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    Dossiês sobre alunos vazaram após falha, admite colégio

    DE SÃO PAULO

    20/03/2015 02h00

    O colégio Bandeirantes, na zona sul de São Paulo, admitiu nesta quinta-feira (20) que o vazamento de dossiês sobre seus estudantes foi provocado por uma falha, e não por uma invasão de seu site.

    Conforme a Folha revelou, alunos tiveram acesso a atas de reuniões pedagógicas ocorridas entre 2007 e 2012.

    Os documentos contêm anotações sobre o comportamento e a fama de estudantes e ex-estudantes, além de dados médicos e familiares.

    O colégio informou que investiga se as informações estavam disponíveis por erro do sistema ou por má gestão.

    Danilo Verpa/Folhapress
    Alunos do colégio Bandeirantes protestam após vazamento de dossiês sobre alunos na internet
    Alunos do colégio Bandeirantes protestam após vazamento de dossiês sobre alunos na internet

    Inicialmente, a direção dizia apurar se um aluno do terceiro ano do ensino médio teria invadido o site da escola.

    Ele publicou vídeo ensinando a acessar os dados e foi suspenso por oito dias.

    Colegas fizeram protesto, vestindo roupas pretas, e conseguiram baixar a punição para quatro dias.

    O colégio rejeita a responsabilidade pela divulgação das informações e quer processar a família do jovem.

    Famílias que se sentiram lesadas têm se articulado e estudam entrar com uma ação coletiva contra a escola.

    Segundo uma mãe que não quis se identificar, sua filha, de 16 anos, deixou o Bandeirantes há dois anos e ainda assim ficou "abalada" com a exposição de dados íntimos.

    A adolescente faltou no colégio onde atualmente estuda. "O dano ninguém pode calcular agora. Como ela vai digerir isso, os efeitos daqui a dez anos, é difícil de dizer." A empresária afirmou que "está disposta" a aderir a uma eventual ação coletiva.

    CONVERSAS

    Nesta quinta (19), a direção se reuniu com os estudantes e com a professora de psicologia educacional da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Telma Vinha.

    "Às vezes, os professores se referem aos alunos de maneira inadequada. Isso está sendo trabalhado com eles", afirmou Vinha.

    Ela considerou o ato do estudante que compartilhou os vídeos "impulsivo" e contemporizou a punição. "Talvez eu aplicasse não suspensão, mas alguma sanção pedagógica", disse.

    Uma aluna do segundo ano do ensino médio reclamou do conteúdo das fichas: "Os professores comentaram que eu era sexualmente aflorada e usava muito decote".

    O advogado especialista em direito digital Dennys Antonialli diz que o episódio "serve para nos lembrar o quanto a privacidade não está adstrita ao mundo da publicidade on-line ou da espionagem. É muito mais que isso".

    Para ele, o colégio tem "parcela grande" de responsabilidade no vazamento e "culpar os alunos está longe de ser uma forma corajosa de enfrentar a questão".

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