancado em uma sala de aula. "Interfere o comportamento dele, sono, tudo. Afinal, são 4 horas por dia na sala, três vezes por semana", diz Daniele, que pegou menos matérias para não prejudicar tanto o menino.

    Daniele conta que não conseguiu vaga na rede pública e que as creches convencionais normalmente funcionam até as 17h –na USP, elas funcionam até 19h30. "Saio da USP nesse horário, não conseguiria pegá-lo a tempo. E creche particular está fora de cogitação pelo valor que cobra", lamenta.

    Já a pequena Tarsila, de um ano e dois meses, corre pela sala de aula enquanto a mãe, a estudante Anna Letycia Ottoni, 19, tenta se concentrar nas aulas. "A gente até brinca que ela está fazendo graduação, mas não é o tipo de aprendizado que uma criança deve receber. É cansativo para ela, pra mim, e ainda acho que ela perde muito no desenvolvimento dela ficando na sala de aula", diz.

    As mães contam que apelam para a criatividade e levam brinquedos, giz de cera e papel, massinha, além de lanchinhos, para distrair os pequenos nas horas que passam dentro da sala de aula.

    Procurada, a USP disse que servidores e docentes com filhos até seis anos e que não estão na creche podem contar com um auxílio mensal no valor de R$ 574 por dependente. Atualmente, cerca de 3.800 recebem o benefício, que não é voltado para os alunos.

    A USP diz ainda que atualmente são cinco creches (duas no campus do Butantã, uma na Faculdade de Saúde Pública, uma no campus de Ribeirão Preto e uma no campus de São Carlos). Juntas, elas atendem cerca de 580 crianças. A maioria das vagas, segundo a USP, são voltadas para filhos de funcionários e de alunos. Neste ano, diz a USP não foram abertas nenhuma vaga nas unidades.

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