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    Lotado, alojamento precário da UFRJ tem até infestação de rato

    LUIZA FRANCO
    DO RIO

    24/03/2015 02h00

    "Olha, se eu soubesse que estaria nesta situação, talvez não tivesse vindo." O arrependimento é do brasiliense Italo Ferreira, 23, aluno de farmácia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

    Ele é um dos mais de cem alunos da UFRJ que moram de modo precário no alojamento da universidade e sem autorização. É um "agregado", como os alunos chamam pessoas nessa situação.

    A UFRJ desconhece o número de moradores no alojamento, mas admite que a oferta de vagas não acompanha a quantidade de pessoas que se encaixam no perfil de auxílio moradia –cerca de 1.450 alunos.

    Atualmente, há 250 quartos com capacidade para uma pessoa. Um levantamento feito em 2014 pelos próprios moradores do alojamento apontou que havia 300 universitários, sendo 110 "oficiais" e 190 "agregados".

    Além de cheio, o edifício tem problemas de infraestrutura, como quartos sem porta, banheiros sem privada, infiltrações e, recentemente, uma infestação de ratos.

    A lotação se agravou nos últimos anos com o processo de expansão universitária e a adoção do Sisu (Sistema de Seleção Unificada), que facilita a inscrição de estudantes de outros Estados.

    Em 2010, os alunos de fora representavam 1% do corpo discente da graduação; hoje, são 22% dos 46.372.

    Italo é um dos mais recentes moradores do alojamento. Há menos de um mês, divide um quarto com dois amigos, também "agregados".

    Em 2014, ele chegou do Rio para cursar farmácia. No primeiro ano, recebeu uma bolsa de um ano de duração destinada a cotistas no valor de R$ 400. Usava R$ 350 para pagar o aluguel de um quarto perto da faculdade.Sem a bolsa em janeiro, ele bateu na porta do alojamento.

    No momento, Italo vive do dinheiro que sua mãe, funcionária de limpeza na rodoviária de Brasília, manda. Ela ganha um salário mínimo. "Ás vezes são R$ 50, às vezes, R$ 100", diz.

    "Quando você tem uma bolsa e ela acaba, você tem que esperar para tentar outra. Nesse intervalo, a gente fica sem ter como pagar moradia. Fica na rua mesmo", diz Hércules Pereira, 21, outro agregado.

    O ingresso no alojamento é decidido a cada semana em uma assembleia de moradores. Os alunos que querem ser agregados se apresentam e são acolhidos por quem tiver espaço no quarto.

    "Nós funcionamos como uma ocupação de fato. Nas assembleias, moradores e ocupantes têm a mesma voz", diz Nayara Diniz, 24, estudante de Serviço Social.

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