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    Ação de diretor eleva nota de escola pública em SP

    SABINE RIGHETTI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    19/04/2015 02h00

    No final de um corredor repleto de telas a óleo fica a sala de Wilson Neres de Andrade, 52. É de lá que, diante de uma parede vermelha, ele dirige a escola técnica estadual Tiquatira, na Penha (zona leste da capital). Telas e parede foram pintadas por ele mesmo. "Nem parece escola pública, né?", pergunta.

    No comando da escola desde 2010, um ano após ter sido criada, Andrade começou o que chama de "pequena revolução", usando festas, mutirões e doações para melhorar a estrutura do colégio.

    Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
    Wilson Andrade, diretor da escola técnica estadual Tiquatira, na Penha (zona leste de São Paulo)
    Wilson Andrade, diretor da escola técnica estadual Tiquatira, na Penha (zona leste de São Paulo)

    No começo, os alunos não queriam assistir aulas nem havia transporte público até o local. Hoje, com 1.200 estudantes, somando o ensino médio em período integral e os cursos técnicos (química, modelagem e comunicação visual), a escola está entre as 15 melhores técnicas públicas da capital.

    "Sigo à risca a teoria do vidro quebrado, que diz que se há algo danificado em um espaço a tendência é de depredação, enquanto o que está preservado será mantido", diz Andrade, que é artista plástico de formação.

    ENGAJAMENTO

    Na Tiquatira, há um kit com vassoura, pá e produtos de limpeza em cada sala. Para manutenções maiores, a escola convoca pais e alunos para mutirões aos finais de semana. As iniciativas foram suficientes para acabar com as pichações, por exemplo.

    Frequência, notas e o engajamento dos alunos melhoraram com o tempo. Foram eles quem, por conta própria, criaram um comitê para escolher o prestador do serviço de almoço na escola. O vencedor cobra R$ 8 pelo prato feito.

    Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
    Escola técnica estadual Tiquatira, na Penha
    Escola técnica estadual Tiquatira, na Penha

    O colégio recebe do governo estadual R$ 4.800 mensais para gastos com pequenas reformas. Como não basta, Andrade resolveu arrecadar dinheiro extra por meio de festas esporádicas para os alunos, aos finais de semana.

    Cada festa chega a render o mesmo montante que a escola recebe por mês do governo -tudo contabilizado no site da Tiquatira, que o próprio Andrade criou e alimenta.

    Para os laboratórios, cujos equipamentos mais caros são comprados anualmente pelo governo via licitação, a solução foi pedir doações. Andrade e alguns docentes saíram batendo de porta em porta.

    No laboratório de química, parte dos vidros veio da Ambev. "Fui com o meu carro pegá-los", conta o diretor.

    O laboratório ficou tão bom que a escola recebeu um selo de qualidade do CRQ (Conselho Regional de Química) -feito inédito entre escolas públicas técnicas na capital.

    SALTO NO ENEM

    Só em 2013 a Tiquatira formou a primeira turma que fez todo o ensino médio durante a gestão de Andrade. Nesse mesmo ano, a escola obteve 577 pontos no Enem -acima da média da rede estadual paulista (542), mas abaixo das privadas do Estado de São Paulo (594). De 2012 para 2013, avançou mais de 2.000 posições no ranking nacional do Enem.

    "Mas os melhores resultados virão daqui a uns anos, quando as turmas já tiverem iniciado na escola que temos hoje", projeta Andrade.

    E como os professores reagem ao se deparar com o modelo da escola? "Quem é bom fica. Quem não estava a fim de trabalhar sério pediu transferência", diz o diretor.

    Cerca de 10% do corpo docente da escola saiu em busca de melhores salários na rede privada -nas técnicas estaduais, o salário é de R$ 17,15 por hora. "Gostaria de ter autonomia para dar aumento para os melhores docentes", afirma Andrade.

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