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    Alunos protestam após fichas pessoais vazarem de site de colégio tradicional

    NICOLAS IORY
    DE SÃO PAULO

    19/03/2015 15h46

    Na saída dos alunos do colégio Bandeirantes, na Vila Mariana (zona sul de SP), o assunto que predominava nas rodas de conversa era um só: o vazamento de comentários feitos por professores a respeito de estudantes da instituição.

    "[Os professores] comentaram que eu era sexualmente aflorada e usava muito decote", reclamava uma aluna do segundo ano do Ensino Médio.

    Os comentários do corpo docente da escola foram feitos durante reuniões do conselho pedagógico entre os anos de 2007 e 2012. A disponibilidade dessas informações foi divulgada por um aluno do terceiro ano do Ensino Médio que fez uma série de vídeos mostrando essa falha no site e os divulgou no grupo de sua sala no WhatsApp, no domingo (15).

    Desde então, a descoberta se espalhou entre os demais estudantes do colégio, que passaram a difundir em mensagens pelo celular diversos comentários retirados do site.

    Ao meio-dia desta quinta-feira (19), muitos alunos estavam vestidos com roupas pretas para protestar contra a suspensão por oito dias do aluno que divulgou a falha. Colegas de classe desse estudante também decidiram não entrar na sala de aula nesta manhã.

    "Ele foi o primeiro a ter coragem, mostrar a cara e apresentar isso", dizia um estudante. "Mas o que ele fez também não foi certo", ponderava outro aluno.

    Danilo Verpa/Folhapress
    Aluna do colégio Bandeirantes mostra um dos comentários vazados do site da escola
    Aluna do colégio Bandeirantes mostra um dos comentários vazados do site da escola

    Além do cancelamento da suspensão do aluno do terceiro ano, os estudantes também cobravam um pedido de desculpas do colégio Bandeirantes esclarecendo que o site não havia sido "hackeado", e sim apresentava falhas.

    Em resposta ao protesto, o colégio promoveu uma assembleia nesta manhã entre os colegas de classe do estudante suspenso, o diretor-presidente da instituição, Mauro de Salles Aguiar, e alguns professores. O encontro durou cerca de três horas e reuniu aproximadamente 70 estudantes.

    De acordo com alunos escolhidos pela sala para serem os porta-vozes do grupo, a conversa foi satisfatória e democrática. "O Bandeirantes não foi malvado com ninguém, mas precisamos de um pedido de desculpas", afirmou uma estudante, que pedia também a anulação da suspensão de seu colega. "Ele não estava querendo praticar bullying com ninguém, estava só querendo nos alertar."

    APRENDIZADO

    Apesar da divulgação de informações pessoais, muitas vezes constrangedoras, não se via na porta do colégio estudantes caçoando de colegas. "Todo mundo foi afetado, então a galera está tendo uma boa noção de ética, sem zoar ninguém. Acabou gerando um sentimento de solidariedade", disse uma aluna.

    A doutora em educação na Unicamp Telma Vinha, que também participou da reunião desta manhã, explicou que os comentários que vazaram na internet são usados para fazer a avaliação pedagógica dos estudantes, mas reconheceu que houve exagero nas falas divulgadas.

    Em algumas mensagens, alunos eram descritos com adjetivos como "criança de filme de suspense", "muito sedutora" e "insuportável". Alguns comentários também divulgavam diagnósticos médicos.

    "Às vezes os professores se referem aos alunos nessas reuniões de maneira inadequada. Isso está sendo trabalhado com eles", afirma Telma.

    A especialista considerou "positiva" a postura adotada pelos estudantes. "Eles demonstraram muita maturidade nessa situação de crise. Foi uma aprendizagem para eles e para o colégio."

    Questionada se é favorável à manutenção da suspensão do aluno que enviou os vídeos pelo WhatsApp, Telma temporiza. "No calor das emoções, um professor pode falar algo em uma reunião de maneira inadequada, assim como esse aluno também divulgou o vídeo num momento impulsivo. Talvez não haveria suspensão, mas eu aplicaria alguma sanção pedagógica."

    Ao fim da reunião desta manhã, o colégio Bandeirantes indicou que irá reconsiderar a suspensão do aluno.

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