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    Curso de inglês na escola era ruim, diz aluno de medicina sem fluência

    THAIS BILENKY
    DE SÃO PAULO

    10/05/2015 02h00

    Roni Burlina, 21, quer fazer um intercâmbio de um ano na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, uma das mais prestigiadas do mundo.

    Ele cursa o terceiro ano da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, a melhor do país, segundo o Ranking Universitário Folha.

    O estudante pleiteará vaga no programa Ciência sem Fronteiras, mas tem um obstáculo à sua frente: o inglês.

    A falta de fluência no idioma tem sido uma preocupação da faculdade.

    Egresso da rede pública, Burlina diz que o curso na escola era "meia boca" e, por mais que entenda alguma coisa, "para falar, é difícil".

    Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
    Roni Burlina, 21, que tenta superar dificuldade no inglês para fazer intercâmbio nos EUA
    Roni Burlina, 21, que tenta superar dificuldade no inglês para fazer intercâmbio nos EUA

    O aspecto oral não foi testado pela Fuvest. Beneficiário do Inclusp, programa de inclusão da USP que concede bônus no vestibular, o estudante diz que gabaritou a parte de inglês da prova.

    "Era bem basiquinho. Os enunciados são em inglês, mas as perguntas e as respostas, em português", lembra.

    A seleção de Harvard será mais difícil. Professores da universidade virão ao Brasil para entrevistar os quase 30 candidatos da faculdade e selecionarão apenas dez.

    Roni se prepara como pode. Faz curso de inglês on-line, pede as cartas de apresentação de veteranos para usar como referência e treina a parte oral com amigos.

    Seu colega do quarto ano e igualmente beneficiário do Inclusp, Warley Izumi, 23, está com outro foco.

    Ele quer se graduar e começar a atuar como cirurgião. "Não quero seguir carreira muito científica", conta o estudante. "Minha especialização é praticamente técnica, menos teórica."

    Warley fez o ensino fundamental em escola particular e o ensino médio na pública. Em ambas estudou inglês e diz que se vira. Quando tem algum termo técnico que não entende, "é só jogar no dicionário", afirma. Estudar além disso não é de seu interesse.

    GOOGLE TRADUTOR

    Quando estudantes que não se dedicam a estudar inglês para fins científicos decidem publicar artigos na "Revista de Medicina" da USP, os editores da publicação dizem que percebem rapidamente.

    Gustavo Gameiro, 19, e Klára Winstanley, 19, dizem que os textos parecem saídos do Google Tradutor. As frases nem sempre têm coerência ou objetividade.

    A procura pela disciplina optativa de redação de artigos científicos em inglês, "infelizmente, não é tão grande", diz Gustavo.

    O resultado é a recusa frequente de artigos pela revista. "Você acaba perdendo trabalhos muito bons, porque não tinham o padrão da linguagem, ainda que tivessem [dentro do padrão] no conteúdo", diz o professor Luiz Fernando Silva, membro do conselho consultivo da revista.

    "A pesquisa começa na ideia e termina na publicação", diz Silva. O médico que não conseguir publicar em revistas respeitadas dificilmente será chamado para congressos e pode ficar apartado da comunidade científica internacional, diz.

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