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    Nas últimas horas do prazo do Fies, alunos cogitam até parar de estudar

    THAIS BILENKY
    DE SÃO PAULO

    30/04/2015 02h00

    Desempregado, Valdemir Duarte, 29, estava animado: começou a cursar fotografia na Fiam Faam e imaginava logo conseguir um trabalho. A inscrição no Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), do governo federal, caminhava bem. Até que, faltando 15 dias para acabar o prazo, ele descobriu no site que o processo tinha sido zerado.

    "Sempre trabalhei em armazém, sala fechada. Nunca me identifiquei. Agora que finalmente comecei a fazer o que gosto, sou barrado. O sentimento é de derrota", diz.

    Duas mensalidades estão pendentes, e a faculdade disse que esperaria até esta quinta (30) para acionar a Justiça. Esse é o prazo do governo para novas inscrições no Fies.

    "Não tenho opção. Acho que vou ter que trancar", lamentou Duarte. A situação se repete na porta de faculdades em todo o país.

    Mudanças anunciadas no fim do ano passado restringiram o acesso ao programa. O governo cortou repasses, limitou o reajuste de mensalidades e aumentou o rigor com a qualidade das instituições.

    Com isso, estudantes tiveram que contar com planos B ou até abrir mão dos planos.

    Samuel Costa/Folhapress
    O estudante Valdemir Duarte, 29, que está com duas mensalidades atrasadas e teve o cadastro no Fies zerado
    O estudante Valdemir Duarte, 29, que está com duas mensalidades atrasadas e teve o cadastro no Fies zerado

    Até terça (28), 249.954 novos contratos foram firmados no ano, segundo o Ministério da Educação. Em 2014, foram 732 mil. Ainda não há data de abertura do Fies no segundo semestre. Há 1,9 milhão de contratos ativos, dos quais 156.940 estão pendentes.

    O governo estendeu o prazo para quem pretende renovar o contrato até 29 de maio.

    Mas quem está na fila pela primeira vez não teve a mesma chance. Por isso, Anna Carolina Duarte, 23, acorda de madrugada, corre até o cartório para regularizar sua documentação, corre até a faculdade, corre contra o relógio para conseguir ficar no curso de direito que faz há três anos na FMU.

    Ela mora com a avó, aposentada. O dinheiro que seu pai, residente no exterior, mandava acabou. "A esperança é a última que morre. Mas a minha está quase morrendo", desabafou.

    E.T., que não quis ter o nome publicado, tem 27 anos. Quando terminou o ensino médio, na rede pública, teve que adiar o plano de cursar engenharia da computação por um problema de saúde.

    Tentou fazer a cirurgia pelo SUS, sem sucesso. Com dores, resolveu trabalhar com carteira assinada para ter um convênio de saúde.

    Conseguiu. Fez a operação e ficou liberado para estudar. Durante dois anos tentou o vestibular para uma universidade federal. Não deu.

    Passou na Fiap com bolsa do Prouni, programa que banca metade de sua mensalidade –a outra metade pretende pagar com o Fies.

    E.T frequenta as aulas desde o início do ano animado, mas "apreensivo". "Gostaria de já ser independente financeiramente", lamenta.

    Editoria de Arte/Folhapress

    As 2h30 de viagem de Itapecerica da Serra (Grande SP), onde mora, à faculdade, são gastas no site do Fies. "Vou tentar até 23h59."

    Lígia Tenório, 46, já se prepara para sacrificar os estudos pela filha. Ambas foram aprovadas na Uninove em enfermagem. A mãe conseguiu bolsa de 50% do Prouni, mas a filha, não. As duas estão na batalha do Fies.

    Se não conseguirem, a mãe diz que abandonará o curso. "Ela é prioridade. Já tenho 46 anos, é mais difícil entrar no mercado de trabalho", diz.

    O Ministério da Educação diz, em nota, monitorar o sistema para garantir pleno atendimento.

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