"Usem o jeitinho brasileiro para resolver os problemas (we ask for you to use that Brazilian method of creative problem solving)". Essa foi a resposta que estudantes brasileiros que estão nos Estados Unidos pelo programa Ciências sem Fronteiras receberam após reclamarem do atraso no pagamento de fundos de auxílio.
A mensagem foi enviada pelo Instituto de Educação Internacional (IIE, em inglês), parceiro da Capes/CNPq nos EUA. O valor pago aos estudantes é usado no auxílio das despesas de deslocamento e aluguel durante o estágio, que é feito pelos estudantes durante as férias escolares.
Muitos alunos vão estagiar ou participar de alguma pesquisa em cidades diferentes daquela em que têm as aulas. Por isso, o programa garante auxílio de U$ 1.064 (R$ 3.174,44) para deslocamento e instalação no novo lugar, U$ 270 (R$ 805,54) mensais para moradia –caso o aluno não consiga vaga em alojamento na faculdade– e U$ 300 (R$ 895,05) mensais para alimentação –caso o aluno não consiga plano de alimentação na faculdade.
Mas os estágios estão para começar e, segundo os estudantes ouvidos pela Folha, nada foi pago.
A Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) informou, em nota, que está em dia com todas as bolsas do Ciências sem Fronteiras e liberou na última quarta-feira (6) os recursos relativos ao pagamento das taxas e despesas das universidades.
"Esse email [do IIE] foi um deboche", disse Michell Germano, 20, estudante de meteorologia na UFPA e que está em Reno, no Estado americano de Nevada.
Ele conseguiu uma pesquisa com um professor na Universidade de Maryland, mas até agora não teve nem participação na pesquisa aprovada pelo IIE –o Instituto precisa aprovar os pedidos de estágio.
"O e-mail conseguiu piorar o que já estava ruim. O IIE pediu uma semana para aprovar os pedidos de estágio, depois pediu 15 dias úteis, depois 20 dias", disse Germano. Sem a aprovação, os estudantes não podem nem pedir o dinheiro dos auxílios.
Mas até quem está com o pedido aprovado, e o estágio para começar, ainda não recebeu a ajuda de custo. Um estudante que não quis se identificar afirmou que seu estágio começa no dia 17 de maio, no Estado americano de Illinois –ele mora atualmente em Ohio– e que vai precisar pedir dinheiro aos pais até receber o auxílio prometido.
Os estudantes contam que as bolsas da Capes estão em dia, mas que não há previsão para o pagamento do auxílio do IIE.
Além de pedir para que usassem o "jeitinho brasileiro", o e-mail do IIE recomenda que os estudantes economizem o dinheiro que recebem da Capes, peçam abrigo nas casas de amigos e que prolonguem a estadia na universidade de origem.
Para a Capes, a nota do IIE foi descabida. O próprio instituto já prestou esclarecimentos aos estudantes e pediu para que o texto fosse desconsiderado.